Eventos culturais em locais fechados terão maior dificuldade de atrair público, aponta estudo

Pesquisa "Hábitos Culturais pós pandemia e reabertura das atividades culturais", organizado pelo Itaú Cultural e Datafolha, mostra que 56% dos entrevistados não querem visitar lugares com estas condições

Escrito por Antonio Laudenir , laudenir.oliveira@svm.com.br
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Legenda: Apesar de sentirem saudades de shows, público ainda não se sente seguro em voltar. Na foto, evento Maloca Dragão, em 2018
Foto: FOTO: JL Rosa

O caririense Caíca Luiz (61) é produtor cultural com atuação na música, teatro e cinema. O realizador alerta que mesmo antes da covid-19 alterar drasticamente as vidas dos brasileiros, seu campo de atuação já mostrava sinais de total dificuldade. “Estou parado até um pouco antes da pandemia”, descreve. 

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Se já estava complicado produzir eventos antes, arcar com os custos dos atuais protocolos de segurança torna inviável o retorno pleno. “Falando como produtor, estou sem um pingo de estímulo em voltar tão cedo. É muita exigência para manter a segurança. Os protocolos são muito rígidos. Sou do grupo de risco, tenho três octogenários em casa, não tenho como estar me expondo. Tenho que deixar a vacina chegar realmente”, aponta o produtor. 

O depoimento do realizador cearense ganha eco com a recente pesquisa "Hábitos Culturais pós pandemia e reabertura das atividades culturais", organizada pelo Itaú Cultural e Datafolha. Um total de 1.521 pessoas foram ouvidas entre os dias 5 e 14 de setembro. O trabalho aborda tópicos como a expectativa de retorno às atividades culturais presenciais e o grau de confiança dos usuários com a retomada. 

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A maioria dos brasileiros deseja atividades culturais quando houver relaxamento das restrições de convívio social, aponta a pesquisa "Hábitos Culturais pós pandemia e reabertura das atividades culturais. O estudo desenvolvido pelo Itaú Cultural e Datafolha ouviu 1.521 pessoas entre os dias 5 e 14 de setembro. 66% dos entrevistados querem atividades culturais quando houver relaxamento das restrições de convívio social, detalha o levantamento. 

No entanto, atividades em locais fechados terão maior dificuldade de atrair público. 56% negaram visitar lugares com estas condições. 39% disseram que participariam. Já os locais abertos têm preferência. 84% disseram que visitariam, contra 12% que desconsideram a hipótese. 

O estudo também avalia o que a população espera, no sentido de protocolos, dos espaços culturais. Para 17%, apenas a disponibilização de uma vacina para a Covid-19 pode dissipar o medo. Distanciamento, ter espaço e evitar aglomerações é o procedimento mais mencionado pelos entrevistados (58%). Uso de máscara e adoção correta do equipamento de proteção aparecem com 55%. Ter equipamentos para higienização dos visitantes (53%) é outra demanda. 

Sem acontecer desde 2018, o Festival Maloca Dragão continua nos planos dos gestores do CDMAC para 2021. Formato ainda não foi definido
Legenda: Sem acontecer desde 2018, o Festival Maloca Dragão continua nos planos dos gestores do CDMAC para 2021. Formato ainda não foi definido
Foto: JL Rosa

A pesquisa foi apresentada via coletiva virtual e contou com as participações de Eduardo Saron, diretor do Itaú Cultural, e Paulo Alves, gerente de pesquisa de mercado do Datafolha. Nas palavras dos idealizadores, estes dados ajudam a construir as estratégias desse retorno das programações culturais.

“Amadurecer, como setor cultural, a capacidade de entender melhor isso nas nossas ações. Qual o desejo e intenção dessas pessoas. Compreender o vínculo por meio da arte e da cultura, sem colocar em risco segurança de público, trabalhadores dos espaços culturais e artistas”, explica Eduardo Saron. 

Ação

A retomada cuidadosa das atividades culturais segue em andamento, argumenta o diretor-executivo da Casa da Vovó Dedé, Wagner Barbosa. Diante das exigências, o organizador explica que o planejamento deve prosseguir até o próximo ano. 

Barbosa detalha que a instituição já organizou, entre outras medidas, barreiras sanitárias, aferição de temperatura, uso obrigatório de máscara e totens com álcool em gel. Alguns cursos estão sendo realizados com a metade da capacidade normal.

“A previsão para 2021 é que possamos reiniciar todos os cursos mantendo as medidas de proteção e revezando os horários dos estudantes. Estamos realizando um recadastramento de todos os alunos identificando as crianças e jovens que moram com parentes pertencentes a grupos de risco”, detalha o gestor.

Segundo o pesquisador e professor de filosofia, Mateus Uchôa (34), por conta dos estudos e da docência o "confinamento" não teve um peso tão grande. O entrevistado segue rigidamente o isolamentoa. Recentemente, optou por ir à praia do Poço da Draga para atividades físicas e banho de mar.

"De forma alguma me sinto tranquilo para retomar qualquer 'normalidade' ainda esse ano. A pandemia não acabou. Não se trata da imprudência de certos espaços com a segurança sanitária, mas percebo um crescente negacionismo nas pessoas acerca da gravidade e do alto risco à vida deste momento. Não me vejo frequentando atividades que não sejam a céu aberto e distanciamento social fora do meu círculo familiar", conclui Mateus Uchôa.

 

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