QUE NEM TU: Pra Quem Gosta é Bom faz um bloco de pré-carnaval para sentir e fazer sentido
Um dos blocos expoentes de Fortaleza, o grupo se uniu com o intuito de ser mais uma opção de festa e manifestando mais que alegria e amor
Desde 2017, o Pra Quem Gosta É Bom (PQGEB) coloca seu bloco de pré-carnaval na rua e convida o fortalezense a ocupar a cidade e celebrar o amor. Ao som de um repertório cheio de brasilidade que passeia por artistas de todos os ritmos e tempo, o grupo conquistou um público que comunga não só da mesma alegria mas também entende que a festa é também lugar de reforçar bandeiras de liberdade, respeito e amor!
Os músicos do bloco não recebem cachê para fazer as apresentações. Toda a verba que o coletivo de 18 integrantes faz, seja com venda de camisa ou com festas privadas, é destinada a estruturar as festas na Praça Waldemar Falcão, (Praça dos Correios). Então, eles dizem que para estarem no palco é preciso fazer sentir e sentido. Cada escolha - do lugar dos shows, passando pelo tema do bloco, dos figurinos e até mesmo das músicas- é carregada se significado.
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"A questão da liberdade do nosso corpo, inclusive, da própria exposição minha. Não é um desejo meu somente. Eu estou mandando uma mensagem pro meu coleguinha que tem desejo de fazer isso e acha que não pode. E eu vou dizer assim: Podemos", explicou Marcos Romano, cantor do Pra Quem Gosta É Bom, no episódio desta quinta-feira (8), do Que Nem Tu. Ele e Lia Moura representaram o coletivo no podcast e contaram a história, os desejos, histórias de emoção e riso e as preocupações que envolvem os integrantes.
O crescer, por exemplo, é uma inquietação. Os dois reforçam como emociona ver a cada ano os gostantes, como são chamados os brincantes, se avolumarem e ocupar o centro de Fortaleza dando mais vida, cor e movimento ao bairro. No entanto, ter mais gente significa mais estrutura e, quem sabe até, ter que buscar um outro espaço para abrigar o bloco.
"A gente tem um apego muito grande à Praça dos Correios. Só que a gente sabe que vai chegar um momento que a gente vai ter que sair. Existe toda uma preocupação nossa com o bem-estar do público. Esse ano a gente conseguiu fechar a (rua) General Bezerril, que deu um alívio pros ambulantes e gostantes. Mas mesmo assim ficou quase inviável esse ano. A gente não sentou ainda pra ver como vai ser no próximo ano", contou Lia, que diz que a escolha do local levou em conta vários aspectos.
" A gente pensou na sombra. A gente queria um bloco de dia. A gente queria uma praça que não fosse ligada a nenhum outro bloco, fácil acesso", ponderou ela que também reforça ser uma ponte com outras praças e espaços que já são conhecidamente polos de festa, como a Praça do Ferreira e o Raimundo dos Queijos, vizinhança animada do bloco. Se para os gostantes está claro que é preciso abrir espaço para mais gente entrar, Romano revela que ainda não sabe se esse é o caminho. Ele confessa: é resistente a se mudar. A Praça faz muito sentindo para o bloco.
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O que também está na essência, diz a dupla, é a troca com o público, que começou com os amigos e amigos de amigos e hoje extravasa em multidão. O cantor conta um momento que o marcou à frente do bloco quando uma foliã dividiu com ele o sentimento de liberdade e bem-estar que fazer parte daquele movimento proporcionava a ela.
"Ela sempre passava por mim e falava: 'Eu ainda vou te contar porque esse bloco significa tanto pra mim'. E passava. E eu, lógico, ficava curioso, mas jamais ia chegar na menina e abordar 'me fala, pelo amor de deus'. Mas aí um dia ela falou pra mim que ela estava dentro de um relacionamento tóxico muito pesado. Ela se separou desse cara e quando ela estava no bloco ela experimentava uma liberdade que não sabia explicar. Ela se sentia 'Nossa, isso é pra mim'. E é isso mesmo", diz ele.
O público é uma extensão do palco para o Pra Quem Gosta É Bom. Os músicos dançam, brincam, se divertem e se acolhem. Eles interagem e se surpreendem com o público. O repertório, por exemplo, é vasto e composto por canções que os integrantes escutam e gostam. Mas é o público que valida aquelas canções que se tornam marca registrada. Algumas, diz Lia, nem mesmo o bloco acreditava que teria tanto sentido. "Lílás, do Djavan, a gente não tava dando nada. FIzemos um frevo. E o Lindo Lago do Amor entrou como outro frevo. O pessoal pira!", conta.
Marcos Romano conta que o show tem alguns momentos que ganham muito envolvimento do público. "Por supuesto, da Marina Sena. Fica um clima interessante. Isso pra nós é uma experiência muito feliz", diz ele hoje mora em Brasília, mas não abre mão de estar no bloco cantando e se divertindo com os amigos e o público.
Lia e Marcos falaram ainda da dificuldade que é operacionalizar um bloco de Pré e Carnaval. O custo é alto e há muitos pontos que precisam ser ajustados. Eles reforçaram a importância de editais públicos que fomentem esses movimentos com recursos maiores e que cheguem a mais blocos, fortalecendo a cena carnavalesca de Fortaleza.
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"Entendemos que é muito importante para que haja fortalecimento nesses editais para os artistas que temos aqui para a cultura acontecer. A gente precisa que haja um maior incentivo, que esse recurso seja maior. E não está falando do PQGEB. A gente tá falando dos blocos que estão na rua. A gente quer ver mais o Bloco Mambembe na rua. A gente quer ver o Concentra Mais Não Sai mais bem posicionado dentro da programação. O que a gente quer ver é que mais pessoas sejam contempladas, que haja um acréscimo de blocos, de recursos. O que a gente quer é ver os artistas grandiosos sendo incentivados e fortalecidos pelo poder público", pontuou Marcos.