Em busca de ‘dinossauros’, pai e filho viajam 3,6 mil km de fusca de Santa Catarina ao Ceará

“O sonho dele é tocar em um fóssil e ele conseguiu”, destaca o pai. A dupla saiu de Joinville no dia 13 de julho e chegou ao Cariri na sexta-feira, dia 20.

Escrito por Lucas Falconery e Thatiany Nascimento , ceará
viagem
Legenda: Pai e filho estiveram estiveram na sede do Geopark Araripe, no Crato.
Foto: Patrícia Silva

Quando iniciou um trabalho escolar, em Joinville, em Santa Catarina, sobre os dinossauros que viveram há milhões de anos na Região do Cariri, no Ceará, o adolescente Marcelo Júnior, 15 anos, não imaginava o quanto a tarefa renderia. Ao se deparar com a produção do estudo, o pai do adolescente, o médico Marcelo Ferreira Gonçalves, 54 anos, propôs: conhecer os fósseis reais no Sul do Ceará. No dia 13 de julho, a viagem teve início e, na sexta-feira (20), o Cariri recebeu pai e filho, após 3,6 mil km percorridos no fusca da família.

Por coincidência, foi próximo ao dia em que o fóssil do dinossauro Ubirajara jubatus, recentemente repatriado pelo Brasil, após ter sido levado ilegalmente da Região do Cariri, em 1995, para fora do país, chegou ao Museu de Paleontologia Plácido Cidade Nuvens, na cidade de Santana do Cariri, e entrou em exposição. 

A preparação do pai e do filho incluiu a produção de uma réplica de isopor de pterossauro - réptil que habitou a terra há milhões de anos e viveu no Cariri - que é colocado sobre o fusca como uma identificação da missão. 

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O pai relata que viu o filho fazer o trabalho escolar no qual o tema escolhido pelo adolescente foi os dinossauros da Bacia do Araripe e, ao entrar no quarto: “perguntei o que ele estava fazendo: por que nós não vamos ver isso de perto e vamos no nosso fusca? O segundo passo foi convencer a esposa a autorizar”, conta. 

viagem ao Cariri
Foto: Patrícia Silva

O fusca, há 21 anos, é o “carro da família” e foi o transporte escolhido para concretizar o objetivo do adolescente, cujo contato com os fósseis era restrito a imagens em livros e na internet. “O sonho dele é tocar em um fóssil e ele conseguiu. Isso para ele foi muito importante”, enfatiza o pai. 

“Foi a primeira vez que tive contato com fósseis verdadeiros. Os sítios paleontológicos têm bastante coisas. Foi incrível. Eu quero ser paleontólogo e agora que vejo que tem a profissão, eu tenho mais vontade".
Marcelo Ferreira Gonçalves Júnior
Estudante

A visita aos fósseis ocorreu no Geopark Araripe, na sede do Crato. “O guia do Geopark está levando a gente a todos os sítios paleontológicos”, completa o pai. 

O Geopark Araripe é um tesouro natural localizado em seis municípios da Região do Cariri: Barbalha, Crato, Juazeiro do Norte, Missão Velha, Nova Olinda e Santana do Cariri. A dupla fica no Cariri até segunda-feira (24), quando retorna a Joinville.

viagem para o cariri
Foto: Arquivo pessoal

“Eu sempre gostei de dinossauros. Eu não sei exatamente quando começou isso. Mas sei que um dia meu pai e minha mãe me levaram para uma loja de brinquedos e eu podia decidir o que eu queria pegar, aí eu fiquei com aquele brinquedo, o dinossauro, e meus pais disseram que eu ficava andando com ele”.
Marcelo Ferreira Gonçalves Júnior
Estudante

viagem para o cariri
Foto: Arquivo pessoal

Achados do percurso

O adolescente Marcelo Júnior destaca que a viagem de carro foi muito melhor pois “a gente vê mais coisas, vê a mudança de paisagem, visita mais lugares do que só simplesmente voar e pousar”. O destaque tanto para o pai como para o filho foi a parada em Porto Seguro, na Bahia, quando mergulharam para ver corais e visitaram uma tribo indígena. 

Ele acrescenta que como legado da viagem, além das descobertas relativas especificamente aos fósseis e também a natureza, de modo geral, levará também o aumento da conexão com o pai. “É uma coisa bem profunda de pai e filho. Uma coisa marcante”, relata.  

viagem para o cariri
Foto: Arquivo pessoal

A intenção do pai era justamente essa, ressalta o médico: “Quando ele (filho) fizer 21 anos o carro também vai ser dele. Ter uma memória em relação ao carro. Na minha infância, meu pai teve fusca e era o carro da família. Isso agora está sendo muito bom porque cria uma parceria, uma amizade maior ainda. O legal é que ele começa a fazer mais confidências e tem muita brincadeira”. 

De acordo com ele, o início de uma Pós-Graduação em Psiquiatria o fez perceber que “muitos adoecimentos mentais são oriundos das relações familiares”. 

“Eu queria investir na relação de pai e filho. Ele queria ver os dinossauros. É uma viagem de conhecimento, uma viagem de pai e filho num carro de família e estamos construindo nossa história. O objetivo é fazer uma ligação afetiva com o carro e aproximar a relação. Às vezes, tu tem um filho, passa o fim de semana em casa, mas ele está na sala e você no quarto”.
Marcelo Ferreira Gonçalves
Médico

 

 

 

 

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