Karim Aïnouz volta a filmar no Ceará e novo filme traz Fábio Assunção e elenco cearense

Após dirigir a primeira produção internacional em inglês, o inédito "Firebrand", estrelado por Alicia Vikander e Jude Law, Karim Aïnouz volta a rodar um filme na terra natal. No último 31 de julho, o premiado cineasta cearense começou as filmagens de "Motel Destino", seu oitavo longa de ficção.

Divulgado como um thriller erótico, o novo trabalho será protagonizado por Fábio Assunção e dois talentos locais, Iago Xavier e Nataly Rocha, selecionados por teste entre mais de 500 atores. Completam o elenco Yuri Yamamoto, Fabíola Líper, Renan Capivara e Jupyra Carvalho. 

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Outro destaque vai para o roteiro, fruto da parceria de Aïnouz com o Laboratório de Cinema da Porto Iracema das Artes. Na trama conhecemos Heraldo (Iago Xavier), jovem que cumpriu pena numa unidade socioeducativa e busca uma vida diferente. É quando sua história se cruza com Dayana (Nataly Rocha), que vive um casamento abusivo com o ex-policial Elias (Fábio Assunção), dono do motel que nomeia a obra. 

Vencedor do prêmio "Un Certain Regard" no Festival de Cannes, com "A Vida Invisível", o diretor cearense detalha que "Motel Destino" é a "saga brasileira do encontro de uma pessoa em fuga, absolutamente desamparada, com outra que está sendo massacrada em uma casamento abusivo". 

Amor à beira da estrada

Aïnouz volta sua camêra às cores fortes e vibrantes do Ceará. Desde "Praia do Futuro" (2014), ele não realizava um filme no Estado. Elemento recorrente em sua filmografia, o erotismo se lança como o pano de fundo de "Motel Destino". O estabelecimento de beira de estrada que dá título ao filme é, segundo o realizador, “o principal personagem do enredo”.

Neste espaço inusitado se entrecruzam questões crônicas da realidade brasileira."É um retrato íntimo de uma juventude que teve seu futuro roubado por uma elite tóxica e esmagadora, contra a qual a insurreição e a violência são, não raramente, a saída possível", descreve, via material de divulgação. 

Poderia resumir Motel Destino como um thriller erótico, mas ele é, antes de tudo, uma história de amor. O amor entre um jovem periférico que vive à revelia de um sistema que o quer morto e uma mulher que resiste aos atentados do patriarcado contra a sua própria vida”

Na sequência do atual longa-metragem, o diretor voltará a atenção a "Rosebushpruning", seu segundo projeto em língua inglesa. Anunciado no Festival de Cannes deste ano, o filme será estrelado por Kristen Stewart (Spencer), Josh O’Connor (The Crown) e Elle Fanning (The Great), com filmagens previstas para o início de 2024. 

Criando uma história 

Antes de "Motel Destino" e o citado "Firebrand" (filmado no Reino Unido), o cearense trabalhou os longas "Marinheiro das Montanhas" e "Nardjes A." (previstos para chegarem às telonas nacionais em setembro de 2023) na Argélia. Anos antes fez "A Vida Invisível" (2019) no Rio de Janeiro e "Aeroporto Central" (2018) em Berlim.

No intervalo entre sets de filmagem espalhados pelo planeta, o diretor esteve entre os criadores do laboratório CENA 15, do Porto Iracema das Artes. Atuou como tutor durante nove anos e hoje é mentor. Lá, descobriu e convidou o roteirista cearense Wislan Esmeraldo para desenvolver o roteiro de "Motel Destino". Mais tarde, Maurício Zacharias se juntou ao processo, repetindo parceria realizada com o cineasta em "Madame Satã" e "O Céu de Suely".

Outro nome presente é Hélène Louvart, presente nos créditos de "A Vida Invisível" e "Firebrand", ela assina a fotografia do novo projeto. Marcos Pedroso responde pela direção de arte. O paranaense é outro antigo colaborador de Aïnouz, participando de "Madame Satã", "O Céu de Suely", "O Abismo Prateado" e "Praia do Futuro".

“Me interessa muito falar de crime, mas não do crime sórdido, e sim como o único escape do lugar em que estamos vivendo, no mundo que vivemos. Como você sai do desamparo absoluto? É um tema muito presente no Brasil contemporâneo, embora não haja muitos filmes sobre personagens nesta situação. Não no sentido vitimizante, mas no sentido de que estão completamente à margem”, explica Aïnouz.