3ª onda da Covid tem menos impacto em crianças até 4 anos, mas gerou mais de 5 mil casos no Ceará
Público é o único ainda sem disponibilidade da vacina para prevenir a doença.
Mesmo com a variante Ômicron do coronavírus sendo responsável por um aumento alarmante no número de infecções no Ceará, a terceira onda não foi mais contagiosa entre crianças com menos de quatro anos de idade do que na segunda. Esse público é o único para o qual ainda não há vacina disponível para prevenir a doença.
Comparando os períodos mais intensos de transmissão do vírus no Estado, a segunda onda teve 87% mais pequenos infectados. É o que mostram dados da plataforma IntegraSUS, da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), compilados e analisados pelo Diário do Nordeste.
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Entre março e maio de 2021, pico da segunda onda provocada pela variante Gama - oriunda de Manaus e com características agressivas - o Ceará teve 9.834 pequenos com menos de cinco anos contaminados.
Os seis meses seguintes foram de arrefecimento da transmissão: entre setembro e novembro, por exemplo, foram contabilizados apenas 532 infecções nessa faixa etária.
Porém, o cenário epidemiológico mudou novamente em dezembro, com a introdução da variante Ômicron no Estado próximo às festas de fim de ano. Entre aquele mês e fevereiro, foram confirmados 5.252 casos. Esse dado está sujeito a incremento devido à liberação tardia de alguns testes.
Michelle Pinheiro, infectopediatra do Hospital Infantil Albert Sabin (Hias), observa uma proteção da população geral em relação aos quadros graves da Covid por causa da vacinação.
“Em geral, as crianças apresentam quadros mais brandos de Covid ou mesmo um achado através somente do exame sem sintomas associados”, explica.
No entanto, a especialista pondera que as crianças com comorbidade correm mais riscos de sofrer com a forma grave. “Nesses (casos) a evolução da doença pode ser desfavorável com necessidade até de suporte de terapia intensiva”, detalha.
Preocupação constante
A empreendedora Tamires Warick lembra bem da angústia que passou durante a segunda onda com o filho Paulo Otávio, hoje prestes a completar um ano. Cerca de um mês após o nascimento, o menino foi infectado pela doença - provavelmente, por causa de algum material contaminado, já que ela permaneceu em casa no puerpério.
“Foi algo fora do comum, muito triste. Eu achei que ia perdê-lo. Mas, ainda hoje ele tem sequelas, vive gripado, tem muita tosse”, conta a mãe.
Tamires diz que não pensaria duas vezes antes de vacinar o menino se houvesse imunizante disponível. A filha Ana Vitória tem dois anos e também não está apta à vacina, mas Paulo Filipe, de 6, já foi imunizado, comemora ela.
A terceira onda teve como principal característica um aumento rápido e exponencial de casos na população cearense, mas com tendência ao desenvolvimento de casos mais brandos por causa dos bons níveis de vacinação atingidos no Estado.
Michelle Pinheiro reforça os procedimentos conhecidos e divulgados em todos os momentos da pandemia para evitar a infecção. "Uso de máscaras, higienização das mãos, evitar aglomerações e se algum sinal ou sintoma de doença iniciar o isolamento e realizar o exame para Covid", orienta.
População vulnerável
Porém, como estão totalmente suscetíveis, as crianças menores de 5 anos também estão sujeitas a complicações mais graves da doença, considerada “traiçoeira” pelo infectologista pediátrico Robério Leite. Algumas situações podem levar até mesmo à morte.
No dia 2 de fevereiro, um menino de 2 anos faleceu em decorrência da Covid-19, em Juazeiro do Norte, no Cariri cearense. Segundo a Secretaria da Saúde do município, a criança não apresentava comorbidades.
Dois dias depois, João Luiz Araújo dos Santos, de 1 ano e 8 meses, também morreu no Hospital Regional Norte, em Sobral, por complicações da doença. Natural de Itarema, ele passou 15 dias internado na unidade hospitalar.
crianças de até 4 anos de idade faleceram por causa da doença, no Ceará, desde o início da pandemia, de acordo com o IntegraSUS. Destas, 128 tinham até dois anos de idade.
Além da própria doença, os pequenos também estão sujeitos à Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica (SIM-P) associada à Covid-19, que ocorre após infecção pelo e também requer hospitalização. Alterações cardíacas e neurológicas estão entre os problemas causados por ela.