Cerâmicas do CE investem na eficiência dos seus processos

Com matérias primas alternativas e novas tecnologias, muitos estão reduzindo o uso de madeira nativa

Escrito por Ellen Freitas - Colaboradora ,
Legenda: Russas é o principal polo produtor da telha colonial no Ceará
Foto: Fotos: Ellen Freitas

Russas. O Estado do Ceará é um dos mais importantes polos produtores de cerâmica vermelha das regiões Norte e Nordeste, onde são identificadas 412 empresas. Junto a isso, há a preocupação quanto à utilização sustentável da matéria-prima dos produtos finais e o combate à extração de madeira ilegal para queima nos fornos. Algumas empresas já mudaram a biomassa da combustão e investem em tecnologia para uma melhorar a eficiência energética, reduzindo os prejuízos ao ambiente.

Um estudo realizado pelo Sindicato das Indústrias de Cerâmica Vermelha do Estado do Ceará (Sindicerâmica), em outubro de 2014, intitulado "Diagnóstico Socioeconômico da Indústria de Cerâmica Vermelha do Estado do Ceará", traçou um perfil do setor. Os números levantados revelaram que 90,5% das indústrias ceramistas se concentram na zona rural e 9,3% estão nas zonas urbanas, de 93 municípios. Nesse cenário, se destacam as regiões Metropolitana e Baixo Jaguaribe.

O município de Russas, no Vale do Jaguaribe, é o principal polo produtor da telha colonial no Ceará, com 140 empresas, e atende os mercados do Norte e Nordeste. Nos últimos dez anos, segundo o secretário da Associação da Indústria de Cerâmica Vermelha do Vale do Jaguaribe (Asterussas), Helano Bezerra, houve avanços significativos no processo de produção das telhas, com mais eficiência energética, e com a utilização de material reaproveitado de outros setores produtivos.

Biomassas

"Ao longo dos últimos anos foram se identificando biomassas que podem ser muito bem reaproveitadas para a queima. Algumas regiões do Estado utilizam a casca de coco, casca de castanha, poda de árvore, madeira de palets de indústrias, entre outros matérias. Particularmente aqui na nossa região, a poda do cajueiro tem sido o nosso principal combustível para a queima", afirma Bezerra.

Ele explica que a madeira resultante da poda sai das fazendas e é vendida para empresas ceramistas. Bezerra acrescenta que, atualmente, os proprietários dessas empresas estão investindo em cortadores para vender madeira picada, com o objetivo de elevar o preço do produto. A vantagem, segundo acrescenta, é que, por meio de medidores de temperaturas instalados nos fornos das cerâmicas, é possível controlar a quantidade de material queimado e, assim, gerar economia. "Não se utiliza nem mais nem menos madeira. Podemos controlar hoje a quantidade necessária", conclui.

Segundo suas informações, esse processo de controle de queima está presente em mais de 90% das cerâmicas do município de Russas, que, consequentemente, emite menos gases que causam o efeito estufa. Para empresários de três cerâmicas cearenses, essa redução gerou lucro, com a venda de créditos de carbono no mercado internacional. Esse novo comércio surgiu como incentivo para os países reduzirem seus índices de emissões e, consequentemente, o aquecimento global.

Tendência

Para o presidente do Sindicerâmica, Marcelo Tavares, vem sendo tendência de alguns empresários do setor investirem nessas mudanças. "Algumas unidades já estão trabalhando com biomassa, na parte de recolhimento em obras, recebimento de podas, investindo em picadores para transformar resíduo em madeira picada e em cavaco, para serem usados nos fornos. Enfim, estão montando uma logística para receberem esses resíduos", acrescentou.

Tavares, que também é ceramista e é um dos que ingressou no mercado de créditos de carbono, por meio de sua empresa, conta que ele anda em baixa. "Tem muita medida auditada para vender que vendemos bem menos do que conseguimos auditar. Tem reduzido, nos últimos dois anos, mais metade. Como quem compra é o mercado internacional, há muita oferta. Acabam escolhendo o melhor pra comprar", conta. Ele acrescenta, porém, que ainda há venda de créditos de carbono no Brasil, onde há cerca de 70 empresas auditando a oferta.

Exemplo

Tavares conclui que o setor cerâmico cearense tem sido pioneiro de inovação e exemplo para as demais indústrias de outros Estados. "Criamos projetos de fornos premiados, cerâmicas com ações também premiadas nacionalmente. As empresas já acompanham essa tendência. Agora mesmo temos um modelo de secador, que está sendo usado em Russas, e é o primeiro do Brasil. Enfim, temos muitos bons exemplos de melhorias na produção e de menos agressões ao meio ambiente", finalizou.

Os destaques das últimas 24h resumidos em até 8 minutos de leitura.