Henrique, o busólogo que movimenta uma comunidade de fanáticos por ônibus
Um curitibano radicado no Ceará criou um dos maiores grupos de busólogos no Estado, que se encontra regularmente para buscar veículos raros e compartilhar de fotografias a desenhos e miniaturas detalhistas sobre os mais variados modelos de ônibus
Henrique Barreto nasceu em Curitiba, mas ainda na infância atravessou milhares de quilômetros de Brasil para se mudar com a família para Fortaleza. Foi do longo deslocamento que começou um interesse particular por ônibus. Gostava de estudar sobre motores e chassis, apreciar os mais diversos modelos dos veículos e fotografar raridades. O hobby tem nome. Henrique orgulha-se em dizer que é busólogo, como são chamados os fanáticos por ônibus.
A busologia pode ser vivenciada de diversas formas. Há quem goste de viajar longas distâncias nos veículos, mas também os que admiram cada detalhe do design. Outros estão mais interessados nos chassis e motores e são capazes de diferenciar as marcas pelo barulho do motor. Há quem passe longas horas na beira da estrada em busca de raridades e mesmo quem está disposto a se arriscar para fazer a melhor foto de um pneu. Busólogos também podem ser desenhistas e produtores de miniaturas dedicados a reproduzir escalas perfeitas.
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Hoje, Henrique gosta de fotografar raridades, mas também de capturar os rostos de viajantes na rodoviária durante as partidas. Quando assiste televisão ou folheia jornais, está sempre atento aos ônibus que surgem na tela, ainda que seja num discreto plano de fundo. Ali pode estar a dica de onde encontrar o ônibus raro que tenha saído de circulação. Já aconteceu muitas vezes, e ele pôde reunir um grupo de amigos em um carro e viajar pelo interior para apreciar veículos raros, difíceis de serem encontrados.
Henrique é um administrador que atua no universo farmacêutico. Desde a infância, viu o hobby ficar cada vez mais sério. Na adolescência, compartilhava informações sobre ônibus por meio de uma caixa postal disponibilizada em uma revista de uma empresa rodoviária. “Vi que não era o único doido por isso", conta ele, que trocava cartas e fazia amizades com gente que tinha o mesmo hobby nesta época.
Quando a internet evoluiu e as redes sociais se disseminaram, ele decidiu criar, em 2005, um grupo chamado FortalBus, que hoje reúne centenas de amantes de ônibus de diferentes estados, embora a maior concentração seja de cearenses. “Quando era criança, eu gostava de ônibus e achava que ninguém mais gostava. Comecei a conhecer outros busólogos e vi que eram pessoas sérias e normais", afirma.
Há 15 anos, o grupo fechou uma parceria com a empresa Guanabara para fazer um encontro anual de busólogos. É um momento para eles se conhecerem pessoalmente, trocarem informações e fazerem um tour na garagem de uma grande empresa. “Tem gente que gosta de carro, gosta de saber de cada detalhezinho do carro. A gente gosta de ônibus", diz Henrique.
O hobby, para ele, foi mudando ao longo dos anos. Se antes ele colecionava miniaturas e era um autodidata neste conhecimento técnico especializado, agora, aos 40 anos, prefere observar os ônibus com um olhar de passageiro. “Hoje eu olho muito o conforto e a qualidade do transporte. Fui ficando mais exigente", diz. “Sou um viajante, e o que mais me fascina é o momento do encontro ou da despedida. É uma imagem que vale a pena sempre ver. Amo não só o ônibus, mas também o lado humano que tem nisso", finaliza.
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora.