Enfraquecimento do El Niño aumenta chances de chuvas acima da média na próxima quadra

Cenário do próximo ano pode ser semelhante ao da quadra atual, em que as chuvas fecharam acima da normal climatológica

Escrito por André Costa , andre.costa@svm.com.br
Legenda: A boa intensidade das chuvas impacta positivamente a agricultura
Foto: Honório Barbosa

A quadra chuvosa do próximo ano pode ser, pela segunda vez consecutiva, acima da média. Essa tendência se deve ao fato de o fenômeno El Niño ter, atualmente, projeção de manutenção de seu enfraquecimento até 2023.

Para entender a atuação dos agentes climáticos é preciso, antes, decifrar a ocorrência das chuvas no Estado. O Ceará tem dois períodos distintos onde as precipitações se concentram: fim do ano, entre dezembro e janeiro e; entre fevereiro a maio, quadrimestre no qual os maiores volumes se acumulam.

O período é chamado de ‘quadra chuvosa’ e, todos os olhares se voltam para ele por ser o mais importante para o abastecimento humano, agricultura e recarga hídrica dos açudes.

Para cada um desses intervalos, um combo distintito de fenômenos se manifesta. Na quadra chuvosa, quando há o enfraquecimento do El Ninõ, há maior chance de chuvas dentro ou acima da normali climatológica. 

O El Niño é um fenômeno que consiste no aquecimento anormal das águas e que altera as condições de chuva no Nordeste. 

Neste ano, com a atuação mais forte da La Ninã, o quadrimestre fechou de forma positiva. Conforme a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), as chuvas ficaram cerca de 10% acima da média, confirmando a previsão inicial do órgão cearense, que apontou chances de precipitação além da normal climatológica em 2022. Para o próximo ano, este cenário pode se repetir.

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Essa análise é alicerçada com base na atuação da La Niña e da pouca força de atuação do El Niño. A gerente de meteorologia da Funceme, Meiry Sakamoto, explica que, quando o El Niño está enfraquecido – como identificado atualmente - “a tendência é de uma quadra chuvosa dentro ou acima da média”.

Consequentemente, quanto maior for a atuação da La Niña, maior são as chances de um bom quadrimestre (fev-maio), com chuvas que podem ficar dentro ou acima da média histórica.

A La Niña é o esfriamento das águas superficiais do Oceano Pacífico Equatorial. Quando ela está atuando, aumentam as chances de ocorrência de chuvas em uma porção do Brasil, que contempla o Ceará. 

Embora seja um cenário positivo, a especialista prega cautela na concretização do prognóstico. “A Funceme acompanha todos os dias os mais variados fenômenos climáticos. Dia a dia analisando o comportamento e, em janeiro, divulgaremos a previsão concretizada para a próxima quadra chuvosa”, detalha Sakamoto. 

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A também meteorologista Morgana Almeida, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), compartilha da mesma análise. Segundo ela, as últimas atualizações dos modelos climáticos mostram que a La Niña deverá permanecer até o trimestre janeiro-fevereiro-março de 2023 (com 60% de chance). Já para o trimestre fevereiro-março-abril as chances de La Niña diminuem e aumentam a de Neutralidade (57%). 

Ainda assim, em ambos os cenários, há a ausência da atuação do El Niño, o que reforça a tendência de chuvas acima ou dentro da média em 2023.

"A quadra chuvosa terá seu comportamento influenciado também pelas águas do Oceano Atlântico Tropical. Pois a atuação da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) está diretamente relacionada com as águas superfícies do Atlântico”, acrescenta Morgana.  

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Desta forma, como há atuação complementar de outros fenômenos, Morgana Almeida reforça a necessidade de analisar com mais parcimônia a atuação destes fatores. “É preciso esperar mais um pouco para mais as atualizações dos modelos climáticos e monitorar o Oceano Atlântico”, conclui.

 

 

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