CE identifica 140 povos e mais de 50 línguas indígenas faladas, aponta IBGE

A etnia mais populosa e a língua mais utilizada mudaram entre 2010 e 2022.

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Redação producaodiario@svm.com.br
Imagem mostra área de mata seca, com casebre ao fundo. Ao meio, de costas e vestindo acessório típico, um indígena cearense vestindo bermuda jeans, camiseta e chinelos.
Legenda: Ceará é o estado brasileiro com maior parte dos indígenas declarados Tapebas, segundo o Censo do IBGE de 2022.
Foto: Kid Júnior.

A presença resistente de povos indígenas no Ceará teve números oficiais atualizados nesta sexta-feira (24): com mais de 56 mil indígenas, o Estado tem identificadas 140 etnias e 51 línguas originárias faladas ou utilizadas, de acordo com o Censo Demográfico de 2022 do IBGE.

A quantidade de etnias, povos ou grupos indígenas no Ceará teve um crescimento expressivo em relação ao Censo de 2010, quando foram contabilizadas 93. As línguas declaradas também aumentaram: há 15 anos, eram 43; no último Censo, foram 51.

O Ceará é o estado com a maior presença de povos Tapeba em todo o Brasil.

A maioria dos indígenas cearenses pertence a uma etnia já bastante conhecida no Estado: a Tapeba, que soma mais de 11 mil pessoas. Em seguida, aparecem os Tremembés, com 6,3 mil habitantes; e os Pitaguaris (que predominavam até 2010), com 6,2 mil pessoas autodeclaradas.

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O levantamento mostrou ainda que mais de 4,5 mil pessoas de 2 anos ou mais de idade que se autodeclaram indígenas não informaram a qual etnia pertencem. Outras 4,8 mil não souberam informar. 

Por outro lado, 80,5% (44 mil) firmaram o nome do povo do qual se originam – e 584 declararam pertencer a dois povos ou grupos.

Entre todas as unidades da federação, o Ceará é o 14º com maior número de etnias identificadas. O estado líder é o Amazonas.

Etnias indígenas mais populosas no Ceará

  • Tapeba - 11.189 residentes
  • Tremembé - 6.350
  • Pitaguari - 6.247
  • Potiguara - 5.493
  • Anacé - 5.481
  • Tabajara - 5.433
  • Agrupamento Jenipapo-Kanindé/Payaku - 1.727
  • Kanindé - 1.184
  • Tapuya-Kariri - 1.038
  • Kariri - 782
  • Jenipapo-Kanindé - 502
  • Agrupamento Guarani (Avá-Guarani, Guarani Kaiowá, Guarani Mbya, Guarani Nhandeva e Tupi-Guarani) - 343
  • Kalabaça - 329
  • Tubiba-Tapuia - 196
  • Tupinambá - 178
  • Karão-Jaguaribaras - 149
  • Guarani - 129
  • Warao - 121
  • Tupi-Guarani - 117
  • Gavião do Ceará - 101

Povos vivem fora de terras indígenas

O Ceará tem, hoje, sete terras indígenas oficialmente delimitadas. Das 140 etnias identificadas em todo o Estado, apenas 17 vivem dentro desses territórios, conforme o Censo. Em 2010, apenas três etnias ocupavam esses espaços.

Do povo indígena mais populoso no Ceará, o Tapeba, menos da metade (46,1%) vive dentro das terras indígenas delimitadas. Outros 49,2% dos indígenas vivem fora das terras em zonas urbanas e 4,4% em zonas rurais.

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Entre os Tremembés, a tendência se repete: das 6,3 mil pessoas autodeclaradas, 58,7% residem fora de terras indígenas e em situação rural, 18% vivem fora em zonas urbanas, enquanto apenas 23,2% dos indígenas moram dentro das terras delimitadas à etnia.

Dos Pitaguari, terceira etnia mais numerosa no Ceará, com 6.247 pessoas, mais da metade (53,4%) também não moram dentro das terras delimitadas. Entre os Potiguara, apenas 0,2% residem em terras indígenas. O Ceará é o 3º estado com maior quantidade de indígenas dessa etnia.

O IBGE afirma que “a declaração de etnia foi percentualmente maior (99,6%) entre as pessoas indígenas que residem em terras indígenas”.

Nheengatu é língua mais usada

Imagem mostra uma criança da etnia Warao em Maracanaú, no Ceará. Aparecem parte do sorriso do menino e as mãos mostrando um colar de contas.
Legenda: Criança da etnia Warao em Maracanaú, no Ceará, em imagem registrada em 2023.
Foto: Fabiane de Paula.

Traço importante do DNA brasileiro, as línguas indígenas têm se “perdido” entre as novas gerações, apesar de somarem 51 em uso no Estado – apenas 873 dos indígenas cearenses com 2 anos ou mais de idade falavam ou utilizavam línguas originárias, em 2022. É 1,6% dessa população.

É o segundo menor percentual do Brasil, à frente de Sergipe (18,3%) e atrás do Rio Grande do Norte (26,5%)  e Pernambuco (29,63%).

As línguas indígenas do tronco Tupi são as mais faladas no Estado, com 437 falantes, com destaque para o Nheengatu (200 falantes) e o Tupi-Potiguara (98 falantes). Fora do tronco Tupi, aponta o IBGE, destacam-se a língua Tapeba, com 95 falantes, e Warao, com 102.

No Ceará, a língua indígena com mais falantes é a Nheengatu. Até 2010, era a Tremembé.

O Censo de 2022 mostrou ainda que a maioria dos falantes de línguas indígenas (92%, o que corresponde a 803 pessoas) reside fora de terras delimitadas.

Censo 2022

Os novos dados sobre diversidade étnica e linguística da população indígena residente no Brasil integram o Censo Demográfico de 2022, cujas informações são divulgadas de forma escalonada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O órgão reforça que as informações permitem não apenas atualizar o retrato desses povos no Ceará e no Brasil, como “refinar as principais características sociodemográficas, por etnias, povos e grupos, considerando para tal os recortes territoriais específicos”.

O Censo é a mais abrangente pesquisa estatística do IBGE, realizada, via de regra, a cada dez anos, para levantar e expor informações sobre as pessoas que residem no Brasil.

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