Cearense motorista de App é aprovado em medicina na Uece após 5 tentativas: 'era o sonho dos meus pais'
Aprovado na Uece de Crateús, Victor Emanoel Rocha Silva realiza vaquinha para ajudar no custo da mudança

O motorista de aplicativo Victor Emanoel Rocha Silva, de 24 anos, conquistou um sonho que parecia distante: ser aprovado no curso de medicina. Depois de cinco anos de tentativas, o cearense garantiu uma vaga na Universidade Estadual do Ceará (Uece), no Campus de Crateús. "Eu sempre tive na minha cabeça que ia ser médico, não importava o tempo que durasse", afirmou em entrevista ao Diário do Nordeste.
Natural de Fortaleza e morador do bairro Parque Dois Irmãos, Victor sempre teve a medicina como objetivo. Para alcançar a vaga, equilibrou os estudos com jornadas de trabalho que chegavam a 12 horas nos finais de semana. Em meio ao trabalho como motouber, enfrentou desafios como tentativas de assalto e até um acidente de moto, no começo de 2024.
"Um dos principais percalços é a questão do risco. Sofri assalto, tentativa de assalto. Ser motorista de aplicativo tem esse problema, você está em todos os bairros, e tem lugares muito perigosos. Mas eu não ia entrar nesses riscos se não enxergasse uma luz no fim do túnel."
Entre 2020 e 2024, cursou o preparatório em cursinho particular, com bolsa integral, aproveitando ao máximo as horas disponíveis para estudar antes de começar a jornada de trabalho. "Eu precisava dominar a prova, fazer todas as anteriores em pouco tempo, fora aprender as matérias. O mais difícil foi a questão do tempo limitado, então eu tinha que ser mais assertivo. Eu não podia perder muito tempo", explicou.

Apesar disso, destaca a vantagem da flexibilidade em seu trabalho. "Foi essencial, porque eu conseguia fazer com que o trabalho se encaixasse na minha rotina de estudo, isso foi crucial, gostava de estudar de manhã. Eu rendia melhor de manhã", explicou.
Agora, Victor pode comemorar a conquista: ser a primeira pessoa da família a ingressar no curso de medicina.
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'Ápice da felicidade'
Filho de uma feirante e de um vendedor ambulante, Victor sempre contou com o apoio dos pais e da irmã. "Meu pai acreditou em mim contra tudo e contra todos", afirma. Enquanto a mãe chegou a concluir o ensino médio, o pai estudou apenas até a quinta série. Com o desejo de uma vida melhor para o filho, sempre incentivaram Victor a correr atrás de seus sonhos.
"Quando veio a aprovação, minha família comemorou bastante, era o sonho dos meus pais. Meu pai é galego e minha mãe é feirante, trabalha em feira. Para eles, foi o ápice de felicidade".

Mas Victor não esconde: às vezes, batia a ansiedade. "Um medo de não conseguir, mas eu sempre tive a convicção que ia ser médico, não importava o tempo que demorasse, se tivesse que estudar mais, eu ia. Eu ia ser médico. Não me via em outra profissão", repetiu.
Segundo ele, a vontade de ser médico surgiu na infância, com as idas frequentes a hospitais devido a problemas de saúde na família. "Meu pai é diabético, e a gente vivia em hospital. Eu também tinha dermatites e ia muito ao Albert Sabin", relembra. Agora, aprovado, ele já tem uma área de interesse definida: cirurgia ortopédica.
Vaquinha para custear mudança
Com a aprovação, veio a necessidade de se mudar para Crateús, no interior do Ceará. Desde a última sexta-feira (21), está tentando se adaptar à nova cidade. Apesar da mudança, não pretende abandonar o trabalho como motorista de aplicativo e seguirá fazendo corridas pela plataforma UrbanCrat para se manter durante a graduação.
As aulas começam na próxima quinta-feira (27), e a expectativa é grande. "Era o sonho dos meus pais. Quando veio a aprovação, eles comemoraram muito", diz. Além disso, organizou uma vaquinha para ajudar nos custos da mudança.

Para ele, um trecho da música Forte pra dar sorte, do MC Hariel, reflete sua trajetória: “A fase ruim é um combustível pra quem sonha, basta você de uma nova forma enxergar, que quem corre atrás alcança”.
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