Futura secretária de Saúde, Socorro Martins irá priorizar organização financeira e doenças crônicas
A médica retorna ao comando da pasta em 2025 em meio a crise de assistência à população
Lidar com o sistema municipal de saúde de uma cidade com 2,4 milhões de habitantes será o novo desafio da médica Socorro Martins, escolhida para ser secretária da Saúde na gestão do prefeito eleito Evandro Leitão (PT), a partir de 2025. As principais urgências da gestora serão focadas na interação entre Estado e Prefeitura, afim de uma reorganização estrutural e financeira da Atenção Primária, responsabilidade do Município, e principal porta de entrada do Sistema Único de Saúde (SUS) e a quem a população recorre primeiro.
Além disso, em entrevista ao Diário do Nordeste, na última quarta-feira (11), ela afirmou que também irá priorizar temas como saúde mental, prevenção de doenças e envelhecimento e admitiu que “está se inteirando” sobre a situação atual da saúde do município, incluindo o cenário de contratos e processos, com apoio da equipe de transição do novo governo.
Socorro Martins assumirá a Pasta em meio a uma crise no fim da gestão de José Sarto, marcada por denúncias de falta de insumos e medicamentos em hospitais, atrasos no pagamento de profissionais e fornecedores e até da paralisação de ambulâncias do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).
“Está difícil? Está. Está complicado? Está. Tem muitos desafios? Tem. Mas a gente precisa saber também as causas do que aconteceu, da deficiência, da dificuldade, da assistência propriamente dita”, declarou, afirmando já ter agenda com coordenadores e o atual secretário, Galeno Taumaturgo.
A população está sofrendo lá na ponta, nos serviços mais simples está faltando insumos, a gente precisa saber como resolver isso.
Veja também
Recursos financeiros
A secretária, que já esteve à frente da Saúde municipal na primeira gestão de Roberto Cláudio, entre 2013 e 2016, afirma saber da necessidade maior de recursos necessários para fechar as contas do sistema de saúde.
Contudo, ela acredita que o alinhamento das gestões municipal, estadual e federal, todas governadas pelo PT, abre maior possibilidade de apoio e aportes para custeio.
“Estamos mais integrados e isso é uma coisa positiva. Já conversei com a secretária estadual (Tânia Coelho) para que a gente possa estar juntas para resolver problemas, porque problema nosso é dela, e problema dela é nosso também. Que a gente possa contribuir para ter esse sistema mais organizado e melhor, com as respostas que a população precisa”, finaliza.
Doenças crônicas
Para ela, além da organização financeira e institucional, é preciso pensar na Atenção Primária para se ter uma visão mais aprofundada do cidadão e suas doenças de base, do relacionamento familiar e do relacionamento com os territórios.
“Se ele é diabético, hipertenso, que ele vá lá no posto de saúde. E se ele precisar em algum momento de intercorrência, que possa ir para uma UPA, para um hospital de porta aberta, que possa resolver o problema dele e devolver para a atenção primária novamente para dar continuidade ao seu tratamento”, ressalta.
Segundo a especialista, o sistema de saúde ainda é focado na resolução de condições agudas - como apendicite e cirurgias -, embora o Ministério da Saúde venha buscando fortalecer a política de prevenção. No entanto, novas demandas complicam o cenário.
“O grande ponto crítico, hoje, das condições agudas, é porque temos duas questões: violência e acidentes. Isso é muito mais difícil do que você ter uma pneumonia, rinite, apendicite. Você mexe com toda a estrutura familiar, mexe com o indivíduo que foi acidentado”, observa.
Saúde mental e envelhecimento
Para a médica, é essencial investigar o histórico familiar dos pacientes para prever o desenvolvimento e o agravamento de doenças que podem ser hereditárias, como diabetes e hipertensão, e indicar mudanças de estilo de vida.
“Você acha que, quando adoece, a responsabilidade é só de um bom prefeito e um sistema de saúde que dê atenção. Isso é importante, isso é política pública, mas eu preciso também fazer a minha parte. Preciso estimular a população a compreender que ela também faz parte do resultado”, garante.
Além disso, entende Martins, a vigilância deve ficar atenta ao fato de que a determinados tipos de patologia e agravos na população devido à maior taxa de envelhecimento. Segundo o último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Fortaleza já possui mais de 250 mil pessoas com 65 anos ou mais de idade.
“A gente precisa procurar mostrar para as pessoas e para as famílias que é possível a gente ter um envelhecimento compatível com uma qualidade melhor de vida, que a pessoa seja saudável, seja feliz”, destaca.
Além disso, ela pretende dar outro olhar para a questão da saúde mental, ao perceber pessoas mais ansiosas ou depressivas. Ela defende um plano de ação que possa dar uma resposta “o mais rápido possível”. Embora tenha 16 Centros de Atenção Psicossocial (Caps), a capital enfrenta carência de profissionais para atender à alta demanda na cidade.
Currículo da secretária
Maria do Perpétuo Socorro Martins Brackenfeld nasceu no município de Santa Quitéria. Formada em Medicina pela Universidade Federal do Ceará (UFC), é especialista em Gestão Hospitalar e Serviços de Saúde pela Universidade Estadual do Ceará (Uece).
Foi diretora de diversos estabelecimentos públicos de saúde, como o Hospital de Maracanaú, o Hospital Gonzaga Mota (Gonzaguinha do José Walter), o Hospital Geral Dr. Waldemar Alcântara e o Hospital de Messejana Doutor Carlos Alberto Studart Gomes.
Em 2013, enquanto era secretária de Saúde, recebeu o Título de Cidadã de Fortaleza.
Durante a gestão de Socorro, Fortaleza inaugurou 19 postos de saúde e teve autorizada a obra de expansão do Instituto Dr. José Frota (IJF), maior hospital de traumas do Ceará, o chamado “IJF 2”.
Além disso, foi implantado o funcionamento dos postos de 7h às 19h, a informatização das unidades por meio do prontuário eletrônico e a construção de cinco Unidades de Pronto Atendimento (UPAs).