Fagner faz show comemorativo, anuncia projetos e celebra atual fase: ‘Refazendo minha história’

Apresentação acontece nesta sexta (2) e sábado (3) no Theatro José de Alencar; no palco, artista fará surpresas ao público e recordará “Nada Sou”, histórica canção lançada em 1968

Escrito por Diego Barbosa , diego.barbosa@svm.com.br
Legenda: “Naturalmente algumas histórias são daquele momento, de 1968, e outras vão pintar na hora”, diz o artista sobre o show
Foto: Thiago Gadelha

Fagner abre a porta, atravessa a sala, ocupa a poltrona e declara: “Estou refazendo minha história de algumas formas”. A passos rápidos, um dos maiores cantores, compositores e intérpretes do Brasil fala não em tom de confissão, mas de certeza. Prova disso é “1968 - Nada Sou”, show realizado nesta sexta-feira (2) e sábado (3) no Theatro José de Alencar.

O espetáculo faz alusão à canção homônima lançada naquele ano, vencedora do IV Festival da Música Popular Cearense. Ali Fagner viu a própria carreira ascender e tomar proporções inimagináveis até para si. Contornou o país, fez amizades emblemáticas e teceu parcerias capazes de repercutir na forma do cearense cantar a vida. 

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Tudo isso agora retorna ao público em clima de celebração e bem-vindo passeio pelas memórias do artista. “Naturalmente algumas histórias são daquele momento, de 1968, e outras vão pintar na hora”. A ideia geral é essa mesmo, traçar uma linha do tempo sobre a trajetória pessoal e profissional, com toques de surpresa e muita reverência.

Além disso, ele homenageará Cristiano Pinho. O guitarrista e arranjador faleceu no último dia 3 de julho e foi um grande parceiro. É nome da maior relevância para a música do Ceará. “Foi muito importante na minha carreira. Se estou retomando uma história de 60 anos atrás, ele faz parte de pelo menos metade dela. Foi comigo até o fim”.

Legenda: Assinada por Fagner em parceria com Marcos Francisco, "Nada Sou" é sobre a identidade de todos nós
Foto: Thiago Gadelha

Outros colaboradores de longa data, a exemplo de Fausto Nilo, também darão o ar da graça nas duas noites. Tudo isso para coroar o espírito sem descanso de Fagner. “Nada Sou” – a música-mote para a apresentação – traduz essa energia de forma clara. Assinada por ele em parceria com Marcos Francisco, é sobre a identidade de todos nós.

“Eu não sou eu/ Sou enxada no barro do chão, sou sertão./ Eu não sou fé/ Sou pecado no corpo fechado de Lampião.../ Sou espada,/ Sou granada/ Sou toada”, brada a primeira estrofe. Há 56 anos, foi essa força em letra e melodia que colocou o cantor num panteão. Fagner venceu o IV Festival da Música Popular Cearense com a canção e foi eleito revelação do ano.

Estar na história das pessoas

Corta para 2024. Sem escutar muita música nem aderir a streamings como Spotify, o cearense revela ter desenvolvido a mania de fazer canções sem instrumento. “Eles me dificultam porque sou muito de melodia”, explica. No processo, compartilha o resultado com amigos  – Fausto Nilo, Renato Teixeira e Zeca Baleiro são nomes citados – e já engata marcha.

É o jeito que encontra para não parar. Ainda que nos últimos anos tenha cogitado a possibilidade – “em algum momento isso passa pela minha cabeça” – os movimentos diários apontam para novas direções. Ao estar em Fortaleza, o cantor nunca deixa de jogar pelada e frequentar o Bar do Vaval, no Point Lauro Maia, por exemplo.

Legenda: Fagner em 1972, quatro anos depois de ter vencido o IV Festival da Música Popular Cearense
Foto: Divulgação

Também elege a Casa da Praia, no Ceará, e o Rio de Janeiro como um dos melhores lugares para criar e estar. “Se eu inventar de parar, o que é que vou fazer? A minha vida toda foi nos palcos… Vou subir de muleta pra cantar? Não quero isso pra mim. Quero pegar uma bola de verdade ou de guardanapo e fazer um pezinho nas apresentações, como sempre faço”.

É a consciência de quem sabe estar na história das pessoas para além da música. Fagner desenha mundos possíveis por onde passa. Agrega gente, provê versos. Ainda assim, quando questionado sobre de que forma relaciona a própria carreira com a História e os diferentes movimentos culturais e sociais do Brasil, é enfático.

Legenda: Fagner com Marco Nanini, Edu Lobo e Chico Buarque no programa de TV "O corsário do rei", em 1985
Foto: TV Globo/Divulgação

“Sempre fui muito focado em música, não entendia muito de Política. Quando cheguei no meio artístico, porém, fui apadrinhado por Elis Regina, Chico Buarque, Nara Leão, pessoas muito politizadas. Passei, assim, a conviver com muita gente. Então se você me pergunta do alcance de minha música na História do país, o que eu te digo é que não tenho dimensão”.

Faz sentido – sobretudo diante da velocidade de ingressos esgotados a cada show anunciado. Desta vez mesmo, em Fortaleza, a apresentação seria única, mas precisou ser colocada para mais um dia, vide a falta de bilhetes em menos de uma hora após a liberação para compra. Vigor para transitar entre diferentes períodos e gerações.

“Em qualquer momento, por onde eu ando, as pessoas me cumprimentam. Às vezes até criança se identifica com as músicas. Na verdade, a criança em si não está nem aí, mas a mãe ou a babá falam sempre de alguma música minha. Então me vejo nisso. As pessoas costumam dizer que minhas canções compõem a linha do tempo da canção brasileira”.

Próximos passos

Deverão continuar compondo. Projetos não faltam. Neste mês de agosto, um novo disco deve chegar às plataformas. Mais à frente, será a vez de outro, gravado com Roberto Menescal em tom de Bossa-Nova. Também haverá um com Renato Teixeira, repleto de participações – a exemplo do já citado Zeca Baleiro.

Legenda: "Acho que estou aproveitando bem o tempo, tentando ao máximo fazer as coisas", percebe o cantor
Foto: Thiago Gadelha

No Recife, Fagner gravará um trabalho em ritmo de forró pé-de-serra junto a Nando Cordel. E, na seara editorial, pretende lançar um livro cujo título será “De A a Z”. Nele, contará pequenas histórias vivenciadas ao lado de diversas personalidades com as quais conviveu e mantém amizade até hoje. Aos 74 anos, o que não falta é vontade. 

“O tempo passa muito rápido. Quando a gente olha, já está acabando. Acho que estou aproveitando-o bem, tentando ao máximo fazer as coisas. Ainda estou na ativa – com shows, pedidos, muita coisa marcada e cachês à altura. Então quero investir em mim, na minha história, nos projetos que quero e tenho que fazer. Isso é bacana demais. É inspirador”.

Serviço
Show “1968 - Nada Sou”, de Fagner
Dias 2 e 3 de agosto, às 20h, no Theatro José de Alencar (Rua Liberato Barroso, 525 - Centro)
Ingressos esgotados

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