Novo livro do pesquisador cearense Gilmar de Carvalho mergulha nas poéticas da voz

Prevista para ser lançada em 2021, obra contempla legado de grandes nomes, a exemplo de Rogaciano Leite, ligados à cantoria, cordel, saraus, entre outras linguagens artísticas

Escrito por Diego Barbosa , diego.barbosa@svm.com.br
Legenda: Gilmar de Carvalho é um dos nomes mais importantes no ramo da pesquisa em cultura no Brasil
Foto: Natinho Rodrigues

Profícuo narrador das tradições populares do Ceará e do Nordeste, Gilmar de Carvalho aprofunda olhares sobre uma fartura de linguagens artísticas e os respectivos representantes de cada uma no novo livro sob sua assinatura. “Poéticas da voz - Aboios, benditos, cantoria, cordel, emboladas, loas, saraus, torém, trovas” tem previsão de lançamento em 2021 pelo selo da Expressão Gráfica e Editora, de Fortaleza.

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O planejamento inicial era que a obra – já com 210 páginas escritas – ganhasse os olhos do público neste ano; contudo, a pandemia do novo coronavírus adiou o momento. Nada que interfira no fôlego da publicação, porém. Resultado de intensos desbravamentos, o material tem como proposta imergir nas histórias e feitos de artistas seminais de nossa cultura, ampliando saberes e entendimentos sobre práticas ancestrais.

“Ia ser um livro sobre cordel. Quando vi, tinha perdido o controle e era um livro sobre as poéticas da voz”, explica o pesquisador.

Ele adianta que a obra terá ilustrações, contudo distante do modelo “álbum de figurinhas”, fazendo com que ganhem real importância a partir do enlace com o texto escrito.

Homenageado nesta quarta-feira (1) devido ao centenário de nascimento, Rogaciano Leite (1920-1969) integra o livro na seção destinada aos cantadores. Zé de Matos, do Cariri; o paraibano radicado no Ceará, Luiz Dantas Quezado; Naco Martins; Cego Aderaldo; Patativa do Assaré; João Alexandre, alagoano radicado no Cariri; Lucas Evangelista, radicado em Crateús; Pedro Bandeira, de Juazeiro do Norte; Geraldo Amâncio, hoje em Fortaleza, além de Alberto Porfírio, de Quixadá, completam o time dessa poética específica.

“Estes ocupam mais espaços. Outros cantadores entram de forma mais incidental, como Siqueira de Amorim, Dimas Mateus e Mata Escura (nascido no Exu e falecido em Juazeiro do Norte)”, complementa Gilmar.

Legenda: No novo livro, o estudioso também comenta sobre o Sertão do Pajeú, território mítico de cantadores
Foto: Natinho Rodrigues

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O interesse em adentrar na herança cultural de Rogaciano Leite nasceu quando o pesquisador participou da banca de defesa da monografia do historiador Edmilson Teixeira, pela Universidade Estadual do Ceará (UECE), em 2018.

Intitulado “Rogaciano Leite: o lírico e o épico em trânsitos e trajetórias da cultura popular (1920 a 1969)”, o trabalho durou mais de quatro anos para ser finalizado, tempo em que Edmilson realizou leituras de múltiplas criações sobre o universo da cultura popular, além de a respeito de imprensa, oralidade, etnografia e arte. 

Nesse pacote, igualmente é incluso o aprofundamento em clássicos de autores contemporâneos a Rogaciano Leite, a exemplo de Leonardo Mota, Luís da Câmara Cascudo, Gustavo Barroso e outros. 

“Tinha pouco o que ler sobre ele. Edmilson fez uma monografia exemplar. Fui seguindo os passos que ele indicou e me encantei com o pernambucano de São José do Egito que migrou bem jovem para Fortaleza. Rogaciano foi um grande cantador. Não temos registro de suas performances, mas deve ter sido um grande cantador, como foi um poeta competente, um jornalista premiado, um promotor de cantorias”, detalha Gilmar.

No livro, o estudioso também comenta sobre o Sertão do Pajeú, região onde nasceu Rogaciano, território mítico de cantadores. Grandes nomes potencializadores dessa arte provêm de lá. Segundo ele, Rogaciano deve ter vindo para Fortaleza como forma de abrir um novo polo, de brilhar onde não existiam tão grandes cantadores, como na fronteira entre Paraíba e Pernambuco.

“Era um homem letrado e um dos seus méritos foi levar a cantoria para espaços legitimados. Organizou festivais de cantorias pelo Ceará e depois esse modelo foi copiado por Pernambuco”, situa. “Além disso, escreveu em vários jornais locais e foi vencedor de dois prêmios Esso, os mais prestigiados de então”.

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