Entenda quais os possíveis impactos da variante Deltacron no avanço da pandemia

Nova forma viral confirmada em março ainda tem impactos desconhecidos, mas reforça necessidade do ciclo vacinal completo

Escrito por Lucas Falconery e Theyse Viana , ceara@svm.com.br
Especialistas
Legenda: Especialistas ainda precisam de mais dados para apontar o impacto preciso da variante
Foto: Pexels

O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, revelou que os casos de Deltacron no Brasil, diferentemente do que ele havia anunciado, ainda não foram confirmados, mas estão em análise. "Havia recebido a informação que os casos estariam confirmados, mas a área técnica posteriormente me informou que a confirmação definitiva sairia somente na sexta", disse Queiroga ao O Globo.

A Deltacron surge como a recombinação entre as variantes Delta e Ômicron do coronavírus em um processo natural, mas apreensivo para quem acompanha a confirmação de dois pacientes com a doença no Brasil, nesta terça-feira (15). Ainda são feitas análises, mas o ciclo vacinal completo e uso de máscara permanecem como proteções valiosas.

Antes de chegar no País, a nova apresentação do vírus foi notada em Chipre, uma ilha no Mar Mediterrâneo, e confirmada na França no início do mês. Desde então, vários países europeus registram casos. No Brasil, Amapá e Pará identificaram a contaminação.

Com os dados apresentados até o momento não é possível determinar se a Deltacron será mais agressiva do que as demais variantes, como explica o microbiologista Samuel Arruda. 

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Mas como saber se um paciente está infectado com a Deltacron? “Em relação aos sintomas, não foi observado nenhum específico ainda, mas é claro que precisa de mais tempo de avaliação", explica o virologista Mário de Oliveira.

Como é uma recombinação de genes, a gente não sabe quais partes foram recombinadas nesse processo. Então, não necessariamente as piores características é que serão herdadas
Samuel Arruda
Microbiologista

Informações para a detecção e monitoramento do coronavírus chegam às autoridades estaduais pela Rede Genômica do Ceará. Até esta terça-feira (15) não foram identificados casos confirmados ou suspeitos no Estado.

“Assim como aconteceu com as cepas já genotipadas, a Rede do Ceará tem capacidade de identificação da nova variante que combina características da Delta e da Ômicron”, como informou a Secretaria da Saúde do Estado (Sesa).

Isso é feito por meio do sequenciamento genômico das amostras coletadas dos pacientes no Estado. O grupo é composto pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), Laboratório Central de Saúde Pública do Ceará (Lacen) e Centro de Hematologia e Hemoterapia do Ceará (Hemoce).

A Deltacron surge em um contexto de análise para flexibilização do uso de máscaras em estados brasileiros, entre eles o Ceará. Os especialistas apontam a relevância do equipamento para evitar o aumento da transmissão da doença.

No mundo, a China convive com um novo confinamento de quase 30 milhões de pessoas após registrar 5.280 casos da doença nas últimas 24h. Pelo menos 13 cidades estão com restrições mais rígidas de isolamento.

O que é a Deltacron?

Ainda existe uma análise também sobre o que, de fato, se trata a Deltacron: uma variante ou um tipo de contaminação? Questionamento avaliado pela epidemiologista Lígia Kerr.

“Parece contaminação e não um novo vírus formado por "pedaços genéticos" da Delta e da Ômicron que, dentro da mesma pessoa, forma o que chamamos de recombinação. Cientistas da área que olharam, acham mais contaminação externa do que um novo vírus”.

Deltacron
Legenda: Deltacron é uma recombinação genética das variantes Delta e Ômicron, mas ainda não se sabe quais dessas características a nova forma do vírus possui
Foto: NIAID

Ainda assim, alguns artigos já apontam a Deltacron mesmo como uma variante, como observa Mário de Oliveira. "A gente tem o medo de combinar as transmissões e letalidade, mas por enquanto não se pode afirmar nada porque tem poucos casos no mundo", ressalta.

O especialista explica que a variante Delta, devido à alta carga genética, causa quadros mais graves da doença. A Ômicron surgiu com um potencial inédito de alta transmissibilidade. Isso cria um ambiente de incerteza sobre o impacto das variantes.

"Um exemplo clássico dessas recombinações é o próprio vírus da gripe e isso aconteceu com essa variante. Mas a gente não consegue dizer se vai ser mais grave ou letal enquanto eu não entender o comportamento dela", reforça.

Como surgiu a variante?

Estamos habituados à Ômicron, porque essa variante do vírus se tornou predominante no Brasil. Na Europa, no entanto, a Delta ainda circula com expressividade e isso está relacionado com o surgimento da variante, como explica Samuel Arruda.

"O fato de ter essa circulação Delta-Ômicron nessas regiões facilitou que essa recombinação acontecesse", frisa. Com isso, devem ser analisadas características para entender a transmissão e mortalidade causada pela Deltacron.

"Numa análise prévia não parece ser mais transmissível e nem mais virulenta que a Ômicron e que a Delta. Pelo que parece, a coisa talvez não mude tanto de figura nos próximos meses, mas ainda é muito cedo para dizer isso", pondera o especialista.

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