Ceará não atinge meta de vacinação de crianças com 2ª dose contra sarampo há 7 anos
Proteção contra caxumba e rubéola, que completam o trio de doenças combatidas pela tríplice viral, também está comprometida no Estado
O lembrete de que vacinas salvam vidas foi renovado com a pandemia de Covid, mas vale para todas as outras doenças preveníveis por imunização: como o sarampo. As coberturas vacinais para essa doença no Ceará, porém, preocupam: desde 2020, a meta de vacinar pelo menos 95% das crianças de 1 ano não é atingida.
Ao completar 1 ano de idade, as crianças devem tomar a 1ª dose (D1) da tríplice viral, que previne contra sarampo, caxumba e rubéola. Três meses depois, vem a 2ª dose (D2), chamada de reforço, recomendada desde 2013.
Em 2020, só 90% do público-alvo tomou a D1; e 70%, a D2. No ano passado, as coberturas no Ceará foram ainda menores: 73% tomaram a D1, e somente 53% garantiram o reforço. Os dados são do Sistema de Informações do Programa Nacional de Imunizações (SI-PNI), extraídos e enviados à reportagem pela Secretaria Estadual da Saúde (Sesa).
Em Fortaleza, o cenário não é muito distinto. A meta de cobertura da tríplice viral não foi atingida em 2021, quando só 71,5% do público tomou a primeira dose da vacina. A baixa procura pela segunda dose deixa a cidade abaixo da meta desde 2017.
A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) reforça que “o esquema vacinal contra o sarampo faz parte das vacinas de rotina, inseridas no Calendário Nacional de Vacinação, e compreende duas doses, disponíveis durante todo o ano nos postos de saúde”. Até fevereiro, menos de 50% das crianças de 1 ano da cidade haviam sido vacinadas em 2022.
Sarah Mendes, secretária executiva de Vigilância em Saúde da Sesa, ressalta que o vírus do sarampo tem uma taxa de transmissão muito maior que o da Covid, por exemplo. "Um infectado pode contaminar até 16 pessoas não imunizadas", alerta a gestora, que reforça a necessidade de pais e responsáveis manterem os pequenos vacinados.
A imunidade da tríplice viral só é conferida na totalidade após a segunda dose: a D1 sozinha não confere imunidade ao indivíduo.
Sarampo pode causar problemas neurológicos
As conhecidas “manchinhas” vermelhas na pele, características do sarampo, expõem uma doença que pode evoluir de forma grave, chegando a causar complicações no sistema nervoso, como explica a pediatra Vanuza Chagas.
“O sarampo é uma doença grave, extremamente contagiosa, que afeta todas as faixas etárias. Pode causar, além de infecções respiratórias graves, sérias complicações neurológicas”, alerta a médica.
Até 2016, éramos área livre do sarampo, e justamente pela baixa cobertura vacinal e quebra dos esquemas, com a não realização das doses de reforço, se viu o retorno da doença ao Brasil.
A pediatra frisa ainda que, além da dose regular, aos 12 meses de idade, há orientação para aplicação da chamada “dose zero” em bebês a partir de 6 meses. Quem não tomou nos períodos certos deve buscar a imunização “o mais rápido possível”, como destaca Vanuza.
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No Ceará, a Campanha Nacional de Vacinação contra o Sarampo foi prorrogada até 24 de junho. O objetivo é imunizar 95% das crianças de 6 meses a 5 anos incompletos, além de trabalhadores da área da saúde.
“É necessária a mobilização de todo o sistema de saúde, incluindo as redes pública e privada de atendimento, escolas, agentes comunitários de saúde, igrejas, todo instrumento que se puder ter de conscientização e divulgação da importância da vacinação como a única alternativa para controlar várias doenças”, pontua Vanuza.