Há uma cidade inteira dentro do centro de Fortaleza. Um emaranhado caótico pulsa entre os bairros Moura Brasil e Benfica, um centro expandido que transmuta no tempo com suas lojas de departamento, ruas de comércios temáticos, praças e botecos. É assim durante todo o ano, mas quando o mês de dezembro rompe o calendário, tudo parece mais intenso.
É para o Centro que, desde sempre, vamos em busca de adornos mais baratos para nossas árvores de Natal. No buraco da Gia, as vitrines já estão repletas de roupas brancas e tons neutros para aguardar 2025. O trânsito está mais intenso naquela área da cidade, que nos últimos anos vem ganhando lojas enormes com todos os produtos que não sabíamos que precisávamos para facilitar nosso dia a dia. Até a Shopee está no Centro!
Tudo com o grande diferencial de poder comer aquele velho pastel de carne com azeitona e um caldo de cana. São as memórias de sempre, totalmente emaranhadas com as novidades que povoam aquela área da cidade, que dita tendências e pulsa vida. O centro se impõe.
A Praça da Estação, que antes era mais rua que praça e servia como um pequeno terminal de ônibus, agora parece ser a locação preferida para fazer fotos de festa de formatura, editoriais de moda de marcas locais e pré-wedding. Praticamente todos os dias, vemos o movimento com câmeras profissionais e iluminação para produzir conteúdo para as redes sociais e os álbuns de fotografias.
Naqueles arredores, você provavelmente já viu Júlia ou Nicole, duas mulheres trans que vivem pela região. Tem dias que, perto do almoço, um senhor liga a caixa de som na ponta da praça e faz uma seresta como só o centro pode oferecer.
Mais adiante, perto da Praça do Ferreira, o som é de promoções imperdíveis declamadas pelo microfone. É a vida que pulsa no centro, para onde fui tantas vezes como jornalista tentar sentir o clima em época de eleição. Tem idosos jogando dominó, vendedores gastando toda a lábia para atrair clientes, o gosto do pastel.
O centro da cidade é o conjunto de coisas que ontem pareciam insignificantes e que, vez por outra, me volta à mente como memória especial da Fortaleza contraditória e caótica em que vivemos. Lá, encontramos personagens e costumes históricos enquanto nos abrimos para o novo. O Centro do Natal de Luz e do caos nosso de cada dia.
** Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora.
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