Idoso de 109 anos recebe com café da manhã técnica de enfermagem que cuidou dele em UPA de Fortaleza; veja vídeo

Em visita à casa de Simão, 66 anos mais velho do que ela, Danielle define a amizade como “encontro de almas”

Escrito por
Theyse Viana theyse.viana@svm.com.br
(Atualizado às 17:35)
Danielle e Simão
Legenda: Danielle e Simão ficaram amigos durante a internação do centenário em uma UPA de Fortaleza
Foto: Thiago Gadelha

Sentado numa cadeira na área de casa, sob a calma aprendida em 109 anos de vida, seu Simão Lima observa o converseiro entre filhos, netas e as visitas. A audição falha, mas o olhar segue atento – e ganha um brilho a mais quando vê a nova amiga da família atravessar o portão.

Na manhã sexta-feira (21), após dois dias chuvosos em Fortaleza, o céu abriu para clarear a mesa do café, oferecido pela família do centenário à técnica de enfermagem Danielle Araújo, 43, que o atendeu durante uma internação na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Itaperi, em Fortaleza, por pneumonia.

Nas redes sociais, se espalharam vídeos das interações animadas entre os dois, rotina que, para a família do idoso, foi essencial na recuperação da saúde física e mental. “A Danielle foi fantástica. Creio que essa amizade foi o estímulo pra ele viver mais”, diz o filho, Jonilson Simão de Lima, 65.

Danielle e Simão
Foto: Thiago Gadelha

Danielle, por outro lado, nem define como amizade, mas como um “encontro de almas” o laço que se formou entre os dois cearenses – separados por 66 anos de vida e unidos por um afeto que ninguém soube, até agora, explicar.

“Jesus sabe por que ficamos tão amigos. Tem coisa que a gente não tem explicação”, inicia a profissional de saúde. “Ele não recebeu nenhum tratamento especial: eu trato todos os meus pacientes assim”, diz, enquanto toca nas veias das mãos “que precisou tantas vezes encontrar”.

Mãos de Danielle e Simão
Foto: Thiago Gadelha

Seu Simão interrompe nossa conversa e reclama: não consegue ouvir bem o que estamos dizendo. “Por que tu não usa o aparelho (auditivo), hein?!”, pergunta Danielle, em tom de sermão. “Se tu usasse, ia ouvir meus gritos na tua alma, porque eu não sei falar baixo”, brinca, com uma descontração que toma os risos dele e da família toda. De uma UPA inteira, até.

A bisneta de Simão, Priscila Lima, 35, ensaia que esse é justamente um dos motivos que trouxeram a técnica de enfermagem à família. “Ele entrou na UPA quase falecendo, mas o amor e o humor curam muito. A Dani levou pro hospital o clima que é da nossa casa. Ela foi adotada”, emociona-se Priscila, que registrou os primeiros vídeos do bisavô com Danielle.

Rumo aos 110 anos

Simão
Legenda: Simão completará 110 anos em maio
Foto: Thiago Gadelha

Quem vê pessoalmente não aposta que Simão veio ao mundo em maio de 1915, na cidade de Baturité, região serrana do Ceará. Apesar da audição comprometida e da fala já pouco articulada, as memórias estão intactas. O centenário entende, lembra e responde sobre tudo. Até antes da internação, caminhava sozinho, sem o andador que hoje o acompanha.

O “segredo” da longevidade ele não sabe dizer. Pode estar no “feijão e arroz com um pedacim de carne”, que é o prato preferido; nos 50 anos cuidando dos bichos no sítio, local hoje ocupado pelas ruas e avenidas do bairro Itaperi; na “bolinha” que batia com os filhos aos fins de semana, ou no banho de açude que ainda ama tomar em Quixadá.

Ser tão longevo, por outro lado, tem outras coisas. Simão viu três dos oito filhos partirem, e levou “três meses perigosos, passando mal” quando a companheira de vida faleceu aos 86 anos, como relembra o filho, Jonilson. “Achei que ele ia também.” Mas ficou.

Simão caminha com andador
Legenda: Após a internação, o idoso passou a caminhar com o auxílio de um andador
Foto: Thiago Gadelha

Se o que parte vira memória, o que fica sustenta a vida. Cercado do afeto da família, o centenário espera viver ainda muito mais, e sorri vendo os filhos, netos e bisnetos já planejando (junto a Danielle!) a festança de 110 anos, marcada para o próximo mês de maio.

“Essa é a coisa mais linda que eu tenho na minha vida, é cuidar desse 'velho' aí com todo amor e carinho”, declara o filho. “Essa amizade aqui? É pra vida toda!”, emenda a técnica de enfermagem – que neste texto, se fosse escrito por seu Simão, viria como “a lôra gente boa demais, que, abaixo de Deus, graças a ela tô vivo”.

Newsletter

Escolha suas newsletters favoritas e mantenha-se informado
Este conteúdo é útil para você?