Com 308 mil casos, depressão supera diabetes entre moradores de Fortaleza, aponta pesquisa

Estimativa da Vigitel 2021, divulgada neste mês, aponta que 11,4% dos fortalezenses entrevistados têm diagnóstico do transtorno mental

Escrito por Theyse Viana , theyse.viana@svm.com.br
Legenda: Proporção de fortalezenses que confirmaram ter diagnóstico médico de depressão em 2021 se iguala à média nacional
Foto: Inzmam Khan/Pexels

Um transtorno mental cercado por tabus tem avançado de forma preocupante em Fortaleza: 11,4% da população afirmou ter diagnóstico de depressão, o equivalente a 308.186 pessoas*. O percentual é maior do que o de diabéticos, doença crônica que afeta 9% dos fortalezenses.

Os dados são da pesquisa Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), que entrevistou 27.093 pessoas adultas entre setembro de 2021 e fevereiro de 2022. Em Fortaleza, foram 1.007 entrevistados.

A proporção de fortalezenses que confirmaram ter diagnóstico médico de depressão se iguala à média nacional: no conjunto das 27 cidades avaliadas, 11,3% dos brasileiros estão depressivos, sendo 14,7% mulheres e 7,3% homens.

A diferença entre os gêneros se repete em Fortaleza, onde 8,1% dos que têm depressão são homens e 14,2% são mulheres.

A Vigitel é realizada pelo Ministério da Saúde, e a edição de 2021 traz informações sobre saúde mental, estimando o número de pessoas que têm depressão. Observar o indicador é importante principalmente no pós-pandemia, como pontua a psiquiatra Lia Sanders.

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“Antes de 2020, a depressão já era a principal causa de problemas de saúde e incapacidade, mas a pandemia de Covid fez com que muitos agravantes para a saúde mental fossem exacerbados: restrições sociais e perda de meios de subsistência são alguns deles”, lista a médica.

25%
foi o aumento dos casos de ansiedade e depressão em 2020, segundo a OMS, um adicional de 53,2 milhões de casos em todo o mundo. Antes da pandemia, já eram mais de 300 milhões de pessoas acometidas.

“O que nos leva a essa exaustão?”

A psiquiatra Lia Sanders, professora da Universidade Federal do Ceará (UFC), destaca que o diagnóstico de depressão hoje “é percebido com mais seriedade”, mas não atribui a alta de casos ao crescimento da procura da população por atendimento médico.

“Há esse argumento de que o aumento nos casos de depressão se deve a uma mudança nos critérios diagnósticos ou à maior procura por serviços de saúde. Agora, é interessante observar que esse aumento na prevalência não ocorre em outros transtornos mentais”, diz.

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A comparação entre o número de fortalezenses depressivos e diabéticos, avalia a médica, evidencia que, “pela prevalência, tanto o transtorno depressivo quanto o de ansiedade, precisam ser tratados na atenção primária”.

A atenção primária costuma trabalhar programas para as condições mais prevalentes. Talvez seja a hora de pensar em específicos para a saúde mental, além de aumentar a oferta de psicoterapia, à qual pouquíssimas pessoas têm acesso. 
Lia Sanders
Psiquiatra e professora da UFC

Segundo Lia, os profissionais em formação já estão sendo treinados “para identificar e manejar os pacientes que sofrem com esses transtornos”, embora o tratamento seja “complexo e multidisciplinar”.

“A sociedade também precisa avaliar os caminhos que tem tomado, permitir a implementação de mudanças estruturais mais profundas. Será que é possível cuidar da saúde mental sem tempo, sem apoio? Além da propensão genética, o que está nos levando a essa exaustão?”, questiona.

Doenças crônicas crescem em Fortaleza

Além da mental, a saúde física dos fortalezenses também preocupa. Quase 6 a cada 10 moradores da cidade (59%) estão com excesso de peso, e outros 24% estão obesos. A hipertensão foi relatada por 23% dos entrevistados, predominando entre as mulheres.

Apesar disso, menos da metade dos fortalezenses (38%) praticam atividades físicas pelo menos 30 minutos por dia, segundo o levantamento – 37% dos homens consideram que se exercitam de forma insuficiente, número que cresce para 57% na percepção das mulheres.

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O cenário é alarmante num estado como o Ceará, onde 11 mil pessoas morrem, todo ano, por doenças crônicas não-transmissíveis (DCNTs): que têm obesidade, colesterol alto, hipertensão, tabagismo, consumo de álcool, estresse e sedentarismo como principais causas.

Ricardo Pereira, médico cardiologista e professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), apontou, em entrevista ao Diário do Nordeste, que esses são os fatores “mutáveis” para o infarto, por exemplo, DCNT que mais mata no Ceará.

As medidas de prevenção do infarto, aliás, são as mesmas da maioria das doenças crônicas não transmissíveis, e estão sempre ligadas à adoção e manutenção de um estilo de vida saudável:

  • Praticar atividade física regularmente;
  • Manter alimentação balanceada;
  • Reduzir o consumo de bebida alcoólica;
  • Não fumar;
  • Controlar hipertensão e diabetes, se tiver;
  • Cuidar da saúde mental para diminuir o estresse.

Raio-x da saúde da população de Fortaleza

Foto: Kid Júnior

Saúde da mulher

• 31% das mulheres não fizeram exame “papanicolau” nos últimos 3 anos;
• 37% das fortalezenses de 50 a 69 anos não fizeram mamografia nos últimos 2 anos.

Alimentação e consumo de álcool

• 7% são fumantes ativos e 5% são fumantes passivos;
• 18% dos entrevistados confessaram ter consumido álcool em excesso no último mês;
• 70% não comem frutas ou verduras pelo menos 5 vezes por semana;
• 19% consumiram alimentos ultraprocessados no dia anterior à entrevista.

Estilo de vida

• 66% passam 3 horas ou mais usando celular, tablet, computador ou outras telas;
• 62% dos fortalezenses não praticam pelo menos meia hora de atividade física por dia no tempo livre;
• 6% avaliaram a própria saúde como ruim, durante a pesquisa.

(*) Para chegar ao número aproximado de pessoas com depressão em Fortaleza (pouco mais de 308 mil), o Diário do Nordeste calculou 11,4% dos 2.703.391 habitantes da cidade estimados em 2021 pelo IBGE.

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