Quais os 5 pontos da Educação que Elmano de Freitas precisa priorizar no Ceará

Nova gestão assume desafio de ampliar ensino integral, ofertar formação continuada de professores e atender demandas sociais de alunos

Quando são divulgados resultados de indicadores educacionais e vestibulares disputados nacionalmente, o cearense se destaca. Por outro lado, demandas históricas afetam a Educação do Estado, como falta de infraestrutura, de formação continuada de professores e de assistência à saúde mental.

Por isso, o Diário do Nordeste ouviu especialistas, sindicato, estudante de escola pública e o governador eleito, Elmano de Freitas (PT), no dia seguinte ao resultado das urnas sobre quais rumos a educação pública do Ceará deve tomar nos próximos 4 anos.

O tema, inclusive, preocupa 37% da população no Estado, conforme a pesquisa Ipec Ceará, sobre a intenção de voto e opinião dos eleitores, divulgada em setembro pelo Sistema Verdes Mares.

As avaliações mais críticas da educação foram feitas por pessoas entre 25 e 34 anos e com escolaridade até o ensino médio. Ao todo, 45% de cada segmento desse eleitorado avaliam a gestão da educação como um dos três setores mais críticos no Ceará.

A urgência de cuidar da educação fica evidente ao se olhar para o Ensino Médio: o Ceará não alcança a meta no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) há 5 edições. No levantamento de 2021, a etapa obteve nota 4,3, quando a meta era 5,1.

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Os desafios, então, são numerosos e complexos. Mas o que deve ser priorizado para solucioná-los?

5 pontos em que o novo Governo do Estado deve focar

1- Universalização das escolas integrais

Manter os estudantes o dia todo na escola, com tempo preenchido por atividades complementares e agregadoras, é uma medida apontada por especialistas como parte da fórmula para melhorar a Educação.

Para o professor Marco Aurélio de Patrício, doutor em psicologia e pós-doutor em educação, “sem sombra de dúvidas a bandeira de luta do novo governo tem de ser a universalização do ensino em tempo integral”.

Você dá ao aluno a oportunidade de um 2º turno de atividades, com inglês, espanhol, esportes, artes, reforço em tarefas que ele tiver dificuldades. Se tiver que dizer um só fator que geraria um salto de qualidade na educação, seria esse.
Marco Aurélio de Patrício
Doutor em Psicologia e pós-doutor em Educação

Implementar o ensino em tempo integral em todas as escolas estaduais é uma das metas e promessas do governador eleito. “Na área da educação, (a meta é) terminar o governo com 100% das escolas integrais. E isso implica em reforma e construção de escolas”, citou Elmano.

Outro ponto destacado pelo futuro gestor é a necessidade de apoiar os estudantes para além dos muros das instituições. “Vários são muito pobres e ajudam as famílias financeiramente. É preciso garantir uma bolsa, um auxílio financeiro, para no final de semana ele ter uma alimentação adequada”, destacou.

2- Formação continuada para os profissionais da educação

“Investir pesado na formação contínua dos diretores escolares e da equipe técnica”, para Marco Aurélio de Patrício, é uma das medidas básicas para obter resultados em maior escala. O professor aponta que diretores “contribuem muito a favor ou contra a qualidade de ensino da escola onde estão”.

Além disso, a “formação permanente de professores, para que haja profissionais mais qualificados em sala de aula”, é destacada como fundamental pelo especialista. Ele elenca, ainda, 3 focos a serem adotados nessa preparação dos docentes:

  • Formação em conteúdo, para que tenham conhecimento do que ensinam; 
  • Adoção de novas didáticas de ensino, em que o aluno seja protagonista da aprendizagem;
  • Trabalhar habilidades para formação de vínculos saudáveis com os estudantes.

Outro aspecto que o professor aponta como crucial é a “retirada da influência política negativa na educação”. “No interior, ainda tem diretor de escola escolhido por vereador, e isso é danoso para muitos municípios”, afirma Marco, que já foi secretário de Educação de Sobral.

“Se isso for feito, veremos melhorias em 2 ou 3 anos”, finaliza.

3- Assistência de saúde mental nas escolas

Hoje, as unidades de ensino estaduais contam com 60 psicólogos educacionais e 24 assistentes sociais “para fazer o acompanhamento” da comunidade escolar, como informou a Secretaria da Educação (Seduc), em nota ao Diário do Nordeste.

“Os profissionais estão distribuídos nas 20 Coordenadorias Regionais de Desenvolvimento da Educação (Crede) e nas 3 Superintendências das Escolas Estaduais de Fortaleza (Sefor)”, complementa a Pasta.

Doutor em psicologia, Marco Aurélio pontua que “já é a hora de todas as escolas terem uma equipe de psicólogos atuando no dia a dia”, o que ele frisa ser importante até para efetivar a política de educação inclusiva.

"Com a política de inclusão, é preciso ter alguém que entenda das síndromes dos estudantes que chegam às escolas e oriente os professores a uma prática correta", diz.

