Cirurgião plástico cearense é investigado por lesão corporal contra pelo menos 10 mulheres
O médico nega as acusações e pontuou que a maioria dos casos ocorreu por falta de cuidado das pacientes após a cirurgia
Pelo menos dez mulheres denunciam complicações graves após a realização de cirurgia plástica com um médico cearense. Dalvo Neto atende em um consultório no bairro Aldeota, em Fortaleza, e nega ser responsável pelas sequelas.
A situação das mulheres foi revelada em reportagem do Fantástico neste domingo (10). O dominical ouviu relatos de pacientes que mostraram seus corpos deformados após procedimentos como prótese nos seios e abdominoplastia.
"O meu umbigo necrosou logo de início. Ele pegou uma tesoura no consultório dele e abriu meu umbigo. Ele costurou, deu uns pontos mesmo e ficou horrível, vou levar a marca para o resto da minha vida".
Outra paciente, que pediu para não ser identificada, falou sobre sequelas permanentes, incluindo psicológicas.
"Eu me sinto mutilada, não só o meu estético, o meu emocional, o meu psicológico está muito abalado. Com cinco dias de operada eu cheguei a reunir os meus filhos para me despedir deles. A minha cirurgia ficou toda aberta com poucos dias. Em novembro eu resolvi ir às redes sociais falar porque antes disso eu conheci outras vítimas", relata.
Inquérito
Dalvo Neto é alvo de inquérito policial na Polícia Civil do Estado do Ceará (PC-CE). Em entrevista ao programa, o médico negou as acusações e pontuou que a maioria dos casos ocorreu por falta de cuidado das mulheres após a cirurgia.
“Não me considero responsável e nem culpado. O que aconteceu foi uma política de disseminação de ódio nas redes sociais”, diz o cirurgião.
Neto pontua que já tem mais de 3 mil cirurgias de sucesso e comenta que “dói muito” ver a situação de pacientes que evoluem para processos de infecção e necrose. “Não oferecemos 100% de eficácia, mas posso garantir que estou sempre do lado delas quando precisarem”, explica.
Dificuldade de retorno pós-cirúrgico
Apesar de Dalvo apontar importância do apoio médico aos pacientes, parte das mulheres relataram ter sentido dificuldade para ser atendida no retorno com o cirurgião.
"Há uma demora no pronto-socorro, no pronto-atendimento frente ao surgimento de algo que fugiu do esperado na cirurgia", declarou uma das pacientes.
A mulher ainda relatou a dificuldade de entrar em contato com ele. "A gente só tem acesso às secretarias dele, nunca tive o número pessoal dele", disse.
De acordo com uma ex-funcionária da clínica, que não quis ser identificada, as pacientes que apresentavam problema não recebiam a mesma atenção daquelas que tinham uma cirurgia de sucesso.
"O primeiro atendimento era uma coisa assim, como se fossem melhores amigos, mas depois do pós-cirúrgico que foi aquela paciente que estava dando problema, ele já não tinha essa atenção, elas inclusiva não entravam pela mesma sala".
Ações de indenização
Por causa das sequelas, parte das pacientes entraram com ações judiciais de indenização e oficializaram denúncias sobre o caso delas para o Conselho Regional de Medicina (Cremec).
Segundo o advogado Caico Borelli, o parecer técnico deixou evidente que "não há dúvidas em relação à ocorrência do nexo de causa entre as lesões vistas ao exame físico, psiquiátrico e o procedimento cirúrgico".
Com essa conclusão, as pacientes conseguem entrar com uma "ação pleiteando a indenização para confirmar que houve um erro médico", conclui Borelli.
Investigações
A delegada da Polícia Civil responsável pelas investigações, Anna Victoria, apontou que as vítimas foram ouvidas separadamente e que, após ouvir o médico e novas testemunhas, será dado um prazo para que outras vítimas apareçam para deixar seus depoimentos.
Uma vez finalizada essa etapa, o Ministério Público deve seguir com o caso para averiguar se irá fazer a denúncia ou se a ocorrência ainda precisará passar por outras diligências.
Orientações
De acordo com Alexandre Kataoka, diretor da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, os pacientes devem buscar se informar sobre o histórico dos profissionais que oferecem cirurgias plásticas antes de iniciar um procedimento.
"Veja se esse profissional tem uma formação adequada, se é membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica e que não seja só um profissional que fique mostrando fotos de antes e depois e de resultados ou que tem milhares de seguidores. Isso não demonstra a habilidade desse profissional", alerta.
Sociedade cearense se posiciona
Em nota emitida após a repercussão da reportagem do Fantástico, a regional cearense da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) afirmou que Dalvo Neto é "membro titular" da entidade e "seguiu todas as etapas de formação da nossa sociedade médica".
"O colega atua há mais de 10 anos na profissão e não há nada que o impeça de exercer a função de cirurgião plástico", diz a nota. A entidade ressalta que, "como em qualquer outro procedimento, cirúrgico ou não, complicações podem ocorrer" após as cirurgias plásticas.
"Entendemos que as redes sociais e a mídia em geral são importantes meios de comunicação, entretanto postagens ou mesmo reportagens não conseguem mostrar os detalhes necessários para o julgamento completo de um caso. Reforçamos a importância de que a melhor forma e análise dos casos seja feita pela Justiça e os Conselhos Regional e Federal de Medicina", defende a SBCP.