Com chance de seca no Ceará, a queima de solo preocupa pelo aumento da área desertificada
Incêndios florestais acontecem para queima de lixo, plantio e até extração de mel
Os focos de calor nos municípios cearenses – como a queima de solo para agricultura – intensificam a preocupação com as áreas desertificadas no Ceará pela possibilidade de seca em 2024. O assunto foi debatido no painel "Impactos das Mudanças Climáticas no Ceará" na Superintendência Estadual da Agência Brasileira de Inteligência (Sece/Abin), nesta quarta-feira (13).
As queimas controladas são previstas no Decreto 2.661/1998 que estabelece normas de precaução relativas ao emprego do fogo em práticas agropastoris e florestais, porém a prática ainda exige educação ambiental no Ceará.
Além disso, outros focos de calor também podem aumentar a desertificação. Os focos de calor são pontos onde a temperatura chega ou ultrapassa 47°C na análise por satélites.
A análise é de Kurtis François, coordenador no Ceará do Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo), participante do Encontro do Sistema Brasileiro de Inteligência (Sisbin).
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"Onde há uso do fogo no bioma da Caatinga, especialmente no Ceará, são áreas em que precisamos ter uma outra visão sobre o manejo adequado. Todas as áreas do Estado são suscetíveis à desertificação e nós percebemos que nessas não há foco de calor, mas nas bordas sim”, analisa.
A desertificação é um processo de degradação das terras que ocorre essencialmente nas áreas que se situam nas zonas áridas. Nesses casos, não há ambiente adequado para a existência de vegetação.
O Ministério do Meio Ambiente indica que entre as áreas onde esse processo está mais avançado, os chamados Núcleos de Desertificação no Semiárido Brasileiro, Inhamuns, no Ceará, aparece na lista.
"Se usa fogo para limpeza de área para plantio, mas o fogo tem que ser discutido na política de desenvolvimento agrário para que possamos mudar isso. Não é o principal causador, mas é o único que a gente consegue identificar muito bem", completa Kurtis.
Com o eventual prejuízo para a quadra chuvosa do próximo ano no Estado, ele analisa que "vamos ter mais períodos secos e isso vai exigir mais cuidados e temos que pensar na perspectiva do agricultor", frisa.
Gerenciamento do fogo
O coordenador do Prevfogo indica que a gestão pública precisa repensar o uso do fogo pela população. "O agricultor para fazer alimento tem que limpar a terra para plantio e usa fogo para isso, o que está previsto em decreto, mas precisamos avançar nisso", reforça sobre a atenção com os produtores de alimento.
Com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), o Ceará teve, até terça (12), 5.904 focos de calor, enquanto no ano passado foram cerca de 4.400.
No Estado, Boa Viagem, no Sertão Central, concentra as áreas com foco de calor, conforme Kurtis. "O Prevfogo atendeu 20 acionamentos de incêndio florestal ligados à queima de lixo, cultivo, extração de mel, caça e indeterminados", acrescenta sobre o balanço geral deste ano.
Por isso, ele aponta a necessidade de planejamento interinstitucional, aumento dos recursos humanos e materiais, educação ambiental e a criação de um sistema integrado de informações sobre fogo.
"A caatinga é um dos biomas mais frágeis em relação ao fogo, as sementes, árvores centenárias e outras riquezas ambientais pegam fogo e viram carvão", frisa sobre o cenário.
Evento
O painel também foi formado pela Defesa Civil do Ceará, Secretaria do Desenvolvimento Agrário (SDA) e Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh).
“O meio ambiente tem a ver não só com inteligência, mas com todas as ações humanas. O aquecimento global não é brincadeira e afeta todas as populações. Por isso, temos de debater isso -- a inteligência tem um caráter antecipatório”, explanou um oficial de inteligência com identificação preservada.
Diego Vieira de Azevedo, superintendente da Abin, ministrou palestra sobre o “novo Sistema Brasileiro de Inteligência”. O Sisbin foi reformulado pelo Decreto n° 11.693, assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O encontro também promoveu o painel "Estratégias de Combate à Lavagem de Dinheiro".