De losartana à tadalafila: veja lista dos medicamentos genéricos mais vendidos em 2023
Estado comercializou quase 62 milhões de unidades do produto no ano passado
O uso de medicamentos genéricos segue em alta em todo o Ceará. Somente em 2023, foram vendidas mais de 61,8 milhões de unidades desse tipo de fármaco no Estado, um aumento de 2,84% em relação ao ano anterior.
Os dados foram divulgados na última semana e fazem parte de um levantamento da Associação Brasileira das Indústrias de Medicamentos Genéricos e Biossimilares (PróGenéricos). Os resultados indicam que o Ceará correspondeu, em 2023, a 3,12% do mercado consumidor desse tipo de medicação no Brasil.
No sábado (10), a legislação que regulamentou os medicamentos genéricos no Brasil completou 25 anos. Foi através da lei 9.787/1999 que ficou viabilizado que empresas farmacêuticas pudessem produzir e vender medicações que têm patentes expiradas. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) é quem determina as regras dos fármacos.
A PróGenéricos divulgou ainda a lista dos genéricos mais prescritos e mais vendidos no Ceará em 2023, com destaque absoluto para remédios utilizados para o controle da hipertensão, como a losartana potássica.
- Genéricos para o tratamento da hipertensão: 12.513.777 unidades vendidas (+ 8,97% em relação a 2022);
- Genéricos antidepressivos: 2.786.833 unidades vendidas (+ 22,67% em relação a 2022);
- Genéricos para o tratamento do colesterol: 2.596.260 unidades vendidas (+ 13,42% em relação a 2022);
- Genéricos ansiolíticos: 1.851.794 (- 2,26% em relação a 2022).
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Em todo o Brasil, a lista dos medicamentos mais vendidos inclui, além da losartana, o analgésico dipirona e os estimulantes sexuais sildenafila e tadalafila. No País, o aumento da comercialização de genéricos em 2023 em relação ao ano anterior chegou a 5%.
Posição | Genérico | Equivalente de marca |
1ª | Losartana Potássica | Cozaar |
2ª | Dipirona Sódica | Novalgina |
3ª | Hidroclorotiazida | Diurix |
4ª | Nimesulida | Nisulid |
5ª | Enalapril | Renitec |
6ª | Sildenafila | Viagra |
7ª | Atenolol | Atenol |
8ª | Simeticona | Luftal |
9ª | Tadalafila | Cialis |
10ª | Sinvastatina | Zocor |
Essa foi a quantidade de medicamentos genéricos vendida em todo o Brasil em 2023.
Normas e vantagens
O medicamento genérico tem bases definidas na legislação, e é regulamentado e fiscalizado feita pela Anvisa. Na determinação, o remédio é inspirado em outro, chamado de "referência", e é a partir dele que será feito a medicação que chega às farmácias com o nome do princípio ativo.
"Genérico é aquele que contém o(s) mesmo(s) princípio(s) ativo(s), na mesma dose e forma farmacêutica, é administrado pela mesma via e com a mesma posologia e indicação terapêutica do medicamento de referência, apresentando eficácia e segurança equivalentes à do medicamento de referência e podendo, com este, ser intercambiável, ou seja, ter a segura substituição do medicamento de referência pelo seu genérico", define a agência.
Exemplificando: a dipirona sódica, vendida pelas farmácias em diferentes miligramas, tem como medicamento de referência a Novalgina, do laboratório Sanofi. Com isso, a dipirona tem composição e eficácia equivalentes ao fármaco em que é inspirada, e pode ser utilizada no lugar do remédio de marca.
A legislação ainda determina que os genéricos devem ser, no mínimo, 35% mais baratos do que as medicações de marca. De acordo com o PróGenéricos, no entanto, a diferença de preços entre os fármacos, em média, é de 67% no Brasil. Com isso, diversos consumidores optam pelos genéricos, mantendo a eficácia, mas apostando na economia.
É o caso da engenheira de alimentos Patrícia Ferreira, que usa cinco medicações de uso contínuo, mas também utiliza outros tipos de medicamentos, preferencialmente genéricos. Segundo ela, a principal vantagem é o preço baixo em comparação com os demais produtos de marca.
Geralmente compro o que estiver com menor valor, independente de ser de marca ou genérico, mas os genéricos são muito mais baratos, sem comparação de marca. Alguns médicos passaram a receita do genérico direto, já com outros precisei pedir porque me indicaram uma marca específica. Os médicos que me atendem não são contra os genéricos, indicam sem problemas.
Situação similar acontece com a gestora de projetos Géssica Dias. Diferentemente da engenharia de alimentos, que usa continuamente algumas medicações, Géssica utiliza os remédios esporadicamente, mas tende a optar geralmente pelos genéricos pela economia.
