'Cresce Ceará' foi um evento de boas notícias para o agro e a indústria

É possível quintuplicar as exportações da agricultura cearense por meio da irrigação. O BNB tem crédito para financiar os projetos e Pecém garante a infraestrutura

Escrito por
Egidio Serpa egidiio.serpa@svm.com.br
(Atualizado às 07:01)
Legenda: O painel do agro no "Cresce Ceará", conduzido por este colunista, revelou um futuro muito promissor para as exportações cearenses
Foto: LC Moreira / SVM
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Um raio-X do painel sobre o agro da segunda edição do “Cresce Ceará”  – evento que o Sistema Verdes Mares promoveu ontem, quarta-feira, 3, no BS Besign, juntando industriais e agropecuaristas para um debate sobre os desafios e as oportunidades do comércio exterior diante do novo cenário da geopolítica global – revelou que 1) os empresários cearense do setor prometem investir mais na tecnologia, para produzir mais com menos, e na inovação, para desenvolver novos produtos; 2) o Banco do Nordeste (BNB) dispõe de linhas de crédito “ouvindo a conversa” para financiar, por exemplo, o projeto que quer transformar o Ceará em um polo produtor de algodão e de café; e 3) o Complexo Industrial e Portuário do Pecém, incluindo a ZPE, está investindo mais de R$ 1,5 bilhão na nova ampliação do seu porto, que passará a receber, em 2027, os trilhos, os trens e as cargas da Ferrovia Transnordestina e, ainda, os Data Centers. 

O presidente da Federação da Agricultura (Faec), Amílcar Silveira, os empresários Cristiano Maia, maior criador de camarão do país, e Luiz Roberto Barcelos, fundador da Agrícola Famosa e hoje consultor de empresas e, também, produtor de soja no estado de Goiás, e mais Luís Sérgio Machado, superintendente-geral do Agronegócio e Agricultura Familiar do BNB, e André Magalhães, diretor Comercial da Companhia de Desenvolvimento do Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP S/A), cada um a seu tempo, apostaram todas as suas fichas no que chamaram de “um futuro próximo muito promissor” do setor primário da economia do Ceará. Vamos por partes, como recomendam os esquartejadores. 

Amílcar Silveira abriu o debate reafirmando que a Faec tem, “e vai perseguir com unhas e dentes”, o projeto de quintuplicar as exportações do agro cearense até 2030, para o que trabalha, em parceria com o governador Elmano de Freitas, para assumir a gestão de pelo menos dois perímetros irrigados hoje administrados pelo Dnocs – o do Baixo Acaraú e o do Tabuleiros de Russas.  

“Temos 14 perímetros de irrigação, dos quais apenas quatro produzem, e assim mesmo de modo ineficiente”, disse ele, acrescentando que a ideia é cultivar neles produtos de maior valor agregado voltados para os mercados interno e externo, o que multiplicará a renda dos produtores”. 

Cristiano Maia disse que sua empresa, a Samaria Camarões, já exportou para os EUA e a Europa. Essa exportação foi interrompida por várias causas, uma das quais é a seguinte:  

“O mercado brasileiro consome tudo o que nós produzimos e a preço melhor do que o dos EUA e o dos europeus”, disse ele. 

 Presidente da Camarão BR, entidade que reúne os 15 maiores carcinicultores do Brasil, os quais produzem o corresponde a 60% de todo o camarão produzido no Brasil, Cristiano Maia aguarda que o Ministério da Agricultura cumpra algumas condições que o governo do Reino Unido impôs para que volte a importar o camarão brasileiro, 98% do qual tem origem no Nordeste, mais precisamente no Ceará, Rio Grande do Norte e Piauí. 

Luiz Roberto Barcelos contou a história de como nasceu a Agrícola Famosa, cuja fazenda de produção ocupa a geografia dos municípios de Icapuí, no Ceará, e Mossoró, no Rio Grande do Norte. Depois, disse que, no solo cearense, em se plantando, tudo dá, porque tem solo e clima que se adaptam a todas as culturas, inclusive a do café. 

Barcelos fez uma advertência: a agricultura moderna tem de ser irrigada e, para isso, exige água e energia elétrica. Quanto à água, o Ceará está bem servido com seus aquíferos e com o Projeto São Francisco de Integração de Bacias, mas a energia ainda é um grave gargalo até agora não superado, tendo até se agravado em algumas regiões.  

Por sua vez, Luís Sérgio Magalhães assegurou que o BNB dispõe de linhas de crédito para atender a todos os setores do agro e, também, para a geração de energias eólica e solar.  

Ele informou: 70% dos recursos do agro e 78% dos destinados à Agricultura Familiar são financiados pelo BNB. Em seguida, surpreendendo o auditório, deu um conselho oportuno aos agropecuaristas cearenses: 

“Vocês precisam diversificar sua produção para alcançar o mercado exterior. E precisam, também, reconverter seu sistema de irrigação, que necessita de aperfeiçoamento para produzir mais com menos água”, algo que empresas agrícolas modernas já o fazem, como a Agrícola famosa, a Itaueira Agropecuária, a Fazenda Nova Agro, a Nordeste Vegetais, o Sítio Barreiras e os pequenos produtos da Univale, no Vale do Jaguaribe.  

Fechando o debate, André Magalhães, que representa o Porto de Roterdã na diretoria da CIPP S/A, informou que sua empresa está a investir hoje R$ 1,5 bilhão na nova ampliação do Porto do Pecém, que ganhará mais dois berços de atracação no Terminal de Múltiplo Uso, que está sendo estendido em direção Oeste. Um desses dois novos berços servirá à carga e à descarga das mercadorias a serem transportadas pelos trens da Ferrovia Transnordestina, cujos trilhos chegarão lá em meados de 2027. Investimento de tal monta, revelou Magalhães, é feito com recursos da própria CIPP S/A, com aval do seu sócio holandês e do governo do Ceará. 

Antes da apresentação dos painéis da indústria e do agro, a segunda edição do “Cresce Ceará” teve palavras do diretor Comercial do Sistema Verdes Mares, Alexandre Guimarães, da superintendente do BNB no Ceará, Eliane Brasil, e da secretária de Relações Internacionais do governo do estado, Roseane Medeiros. Os três ressaltaram o poder de criação do empreendedor cearense, tendo Roseana Medeiros feito referência ao tarifaço, que ainda castiga os setores de calçados, pescados, coco e melão, mas mitigado pelo esforço conjunto dos empresários e do governo estadual na busca por novos mercados. 

Também compareceram ao evento os empresários Carlos Prado, vice-presidente da Federação das Indústrias do Ceará (Fiec), e José Antunes Mota, agroindustrial e presidente do Sindicato da Indústria de Lacticínios do Ceará.

Resumindo: a segunda edição do “Cresce Ceará” superou todas as melhores expectativas, a começar pelo primeiro painel, que tratou do setor industrial, com casos de sucesso de empresas cearenses pouco conhecidas e que já têm faturamento anual de R$ 1 bilhão com exportações para a China e importações da China. 

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