Curso de Cinema e Audiovisual conta com programa inédito de formação em roteiro

A trama pode até ser das melhores. Comovente, engraçada ou mesmo assustadora. Tem tudo para ser sucesso. Entretanto, sem a manha necessária no momento de desenvolver um eixo narrativo e contar essa história, o resultado do projeto pode ser a gaveta. No audiovisual, além de uma boa ideia na cabeça, saber construir um roteiro redondinho é essencial.

O Programa de Roteiro do curso de Cinema e Audiovisual da Universidade de Fortaleza, da Fundação Edson Queiroz, entende a importância desta área. Os professores e roteiristas Daniel Tavares, Glauber Filho e Marcelo Müller, coordenam o itinerário formativo que percorre toda a graduação. Outro reforço são as disciplinas específicas e os núcleos de pesquisa e desenvolvimento de projetos.

A experiência internacional dos docentes facilita essa permanente reflexão em torno de novas estratégias narrativas. As áreas de atuação de um roteirista hoje em dia são inúmeras. Com o avanço das ferramentas virtuais, o mercado observa toda uma expansão. A conversa com o professor e roteirista Marcelo Müller foi uma oportunidade de entender melhor esse cenário.

"O roteiro constrói a história, procurando a melhor maneira de contar essa mensagem", detalha Müller na entrevista. A definição serve para mergulhar nas muitas possibilidades dessa etapa produtiva. Um roteiro eficaz é decisivo no andamento de qualquer obra. "O roteiro orienta a produção de um filme. Mesmo que você não seja um escritor. Na hora de contar a história, será importante para o produtor, diretor de fotografia. Você sempre vai lidar com o roteiro. É nele que estarão os filmes que você está fazendo", completa.

Diretor, roteirista e professor de cinema da Universidade de Fortaleza desde 2017, Muller cursou mestrado e doutorado na Universidade de São Paulo (ECA-USP) e graduou-se na escola livre de Cinema e TV de Cuba.

É autor de "Infância Clandestina", representante da Argentina no Oscar de 2012, entre os indicados para melhor filme estrangeiro. Escreveu e dirigiu o longa "Eu te levo" (2014) e também assinou séries televisivas, caso de "Brilhante Futebol Clube".

Foi o único roteirista brasileiro a receber o Prêmio Coral de Roteiro Inédito de Havana, um dos reconhecimentos mais relevantes para profissionais da área na América Latina.

"Temos a imagem do universo do roteirista, aquele cara das letras, sentado no computador, lidando com as palavras. Vai além. Todo mundo que faz um filme vai lidar com as palavras que o roteirista trabalhou. Na formação de um cineasta, mesmo que você não seja um cineasta roteirista, estudar e construir um repertório sobre roteiro cinematográfico e as ferramentas que ele dá para construir o filme, é vital. A criação desse universo passa pelo roteiro", diz o professor.

Estrutura

O Curso de Cinema e Audiovisual se firma enquanto espaço de formação de contadores de histórias no Ceará. Em "Roteiro I", disciplina do segundo semestre, os estudantes têm o primeiro contato com a construção de uma narrativa e os percursos do roteiro cinematográfico. A disciplina é ministrada pelo professor Glauber Filho, diretor e roteirista formado pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e pela Escuela Internacional de Cine y Television, em Cuba.

Já em "Roteiro II", do quarto semestre, além das poéticas e teorias da escrita audiovisual, a disciplina adentra o aprendizado das estruturas dramáticas, construção de personagens e gêneros dramáticos. Para os alunos que desejam uma formação mais específica em roteiro, há a disciplina optativa "Roteiro III". Nela, são contemplados o estudo e a prática da ficção seriada e do roteiro de longa-metragem. Ambas as disciplinas são ministradas pelo professor Daniel Tavares.

Os estudos na área se intensificam com o Programa de Núcleos Criativos. São três em atividade. O Grupo de Pesquisa do Roteiro Audiovisual realiza leituras e debates sobre textos, séries e filmes em encontros quinzenais, orientados por Daniel Tavares e Marcelo Müller. Grandes nomes do cinema brasileiro foram convidados e também conversam com os estudantes. Roteiristas como Marcelo Gomes, Sandra Kogut, Lucas Paraizo e Estela Renner.

A pesquisa proporcionada pelo grupo é vinculada ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O programa também conta com os projetos Sala de Roteiro da TV Unifor e o Núcleo Primeira Versão. No primeiro, os alunos assessorados pelos professores Daniel Tavares e Max Eluard desenvolvem conteúdos de ficção e não ficção para o canal de televisão universitário. O intuito é fortalecer a experimentação das dinâmicas de mercado, pensando a escrita para a produção audiovisual.

Já o Núcleo Primeira Versão qualifica projetos de desenvolvimento de roteiro. Quatro propostas são selecionadas por semestre. O acompanhamento vai desde a ideia até as primeiras versões do argumento. Como melhor explicita Marcelo Müller, o audiovisual é uma área extensa. O cinema é somente uma entre as muitas possibilidades de trabalho.

Mercado

"Cinema é a mídia matriz, mas todos nós, por mais que muitos professores tenham histórico no cinema, estamos falando também das séries de TV, documentário, entre outras formas audiovisuais. Qual a melhor estratégia para que as pessoas prestem atenção a mim e não ao outro. Daí a necessidade. É fundamental o bom roteirista hoje", alerta o realizador Marcelo Müller.

Segundo a Brasil Audiovisual Independente, o setor é o que mais cresce no Brasil, com taxa média de 8,8% ao ano. Indústria autossustentável, responde por 0,46% do PIB nacional e fatura por ano em torno de R$ 45 bilhões. Essa indústria reúne mais de 12 mil empresas de diversos tamanhos, gera mais de 300 mil empregos no Brasil e injeta mais de 24 bilhões de reais, todo ano, na economia do País.

As conquistas de alunos e egressos da graduação indicam que a experiência de formação já colhe resultados. Três projetos de roteiro de estudantes e egressos estão na etapa final do Laboratório de Cinema da Escola Porto Iracema das Artes: "Homem no Teto", de Vinícius Cabral e Davi Siqueira; "Maré", de Rodrigo Facundo, e "Palavra de Água", da egressa Lola Melo. Os trabalhos concorrem à experiência de desenvolvimento da escrita dramatúrgica, sob a tutoria de grandes nomes do cinema brasileiro: Karim Aïnouz, Sérgio Machado, Nina Kopko e Armando Praça.

Nos últimos dois anos, projetos realizados pelos alunos ganharam visibilidade em festivais pelo Brasil, como "Icarus", de Vitor Rennan e Vitória Régia; "A Mulher da Pele Azul", de Esther Arruda e Pedro Ulee, participantes do 29º Cine Ceará. "Tommy Brilho", de Sávio Fernandes, venceu o prêmio de Melhor Roteiro pelo Júri Popular no Festival de Roteiro Audiovisual de Porto Alegre (Frapa).

Mais informações: Curso de Cinema e Audiovisual da Unifor.