Tadalafila, remédio para disfunção erétil, triplica vendas no CE em meio a uso em academias; veja riscos
Sem comprovação científica, homens jovens utilizam comprimidos sob promessa de melhorar performance nos treinos

Um medicamento destinado ao tratamento da disfunção erétil em homens tem ganhado repercussão nas redes sociais (e também fora delas). A tadalafila vem sendo atrelada à prática de exercícios físicos por, supostamente, contribuir para os ganhos de desempenho, embora não haja evidências científicas disso. Em paralelo, as vendas – que deveriam ser feitas com receita médica – triplicaram nos últimos cinco anos, no Ceará.
Segundo levantamento da Associação Brasileira das Indústrias de Medicamentos Genéricos e Biossimilares (PróGenéricos) feito a pedido do Diário do Nordeste, a aquisição de tadalafila no Estado passou de quase 500 mil caixas, em 2020, para cerca de 1,5 milhão, no ano passado. Veja a série:
- 2020 - 478.056
- 2021 - 559.516
- 2022 - 690.178
- 2023 - 981.357
- 2024 - 1.461.155
Agindo como vasodilatador, o tadalafila ajuda no tratamento da dificuldade de obtenção e/ou manutenção da ereção do pênis ao aumentar o fluxo de sangue no órgão. Assim, homens com disfunção erétil (também conhecida como impotência) podem obter e manter uma ereção satisfatória para a atividade sexual.
Contudo, vale ressaltar: o homem não tem ereção apenas por tomar um comprimido de tadalafila. Para o medicamento funcionar, é necessário haver desejo e excitação sexual. Essa exigência é um dos motivos que explicam sua popularização em academias, aliada ao preço baixo (a caixa com 30 comprimidos chega a ser vendida por R$25).
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Um professor cearense de 35 anos, que prefere não ser identificado, conta que iniciou o uso da tadalafila por indicação de um colega fisiculturista. Segundo esse amigo, o remédio (na versão com menos miligramas) iria “dar um ânimo a mais no momento do treino”, bem como ajudar na vasodilatação.
As vantagens, porém, não foram sentidas durante a prática. “Nunca percebi os benefícios que me foram ‘prometidos’ e, depois de três meses, em 2024, parei de fazer o uso”, relata. “Eu não sentia nada, na real. Cafeína é muito mais eficaz”.
Nas redes sociais, centenas de comentários relatam aumento do consumo da “tadala”, como foi apelidada, entre o público mais jovem frequentador de academias. “Dia desses, estava no vestiário e tinha um grupo de 16 anos falando as experiências de tomar tadala misturado com pré-treino pra ir malhar”, escreveu uma pessoa.
O uso também virou meme e rende várias piadas. Contudo, também há relatos de pessoas que tomaram o medicamento sem saber, ao compartilhar shakes com colegas, e outras que se sentem “culpadas” por tomarem porque, mesmo contra a própria vontade, “tá todo mundo acreditando”.
Para tirar as dúvidas sobre os efeitos, as indicações e contraindicações da tadalafila, o Diário do Nordeste conversou com o médico urologista Caio Milfont Quental, especialista em saúde masculina.
O que é tadalafila?
Tadalafila e sildenafila, conhecidos comercialmente como Cialis e Viagra, respectivamente, são inibidores da fosfodiesterase tipo 5. Essa enzima está presente no corpo cavernoso do pênis e no pulmão e ajuda a regular vários processos fisiológicos.
Hoje, os dois medicamentos são a terapia oral mais utilizada para disfunção erétil no país, segundo a Associação Médica Brasileira (AMB), e atuam promovendo o relaxamento da célula muscular do tecido cavernoso, condição necessária para a ereção.