"Nunca tive muito o perfil de usar muito o medicamento de marca. Faço uso esporádico, não preciso de medicamentos de uso contínuo. Não uso só genéricos, mas preferencialmente. Acho o preço dos genéricos muito melhor, muito mais barato. Os médicos nunca recomendaram não tomar o genérico", explica.
Economia com qualidade
A percepção das duas consumidoras segue uma tendência criada no mercado de medicamentos que, em um primeiro momento, incomodou as grandes farmacêuticas. O economista e professor da Universidade de Fortaleza (Unifor), Ricardo Coimbra, relembra que os genéricos estimularam a concorrência e, consequentemente, derrubaram os preços dos remédios.
"Gerou concorrência no mercado à medida que se pode produzir um remédio desenvolvido por uma determinada marca, que no determinado momento teve uma patente e ela deixou de existir. A partir do momento que outros laboratórios tenham a potencialidade de produzir o remédio em função de não ter mais o custo de investimento no desenvolvimento daquele produto, consegue muitas vezes trabalhar um preço diferente, e dependendo do produto, pode variar ter muitos descontos", argumenta.
Você abre a possibilidade de algumas pessoas que muitas vezes não têm condição de comprar o remédio de marca e deixam de tomar o medicamento, podendo prejudicar a saúde. A partir do momento que você tem a possibilidade do acesso ao medicamento mais barato, movimenta a economia e possibilita as pessoas terem o acesso ao medicamento.
O diretor do Sindicato do Comércio Varejista de Produtos Farmacêuticos de Estado do Ceará (Sincofarma-CE), Maurício Filizola, destaca que o fim das patentes para a produção de genéricos possibilitou o próprio desenvolvimento da indústria do gênero, além de medidas governamentais que auxiliam no barateamento dos remédios.
"Um fator que ajuda é o grande número de fabricantes de medicamentos genéricos; na saúde pública, a prescrição é feita pela denominação genérica. Cada vez mais a população vem acreditando e consumindo medicamentos genéricos e outro fator que contribui é o Programa Farmácia Popular que a maioria das dispensações e vendas são de genéricos, cuja tendencia a cada ano é de crescimento", diz.
O uso cada vez maior de medicações impacta diretamente no crescimento da própria indústria farmacêutica. Ricardo Coimbra atribui ao consumo crescente de remédios, sejam genéricos ou não, à abertura de diversas farmácias nos últimos anos.
"Tem dados que mostram esse crescimento contínuo da comercialização de medicamentos, tanto que ao longo dos anos mais recentes, a gente observa um crescimento muito significativo do surgimento de novos pontos de venda de remédio, e não só de novas redes de farmácias, mas também as grandes redes de farmácia abrindo novos pontos de venda continuadamente, o que significa dizer que está tendo um crescimento de demanda", associa o professor da Unifor.
"Cópias perfeitas" mais acessíveis
A professora doutora do curso de Farmácia da Universidade Federal do Ceará (UFC), Miriam Parente, traz detalhes acerca da produção dos genéricos, criados para serem "cópias perfeitas" dos medicamentos de referência e com custo reduzido em relação às marcas.
"Eles são produzidos a partir de informações pré-existentes, sendo desnecessárias pesquisas sobre a descoberta e os efeitos dos princípios ativos, uma vez que estes já se encontram no mercado. Os genéricos estão dispensados de realização de ensaios pré-clínicos e clínicos, essenciais no desenvolvimento de novos medicamentos, mas os genéricos precisam passar por testes de bioequivalência e biodisponibilidade e só podem ser produzidos após o vencimento da patente do medicamento original", expõe.
Com eficácia e eficiência bastante similares às medicações de marca, os genéricos são importantes para ampliar o acesso aos remédio por parte da população, como observa Miriam Parente, que elenca motivos que auxiliam na procura por esse tipo de medicamento.
A primeira razão é que os usuários passam a ter condições financeiras de adquirir seu medicamento; a segunda impacta no serviço público de saúde, que pode fazer a aquisição de um maior número de fármacos para disponibilizar nos seus pontos de atenção à saúde. O consumidor tem direito a conhecer os medicamentos genéricos e ter acesso a eles, pois o genérico pode substituir o medicamento de marca com garantia do mesmo efeito terapêutico, por um preço muito menor.
Apesar disso, a professora alerta que o barateamento de diversos tipos de medicação com os genéricos aumenta os riscos de automedicação, seja para remédios que necessitem de prescrição médica ou não, criando um grave problema de saúde pública.
"Ao se automedicar a pessoa ingere uma substância sem saber qual será a real consequência para o organismo, visto que qualquer medicamento só deve ser consumido após corretos diagnóstico, prescrição e acompanhamento. A automedicação no Brasil é um problema de saúde pública, e só tende a aumentar com o envelhecimento da população e a dificuldade de acesso à saúde. O uso inadequado de medicamentos só gera danos a saúde da população e também gastos extras governamentais. Sem dúvida, o medicamento genérico, devido ter um preço mais acessível, facilita um consumo por automedicação", analisa Miriam Parente.