Além disso, ele alerta que o psicólogo pode trabalhar nas escolas “um fator que é desencadeante de várias patologias: a ansiedade”. “Ninguém saiu normal da pandemia. Sensações de orfandade e de medo são presentes, entre crianças e adolescentes nem se fala. E o profissional pra lidar com isso é o psicólogo”, frisa.

4- Adequação da estrutura

Salas arejadas, com espaço suficiente e confortável; banheiros com acesso regular a água e esgoto; conexão à internet. Critérios básicos de infraestrutura ainda não são universais nas instituições de ensino cearenses. São demandas históricas.

O professor Julio Racchumi, especialista em indicadores de gestão educacional e docente da Universidade Federal do Ceará (UFC), destaca que a falta de infraestrutura das escolas cearenses é histórica, e foi evidenciada no período da pandemia de Covid-19.

“Na pandemia, vimos que muitas escolas não tinham condições de fazer a retomada presencial, por causa da infraestrutura. Muitas instituições, principalmente na Região Metropolitana de Fortaleza, ainda não têm”, avalia.

O especialista pontua que, além de questões como acesso à água, esgoto e a salas ventiladas, garantir laboratórios estruturados é fundamental no processo de aprendizagem. “Falamos muito da tecnologia dentro da educação, mas acho que ainda é preciso mais atenção à igualdade de oportunidades”, pontua Julio.

5- Fortalecimento do ensino superior

No Ceará, as Universidades Estadual (Uece), Regional do Cariri (URCA) e do Vale do Acaraú (UVA) são geridas pelo Governo do Estado, tendo milhares de estudantes matriculados anualmente.

Esses espaços são consolidados como centros de formação de profissionais qualificados, como avalia o Sindicato dos Docentes da Uece (SindUece).

“É preciso lembrar que, durante a pandemia, a Uece desenvolveu uma vacina contra a Covid-19 em tempo recorde e de baixo custo. São as estaduais que mais formam docentes que vão atuar no Ensino Básico”, destacou o Sindicato em nota.

A entidade listou, portanto, 4 compromissos que espera serem assumidos pela nova gestão:

  1. Investir nas universidades estaduais, com aumento do orçamento e garantia de autonomia administrativa, financeira e pedagógica;
  2. Apresentar projeto de lei que garanta autonomia para abertura de concurso públicos para cargos vacantes (decorrentes de aposentadoria, falecimento ou exoneração). “Na Uece, por exemplo, temos um déficit que supera 400 docentes e precariza o trabalho e o ensino”, acrescenta o sindicato;
  3. Ampliar políticas de assistência para garantir a permanência estudantil. É necessário que a permanência dos estudantes de baixa renda seja garantida pelo Estado, com oferta de alimentação, transporte, moradia, inclusão digital e outros aspectos relevantes para a redução da desigualdade de oportunidades;
  4. Respeitar as legislações duramente conquistadas pelo movimento sindical, como o Plano de Cargos, Carreiras e Vencimentos dos docentes e técnico-administrativos e a data-base anual para reposição salarial.

Quais são as propostas do governador eleito?

Elmano de Freitas estabeleceu “diretrizes mestras” no plano de governo, sendo a primeira referente à educação. O governador eleito estabeleceu a cooperação com municípios para melhoria e inovação da gestão educacional.

Esse esforço, como detalha o documento, deve ser para garantir a entrada e a permanência dos estudantes nas escolas públicas do nível infantil ao médio.

“Da mesma forma, assegurar a efetiva articulação do Ensino Médio à Educação Profissional, considerando o mundo do trabalho e renda e a participação política e cidadã”, completa.

Confira alguns pontos do plano de governo voltados à Educação:

  • Ampliação, ao máximo, da oferta de educação pública em tempo integral, com uma proposta de currículo integrado em todas etapas e modalidades da educação básica
  • Garantir a valorização de profissionais do magistério e demais trabalhadores da educação, considerando a melhoria da remuneração, a formação inicial e em serviço, a perspectiva de carreiras e as condições de trabalho na escolas
  • Promoção de cuidados à saúde física, afetivo-emocional e social dos estudantes, professores e suas famílias como promotor da qualidade do ensino e aprendizagem
  • Fortalecimento do regime de colaboração e de cooperação do Estado com os municípios em torno do pacto federativo na melhoria dos indicadores de ensino e dos resultados nos processos de aprendizagem
  • Expansão, interiorização e democratização do ensino superior público

Acima de tudo, “diminuir as desigualdades aprofundadas pela pandemia” e integrar todos os níveis da educação são apontados pelo professor Julio Racchumi, da UFC, como pilares para que o Ceará avance e se destaque ainda mais na área.

“A educação está distribuída em níveis, e o Governo do Estado precisa trabalhar de forma conjunta com os municípios. Os resultados do ensino médio são, por exemplo, consequência do fundamental. É preciso um planejamento conjunto”, alerta.