Casas de taipa ou construídas com as paredes externas em tijolos aparentes, sem revestimento, tornaram-se mais comuns no Ceará. De 181 mil domicílios com essas características em 2019, o estado passou a registrar 262 mil em 2022: um aumento de 44,75% desses tipos de construções.
No Nordeste, o Ceará foi o estado em que o número de domicílios com essas características teve maior variação percentual ao se comparar esse período. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) 2022, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e divulgada nesta sexta-feira (16).
Em números absolutos, em 2022 o Ceará foi o terceiro estado nordestino com mais domicílios de taipa ou alvenaria sem revestimento. Em 2019, estava na quarta posição. Nesse período, ultrapassou o total registrado pelo Piauí — que, por sua vez, registou uma redução de 18,4% desse tipo de construção, passando de 244 mil para 199 mil casas desse tipo.
Na pesquisa, o IBGE considera alvenaria a parede construída com tijolo ou material similar. As paredes de taipa, por sua vez, são erguidas com barro em estrutura entrelaçada de caibros de madeira. Já o revestimento refere-se à argamassa.
O professor do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Ceará (UFC) e integrante do Observatório das Metrópoles, Alexandre Queiroz, ressalta que no caso das habitações de taipa:
"O grande problema não é a tecnologia de produção em si. A questão é que essa produção está associada à pobreza urbana ou rural. À medida que temos anos de crises, diminuição da incidência das políticas habitacionais, inclusive no meio rural, há aumento das estratégias que são históricas da autoconstrução seguindo nessa direção de busca por materiais baratos e da própria região, como a argila e a madeira".
Ele reitera que, nesse tipo de produção habitacional associada à "ecologia regional mais barata", um dos dilemas é que, em geral, tendo em vista os contextos socioeconômicos das populações habitantes dessas moradias, as construções são feitas "com o máximo de improviso, de modo precário, as paredes têm frestas, além de não demonstrarem a total segurança, em termos de condição climática, por exemplo".
O professor também avalia que hoje há uma maior compreensão sobre "como as condições de organização do lar e do seu entorno são importantes para a saúde coletiva". Nesse ponto, menciona as preocupações sanitárias com as construções de taipa e outros materiais como sapê e madeira, tendo em vista a associação desses ambientes com o besouro causador da doença de chagas, o barbeiro.
Localização dos domicílios
Os dados do IBGE também evidenciam que, enquanto o percentual de domicílios com estruturas aparentes teve redução na capital cearense, houve aumento quando se compara os dados reunindo os municípios da região metropolitana.
Em 2019, os dados da PNAD Contínua já apontavam que duas em cada cinco residências feitas de taipa ou alvenaria sem revestimento estavam na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). Eram 74 mil domicílios, quase 41% do total registrado no Ceará inteiro. No Interior, a pesquisa documentou 107 mil naquele ano.
Três anos depois, em 2022, a RMF passou a contabilizar 111 mil domicílios nessa categoria — 42,3% do total do Estado. No Interior foram registrados 151 mil.
Nessa comparação, o aumento registrado na Região Metropolitana entre 2019 e 2022 de Fortaleza foi de 50%, enquanto no Interior foi de 41%.
Observando especificamente a Capital, Fortaleza registrava 31 mil casas nessa situação em 2019, o que representava 17,1% das 181 mil totais de todo o Estado. Em 2022, passou a contabilizar 32.000 — ou 12,2% das 262 mil do Ceará.
Outra dimensão do problema, relembra o professor do Departamento de Geografia da UFC, Alexandre Queiroz, é, em geral, a não associação dessas moradias às redes oficiais de distribuição de água e esgoto.
Para garantir a alteração desse cenário, o professor destaca a necessidade de execução de políticas habitacionais que priorizem a substituição de casas de taipa por alvenaria, e, enfatiza, "essa produção precisa ser pensada em conexão com o modo de vida das populações".
No espaço rural, exemplifica ele: "a casa tem que ser associada a formas de assentamento rural, formas de espaço que tenham quintais produtivos ou espaço para a agropecuária. A política habitacional deve acontecer para erradicar e impedir que as pessoas voltem a construir casas de taipa como saída. E no campo, isso está associado ao direito à terra produtiva, ao espaço pleno".
Como a pesquisa é feita?
Para a realização da PNAD Contínua, foram entrevistados aproximadamente 168 mil domicílios de todo o Brasil que participaram da amostra da pesquisa ao longo dos quatro trimestres do ano de referência. Segundo explica o IBGE, o mesmo domicílio é visitado uma vez a cada trimestre, ao longo de cinco trimestres. As características gerais dos domicílios são investigadas na primeira visita realizada.
Não foram divulgados dados de referentes aos anos de 2020 e 2021 sobre as características dos domicílios porque, em decorrência da pandemia de Covid-19, houve redução da taxa de resposta durante o período. De acordo com o Instituto, isso causou dificuldades para a mensuração de indicadores de módulos temáticos coletados exclusivamente na primeira visita.