Para que serve e como funciona o tadalafila?
Os dois medicamentos foram inicialmente criados para tratar a hipertensão, mas observaram-se efeitos benéficos na ereção dos pacientes. “Hoje em dia, além da disfunção erétil, também podem ser usados no tratamento da Hipertensão Arterial Pulmonar (HAP) e nos pacientes com Hiperplasia Prostática Benigna (HPB)”, explica Caio.
A HAP é uma condição rara, mas séria, que dificulta o bombeamento de sangue através dos pulmões. A tadalafila relaxa os vasos sanguíneos nos pulmões e ajuda a reduzir a pressão arterial pulmonar.
Já a HPB apresenta sintomas como dificuldade ou necessidade frequente de urinar e incapacidade de esvaziar completamente a bexiga. O medicamento é capaz de relaxar os músculos da próstata e da bexiga.
Quem pode tomar tadalafila?
Segundo Quental, não existe padronização da idade para uso. Contudo, se tratando especificamente de disfunção erétil, não há recomendação para pacientes com idade inferior a 18 anos.
Para pacientes maiores de 65 anos, deve-se avaliar ajustes de dose devido ao risco de hipotensão (pressão baixa).
Qual é melhor: sildenafila ou tadalafila?
As duas medicações agem da mesma forma e estimulam a ereção. A grande diferença entre elas é o tempo até o início da ação, assim como a duração do efeito.
Que horas tomar tadalafila?
O tadalafila tem sua ação iniciada, aproximadamente, 2 horas após ingestão do comprimido. Já o sildenafila, mais conhecido como Viagra ou “azulzinho”, tem pico em torno de 40 minutos a 1 hora após ingerido.
A bula do medicamento descreve que a dose máxima diária recomendada de tadalafila é 20mg, tomado antes da relação sexual e independente das refeições.
Quanto tempo dura o efeito da tadalafila?
O efeito da tadalafila dura, em média, 36 horas. Segundo o médico, essa pode ser uma vantagem quando o paciente desconhece quando terá a relação sexual. Por isso, é popularmente conhecida como “pílula do fim de semana”.
Por outro lado, o Viagra tem ação mais rápida e dura por volta de 6 a 8 horas no organismo.
Qual é o efeito da tadalafila no corpo feminino?
Com exceção do uso nas pacientes com Hipertensão Arterial Pulminar, não há indicação formal para o uso em pacientes do sexo feminino. “Porém, há estudos iniciais que mostram efeitos benéficos para mulheres com disfunções sexuais, podendo causar melhor fluxo de sangue para o clítoris e melhor lubrificação”, explica Caio Quental.
Quais os riscos de tomar tadalafila?
Para pacientes sem indicação, alerta o urologista, o uso contínuo por meses ou anos pode causar o aparecimento de disfunção sexual, além do desenvolvimento de tolerância à medicação e dependência psicológica do fármaco.
“Ou seja, o paciente passa a achar que só vai conseguir ter uma boa performance na relação se tomar o comprimido. Porém, não há um tempo definido para o aparecimento desses malefícios”, afirma.
A bula do medicamento também recomenda cuidado com a administração a pacientes alérgicos, com problemas cardíacos, pressão baixa ou pressão alta não controlada, problemas de fígado ou rins, problemas de sangramento e condições que predispõem ao priapismo (ereção com mais de quatro horas), dentre outros fatores.

Tadalafila ajuda na academia?
O urologista explica que o uso propagado entre praticantes de musculação se baseia na crença de que a vasodilatação causada pela medicação melhora o fluxo de sangue e nutrientes para os músculos, favorecendo a hipertrofia.
“Porém, não há nenhuma indicação formal para o uso como pré-treino’, além de causar malefícios ao longo prazo”, adverte.
Tadalafila causa dependência?
Quental garante que a medicação não causa dependência orgânica, ou seja, que possa causar abstinência na sua retirada, como acontece com o álcool, cigarro e outras drogas.
Contudo, pode causar dependência psicológica, fazendo com que o paciente acredite que só terá uma ereção boa e duradoura se tomar a medicação.
Jovens podem usar tadalafila?
O urologista informa que grande parte dos pacientes que usam tadalafila na juventude não têm indicação e, normalmente, usam pelo medo de ter uma performance ruim ou decepcionar a parceria.
“Acha-se que o ato de ‘brochar’ é raro, mas falhar na ‘hora H’ é mais comum do que se imagina. Pelo menos 1 em cada 4 homens com menos de 40 anos apresenta algum grau de disfunção erétil, e não significa que deve-se tomar medicação desde a primeira vez em que há uma perda de ereção”, ressalta.
Segundo Caio Quental, a automedicação sem prescrição, na população jovem, pode desencadear tolerância à medicação e dependência psicológica futuramente.