Projeto de doação de alimentos incentiva economia do comércio local no Serviluz
Em 2020, 33 famílias foram beneficiadas. Neste ano, a expectativa é que sejam 60
São muitos os efeitos da crise imposta pela Covid-19. Um deles é o econômico, que consequentemente afeta a segurança alimentar dos menos favorecidos. No bairro Serviluz, em Fortaleza, a vulnerabilidade de pessoas da comunidade levou à criação do projeto “ei, budega!”, que até dezembro de 2020 beneficiou 33 famílias com R$ 100 mensais em compras no mercadinho do bairro. Neste ano, o projeto almeja alcançar 60 famílias.
A motivação para que o Instituto Trêsmares desenvolvesse essa campanha, segundo explica sua diretora, Luiza Barbosa, foi o número de desempregos que a pandemia trouxe para o Serviluz, “o que acabou dificultando o acesso à comida na mesa dessas pessoas”.
Ela conta que embora a instituição já atuasse no bairro, foi a primeira vez que eles trabalharam com o aspecto assistencial - com doações. Isso ocorreu devido ao nível de urgência que a fome instaurou.
O formato do “ei, budega!”, de ser a partir de cupons de R$ 100, com as famílias comprando no mercadinho do bairro, advém da forma de atuação do instituto, que parte de uma psicologia emancipadora.
“A lógica comum da cesta básica, de ser uma lista de13 itens em que a pessoa não tem a liberdade de escolher quais são eles, onde o outro que considera o que a população vai receber, nos incomodava. Por isso, pensamos em transformar a doação alimentar em algo autônomo”, detalha Luiza.
Por isso, o projeto trabalha com cupons disponíveis para as famílias no comércio local. Dessa forma, a iniciativa consegue alimentar os moradores e fazer a economia circular. “Assim, contribuímos para que a renda volte para o bairro, porque sabemos que os pequenos comércios estão sendo muito prejudicados nessa época de pandemia”, finaliza.
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Os beneficiados
As 33 famílias beneficiadas com o “ei, budega!”, inicialmente, eram aquelas já atendidas pelo instituto. Com o aumento da demanda, foi feito um mapeamento que identificou outros grupos vulneráveis para receberem o auxílio, como idosos, mulheres com filhos, mulheres chefes de família.
Nesta estatística, está Carleide de Sousa. Com 37 anos, ela é mãe de três filhos. Dois deles participavam das outras ações do Instituto Trêsmares. Cozinheira e dona de uma marmitaria, ela passou a ser a provedora do lar após seu marido ser demitido na pandemia.
“Eu fiquei trabalhando, para poder pagar tudo. Eu tive que pagar o aluguel da nossa casa, do ponto que eu trabalho, que é uma marmitariazinha pequena. E também a faculdade do meu filho, o aluguel dele, além de outras contas, como água, energia, comida", afirma.
E completou: "Então, ficou muito pesado para mim, eu trabalhava da manhã à meia-noite, todos os dias. Porque se se eu não trabalhasse assim, eu não daria conta de tudo. Eu precisei me submeter a isso para suprir com todas as necessidades”, afirma.
No entanto, com as medidas de isolamento necessários na pandemia, o número de clientes do negócio de Carleide diminui. Foi nesse momento que o “ei, budega!” foi essencial para ela.
“Eu, como várias outras mães, fomos beneficiadas por ser mãe de crianças que já participavam do instituto, e tenho muito a agradecer a todos que estão envolvidos nele, pois foi uma grande ajuda nessa pandemia. Tem várias mães que estão desesperadas e precisando e, como mães, fazemos o possível por nossos filhos tenham o que comer. Essa iniciativa é uma alegria para a vida da gente. Até me emociona em falar”, conclui.
Segundo Carleide, por diversas vezes ela doou alimentos que vinham em sua cesta para outras mães que estavam precisando também e que não foram atingidas pelo “ei, budega!”. Ela explica que faz isso porque “é triste demais ver os pais tendo que pedir 1kg de arroz e de feijão para que seus filhos não passem fome em casa”.
Economia circular
A diretora do Trêsmares explica que os valores mensais de cada beneficiado é pago diretamente a Marcos Melo, dono do comércio local credenciado no projeto. Assim, ele fica responsável pela entrega dos pedidos, controle da lista e consumo dos beneficiados.
Marcos relata que assumiu a posição de comerciante como consequência da pandemia. “Estava em fase final de um processo seletivo, prestes a voltar ao mercado formal, então, veio o lockdown. Vi a oportunidade de empreender e continuar garantindo o recurso necessário para minha família”, diz.
Por participar das atividades da associação de moradores do Titanzinho, que tem parceria com o Instituto Trêsmares, ele descobriu o projeto “ei, budega!”, que busca garantir segurança alimentar às famílias da comunidade, associado à movimentação do comércio local.
“O instituto faz campanha de arrecadação de doações. Com o que se consegue, listamos as famílias cadastradas e trocamos contato entre nosso comércio e eles. A partir desse contato, eles sinalizam o que vão querer e eu levo até suas casas”, explica.
O comerciante destaca que as compras são selecionadas e enviadas com segurança, seguindo os protocolos de saúde indicados como uso de máscara, higienização constante, uso de álcool em gel e distanciamento na entrega. Dessa forma, segundo ele, todos são atendidos da forma que precisam.
Como doar
Transferência com chave Pix:
Número do CNPJ do Instituto Trêsmares: 34.681.408/0001-98.
Transferência bancária:
- Nome: Instituto Tresmares
- CNPJ: 34.681.408/0001-98
- Bradesco
- Agência: 564-9
- Conta: 30405-0
Caso prefira fazer a doação de outra forma, é possível entrar em contato direto com os responsáveis.