Com aporte do Castanhão neste ano, Grande Fortaleza está há 4 meses sem usar água da transposição
Chuvas de 2022 mudaram a relação entre o Castanhão e Transposição do Rio São Francisco
Por longos anos a Transposição do Rio São Francisco povoou o imaginário do cearense como a grande esperança para pôr fim a agonia da estiagem. Recaía sob essa obra, que se arrastou por mais de uma década, a missão de garantir o abastecimento humano ao Ceará. No entanto, hoje esse cenário de completa dependência começa a ser descontruído.
Em 2022, as chuvas intensas e muito bem distribuídas contribuíram para a elevação do nível de importantes açudes cearenses, como o Orós e o Castanhão, o maior reservatório cearense e responsável pelo abastecimento de mais de 4 milhões de pessoas.
O gigante das águas mais que duplicou de volume em menos de 5 meses e conquistou uma respeitável autonomia não saboreada há, pelo menos, sete anos.
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O titular da Secretaria de Recursos Hídricos (SRH) do Estado, Francisco Teixeira, explica que, agora, o Castanhão com seus 24,2% não possui, atualmente, qualquer dependência das águas da Transposição do Velho Chico.
O que fez o nível do açude Castanhão subir de 8% para quase 24% foram as chuvas. O reservatório pegou mais de 1 bilhão de m3, deixando o seu nível atual em 1,6 bilhões de m3. Do volume adquirido, nem 10% foi proveniente do São Francisco.
Neste ano, o Castanhão recebeu apenas 70 milhões de metros cúbicos advindos do Projeto de Integração do Rio São Francisco (Pisf). Diante do volume reduzido transposto, Teixeira revela que, agora, a tendência é que a vazão reduza para os próximos anos.
"No ano de 2022, houve transferência de água do Castanhão para RMF apenas no mês de fevereiro, com volume em média 10m3/s., e desde o final do referido mês não houve nenhuma outra transferência de água do Castanhão para a RMF", detalhou Teixeira. Desta forma, nos demais meses deste ano, a água que chegou via transferência do Pisf ficou armazenada no reservatório.
A consequência direta disso é a manutenção da capacidade de armazenamento do Açude. Com o atual volume, "a garantia de abastecimento para os próximos dois anos".
Quando questionado se o Castanhão pode se considerar total independente da Transposição, Teixeira reconhece os bons aportes conquistado deste ano, mas, mantém cautela ao dizer que "é preciso observar as próximas quadras chuvosas".
A vazão de transferência, que aponta para tendência de redução dado ao atual bom cenário, é "sempre discutida com o Ministério do Desenvolvimento Regional e a Agencia Nacional de Águas", acrescenta o titular da SRH.
Preocupação e alerta
As águas do Rio São Francisco começaram a ser transpostas ao Ceará em junho de 2020, há exatos dois anos. À época, o Castanhão tinha somente 15% de volume armazenado, conforme dados da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh).
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Um ano depois, o volume caiu para 12%, devido a paralisação da transferência hídrica. O ano de 2022 começou com cenário delicado para o Castanhão, com somente 8% de volume armazenado.
Com este índice, haveria risco de complicação no abastecimento para a Região Metropolitana de Fortaleza e as regiões do Baixo e Médio Jaguaribe caso não houve recarga satisfatória.
Tal recarga era esperada da Transposição, no entanto, a quadra chuvosa benevolente deste ano mudou essa perspectiva. "O PISF foi concebido para efetuar a transferência de água para o Castanhão e, no futuro, para o Orós, de modo a garantir segurança nos anos de maior escassez hídrica", detalha o secretário.
Em 2022, a vazão enviada do Velho Chico ao Castanhão era de 10m³/seg, "mais ou menos a mesma quantidade de água que é utilizada em Fortaleza. E, neste começo de ano, apenas em fevereiro a Capital utilizou água vinda da Transposição", acrescentou, reforçando a ruptura da dependência do maior açude cearense ao Pisf.