Em meio a críticas sobre Data Center no CE, gestor da Cogerh garante que uso d’água não é ‘expressivo’

Equipamento previsto para a Região Metropolitana de Fortaleza é alvo de questionamentos sobre consumo hídrico.

Escrito por
Nícolas Paulino nicolas.paulino@svm.com.br
Mão de uma pessoa fechando uma torneira de cozinha cromada, da qual cai uma gota d'água, sobre uma pia de inox e bancada de granito.
Legenda: Gestor da Cogerh afirma que uso será equivalente, no máximo, a um condomínio com 150 famílias.
Foto: Reinaldo Jorge.

O Data Center da rede social TikTok, que deve ser instalado em Caucaia, nas proximidades do Complexo Industrial e Portuário do Pecém, continua no centro de uma intensa discussão sobre o uso de água para manter as máquinas funcionando sem interrupção. Porém, o presidente da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos do Ceará (Cogerh), Yuri Castro, considera que o local terá “um consumo muito simples”. 

Em entrevista ao Diário do Nordeste, o gestor garantiu que o uso projetado para o empreendimento “não é muito expressivo” e, mesmo em potencial máximo, não corresponderá ao consumo diário de um condomínio com 150 famílias.

Em abril deste ano, a Secretaria dos Recursos Hídricos (SRH), à qual a Cogerh é vinculada, concedeu dois documentos de Outorga do Direito de Uso da Água para que o Data Center explore dois poços no distrito de Catuana, pertencente à bacia hidrográfica da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) - o maior centro consumidor de água do Estado.

Veja também

Cada poço teve um volume outorgado de 26.280 m³/ano, com vazão de 0,83 l/s e captação autorizada 24 horas por dia, sete dias por semana. Ou seja, ao todo, a SRH permitiu 52.560 m³/ano e vazão contínua de 1,66 litros por segundo.

Isso dá uma média de 144 mil litros por dia, considerando os 365 dias do ano.

O pedido de licença prévia do Data Center, ao qual o Diário do Nordeste teve acesso, solicitou uso de 19,7 mil litros/dia, considerando consumo diário total abrangendo uso sanitário, irrigação e sistemas de Aquecimento, Ventilação e Ar Condicionado. Um valor sete vezes menor que o autorizado.

Ou seja, a empresa responsável pelo empreendimento poderá utilizar todo o volume concedido pela SRH, embora alegue que precisará de menos. 

“Quando a gente fala na análise da outorga, é muito simples: ela vê a disponibilidade hídrica frente ao uso. Então, se não tem uso, tem disponibilidade”, explica Yuri Castro. Segundo o presidente, o uso de 144 mil litros por dia “parece muito”, mas na prática se torna uma vazão “praticamente inexpressiva”.

“Equivale, vamos dizer assim, ao consumo diário de um condomínio de 150 famílias, ou dois campos e meio de futebol irrigados. Então, é um consumo muito simples”, argumenta.

Segundo o gestor, há consumos muito mais expressivos no Estado. O distrito industrial do Pecém, por exemplo, consome algo em torno de 1.000 litros por segundo. “No caso do Data Center, a gente está falando de uma vazão de 1,6 litro por segundo”, diz. Proporcionalmente, representa 0,001% desse valor.

Além disso, Castro diz que a outorga ocorreu dentro de um terreno privado, com poços construídos pelo próprio empreendimento, ou seja, não deve impactar no abastecimento público da população. “Então, não tem nada de anormal no que foi outorgado”, acredita.

A outorga da SRH é válida até abril de 2035. Conforme o documento, “o outorgado responderá civil, penal e administrativamente, por danos causados à vida, à saúde, ao meio ambiente e pelo uso inadequado que vier a fazer da presente outorga”. 

Licenciamento em análise

Desde o anúncio da instalação, o processo de licenciamento do Data Center Pecém é alvo de críticas por parte de povos indígenas, comunidades tradicionais e entidades ligadas ao meio ambiente e aos direitos humanos.

Para as entidades, o empreendimento gerará impactos sociais e ambientais significativos, como o consumo massivo de energia elétrica e água de resfriamento para manter os servidores funcionando ininterruptamente.

Em outubro, o Ministério Público Federal no Ceará (MPF-CE) solicitou uma perícia técnica para determinar se o licenciamento prévio já concedido pela Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace) foi apropriado ou se deveria ter exigido um método mais rigoroso.  

A Casa dos Ventos, empresa responsável pelo projeto, garantiu que o empreendimento é “fundamentado em sustentabilidade e inovação” e reforça o compromisso “com a transparência e o cumprimento rigoroso de todas as etapas de licenciamento ambiental”.

Lula defende sustentabilidade

Até o presidente Lula se manifestou publicamente sobre o caso. Em visita ao Ceará, na última quarta-feira (3), ele afirmou que a Transposição do Rio São Francisco não foi feita com o objetivo de abastecer o Data Center.

Estou fazendo a Transposição para resolver um problema crônico de água para beber e consumo doméstico de milhões e milhões de cearenses que precisam.
Presidente Lula
No Centro de Eventos do Ceará, em Fortaleza.

Ele ressaltou que o projeto é estratégico para a economia do Estado, mas que deve haver cobranças para o seguimento de diretrizes ambientais corretas. Falando diretamente à diretora de políticas públicas do TikTok Brasil, Mônica Guise, presente na solenidade, ele pediu que o Data Center utilize água reutilizada e energia renovável e “não mexer na capacidade de consumo do povo cearense”.

O ministro da Educação, Camilo Santana, também deu uma declaração: “Vai ser o primeiro data center totalmente ambientalmente correto. Vai usar energia renovável 100%, eólica e solar. A água será reutilizada em seu ciclo”, ressaltou.

O TikTok Brasil, em parceria com a Omnia e a Casa dos Ventos, formalizou investimento de mais de R$ 200 bilhões na construção do equipamento. Para Lula, ele pode servir de exemplo para outras estruturas que possam ser montadas no país. 

Newsletter

Escolha suas newsletters favoritas e mantenha-se informado
Este conteúdo é útil para você?
Assuntos Relacionados