Fortaleza é a capital do Nordeste com maior número de diagnósticos de depressão em adultos

Empatada com Natal, Capital lidera quantidade de adultos com o transtorno mental entre os Estados do Nordeste

Escrito por Nícolas Paulino , nicolas.paulino@svm.com.br
Legenda: Segundo a pesquisa, 15% das mulheres de Fortaleza referem o diagnóstico de depressão
Foto: Natinho Rodrigues

Saúde mental está relacionada ao equilíbrio entre a mente e o corpo, mas mantê-la em ordem é um desafio para cerca de 320 mil moradores de Fortaleza. Essa é a quantidade estimada de pessoas adultas que referem diagnóstico médico de depressão na Capital cearense. Em relação ao percentual de adultos, Fortaleza é a primeira capital do Nordeste com mais casos, empatada com Natal (RN).

O dado foi calculado a partir da pesquisa Vigitel 2023, publicada pelo Ministério da Saúde após contato com moradores de todas as capitais brasileiras. Em Fortaleza, 13,2% dos entrevistados relataram depressão, percentual maior que os 11,4% encontrados na Vigitel de 2021, primeira que investigou esse transtorno mental. À época, eram estimados 308 mil fortalezenses com o problema.

Na nova análise por gênero, houve um avanço maior entre os homens: o número cresceu de 8,1% para 10,4% nos dois levantamentos. Entre as mulheres, passou de 14,2% para 15,6%. 

Diante do problema, no mês de janeiro, as redes de saúde desenvolvem a campanha Janeiro Branco, que tem como principal objetivo gerar conscientização individual e coletiva sobre a urgência na discussão dos temas voltados para a saúde mental.

Para Niveamara Sidrac, presidente do Conselho Regional de Psicologia 11ª Região, os dados da Vigitel são um alerta para a qualidade “do tempo que estamos vivendo”, atravessado por estresse, desemprego, dívidas, satisfação com o trabalho e problemas de relacionamento. 

“É importante pensar em saúde mental não como algo do indivíduo, mas um problema de saúde coletiva. Aquele indivíduo que adoece é um termômetro do quanto aquela sociedade está adoecida, e acaba adoecendo aqueles ao seu redor. As pessoas hoje estão numa fragilidade emocional muito grande, principalmente adolescentes e adultos jovens”, observa.

Segundo a psicóloga, os casos de saúde mental ainda são muito subnotificados porque “nem mesmo a pessoa que está iniciando um processo depressivo percebe”. Quando finalmente se dá conta, o quadro agravado pode estar próximo de surtos ou ideação suicida. Por isso, ela aponta que as gestões públicas precisam investir mais na área.

Saúde mental não se trata só com terapia, precisa de toda uma rede de apoio psicossocial. Esses números podem alertar para uma Atenção Básica com necessidade de trabalho preventivo, em todos os meses do ano, com postos de saúde com psicólogos e psiquiatras, ambulatórios especializados e políticas públicas de assistência e lazer.
Nivemara Sidrac
Presidente do CRP11

"A gestão nota que realmente houve aumento na busca por esse atendimento, principalmente depois da pandemia", reconhece o psiquiatra Arildo Lima, da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), também atestando que "tem vindo muito mais homens do que mulheres procurar ajuda".

A Pasta informou que a média de atendimentos mensais é de 16,5 mil nos seis CAPS Gerais, 8,5 mil nos sete CAPS Álcool e Drogas e 6,5 mil nos dois CAPS Infantis - o terceiro equipamento desse tipo ainda não teve seus atendimentos contabilizados porque foi inaugurado no segundo semestre de 2023.

"Para ampliar os atendimentos à população, a Prefeitura de Fortaleza convocou 121 novos profissionais para atuação na rede. A seleção dos servidores aconteceu por meio de concurso público e contemplou as áreas de enfermagem, psicologia, terapia ocupacional e assistência social", complementa.

Conforme a SMS, a atenção à saúde mental também foi fortalecida pela inauguração do terceiro CAPS Infantil no bairro Granja Portugal, em agosto. Já neste início de 2024, a Prefeitura reinaugurou o CAPS Geral da Regional de Saúde IV, no bairro Jardim América, que teve melhorias na estrutura física.

Internações por questões mentais

Por ano, Fortaleza também acumula mais de 3,6 mil internações por transtornos mentais e comportamentais na rede pública, de acordo com o Sistema de Informações Hospitalares (SIH), do Ministério da Saúde.

A maioria das internações ocorre por transtornos relacionados à esquizofrenia ou delírios. Depois, vêm transtornos mentais devido ao uso de substâncias psicoativas e transtornos de humor, seguidos por abuso de álcool.

A Capital encabeça os registros no Ceará, que tem média anual de 8 mil internações pelos mesmos motivos. Entre 2019 e 2023, a rede de saúde atendeu a mais de 39 mil casos, conforme o SIH. Houve aumento de acolhimentos com relação a transtornos de humor e transtornos neuróticos.

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Atendimentos na rede municipal

A rede municipal de Atenção Psicossocial de Fortaleza tem 24 equipamentos, sendo 16 Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), cinco unidades de acolhimento para dependentes químicos e três residências terapêuticas, além de uma rede de mais de 100 leitos de apoio à internação de urgência e estabilização.

De acordo com o perfil, a população deve procurar:

  • CAPS Geral: pessoas acima de 18 anos que apresentam sofrimentos psíquicos e/ou transtornos mentais severos e persistentes;
  • CAPS AD (álcool e drogas): pessoas a partir dos 16 anos que enfrentam a dependência de substâncias psicoativas;
  • CAPS Infantil: crianças e adolescentes de até 17 anos em sofrimento psíquico decorrente de transtornos mentais graves, ou até 16 anos em casos que envolvem o uso de substâncias psicoativas.

O serviço dos CAPS é porta aberta. O usuário pode procurar diretamente uma das unidades de atendimento ou um dos postos de saúde da Capital, que também atendem a demandas de saúde mental. De acordo com a necessidade do usuário, é feito o encaminhamento a outros serviços.

* Em 2021, para chegar ao número aproximado de pessoas com depressão em Fortaleza (pouco mais de 308 mil), o Diário do Nordeste calculou 11,4% dos 2.703.391 habitantes da cidade estimados pelo IBGE, à época. Para 2023, a reportagem utilizou o dado de 2.428.708 moradores aferidos no último Censo oficial do órgão, realizado em 2022, chegando ao montante de 320 mil pessoas.

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