Após mudança de mausoléu, restos mortais de Castelo Branco ficarão no Ceará; veja novo local
O Exército Brasileiro disse que aguarda o Governo do Estado emitir um documento no qual se compromete a realizar o traslado das urnas funerárias e a construção de um novo mausoléu
Os restos mortais do cearense Humberto de Alencar Castelo Branco - primeiro militar a assumir a presidência durante a ditadura instaurada no Brasil após o golpe de 1964 - e de sua esposa, Argentina Vianna, devem permanecer em Fortaleza. Eles estavam sepultados no antigo mausoléu, em Fortaleza, que levava o nome do militar. O espaço foi desativado pelo Governo do Estado em junho deste ano e deu lugar à Galeria da Liberdade. A família do militar chegou a considerar o retorno dos restos mortais para o Rio de Janeiro, mas decidiu mantê-los no Ceará.
Conforme apurado pelo Diário do Nordeste junto a uma das netas de Castelo Branco que reside no Rio de Janeiro, os familiares agora aguardam a comunicação oficial do Governo do Ceará sobre como será o procedimento de transferência dos restos mortais. De acordo com as netas, eles devem ser levados para o 23º Batalhão de Caçadores do Exército, localizado na Avenida Treze de Maio.
A intenção de retirada do monumento do mausoléu do Palácio da Abolição, sede do Governo do Estado, foi anunciada em agosto de 2023 pelo governador Elmano de Freitas (PT) e se concretizou somente em junho de 2025.
Veja também
Nesse intervalo de tempo, o Diário do Nordeste noticiou que a família cogitou levar os restos mortais para o Cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro. Foi lá que Castelo Branco foi sepultado em 1967 - após um acidente aéreo - junto à esposa que morreu em 1963. Com a construção do Mausoléu, em 1972, os restos mortais dos dois foram transferidos para a capital cearense.
Em junho deste ano, o espaço foi substituído pela Galeria da Liberdade em um movimento de ressignificação do espaço. O equipamento cultural aberto é vinculado ao Museu da Imagem e do Som (MIS) e tem como foco a luta pelos direitos humanos.
Na inauguração do espaço, a secretária da Cultura, Luisa Cela, disse que os restos mortais que estavam no mausoléu foram retirados e seriam realocados, sem apontar ainda o lugar exato.
“O acervo de vestimentas, armas, do presidente, foi devolvido ao Exército. Toda essa documentação está com a família [dele]. [...] Os restos mortais seguem sob responsabilidade do Governo. [...] É aguardar a decisão da família sobre o destino [que terão]", explicou Luisa Cela à época.
Novo espaço de sepultamento
O Diário do Nordeste procurou a 10ª Região Militar para saber mais informações sobre quando ocorrerá o translado e como será o novo espaço no qual os restos mortais ficarão abrigados. Em nota, o Exército Brasileiro, por intermédio da 10ª Região Militar, informou que aguarda o Governo do Estado formalizar a transferência por meio da emissão de um documento oficial, visto que a família já concordou com o procedimento.
Nesse documento, acrescenta a nota do Exército, o Governo deverá também declarar que assumirá os custos relativos ao traslado para o 23º Batalhão de Caçadores, bem como “deve constar o compromisso com a construção de um novo mausoléu nas dependências do 23º BC”. O translado dos restos mortais será feito em parceria pelo Exército e o governo estadual assim que as obras do novo monumento foram concluídas.
O Diário do Nordeste entrou em contato com o Governo do Estado sobre o assunto. A gestão estadual disse apenas que "segue em tratativas com a família do ex-presidente Castelo Branco e o Comando do Exército".
Como era o antigo mausoléu?
O antigo Mausoléu, localizado junto à sede do Governo do Ceará, na Avenida Barão de Studart, em Fortaleza, funcionou na grande estrutura em concreto armado com um balanço de 30 metros suspenso, que se projeta sobre o espelho d’água.
Na época do traslado dos corpos do Rio de Janeiro para Fortaleza, o filho do casal, capitão Paulo Castelo Branco, foi um dos responsáveis e na inauguração do mausoléu entregou oficialmente os restos mortais dos pais à gestão estadual, conforme registra a edição do Jornal do Brasil do dia 19 de julho de 1972.
Quando inaugurado, a câmara funerária foi situada no monumento na extremidade final do balanço e era antecedida por galerias que abrigavam a exposição de documentos e objetos de Castelo Branco.
Na inauguração da Galeria da Liberdade, o governador Elmano destacou que: “estamos fazendo um reparo histórico por meio desse espaço. O espaço que representa o poder político do Ceará precisa ser um local de união para o povo cearense. Aqui está a bandeira do Ceará e, se tem algo que orgulha muito qualquer cearense, é dizer que foi aqui onde se libertou primeiro os escravos no país. Tenho absoluta convicção que ter a Galeria da Liberdade no Palácio da Abolição une o povo cearense”.
Na ocasião, Elmano também enfatizou o repúdio a ditadura militar e declarou “precisamos ter um espaço para falar bem da democracia, do amor ao próximo, do povo negro, dos povos indígenas”.