Carnaval de Fortaleza 2025 celebra diversidade cultural com festa espalhada pela cidade; veja programação
Roteiro de apresentações tem abertura neste sábado (1º) e segue até o dia 4 com shows de vários gêneros musicais, além de cortejos, homenagens e folia para todos os públicos
A alegria está na rua: oficialmente é Carnaval. Em Fortaleza, a abertura da programação da Prefeitura acontece neste sábado (1º) com toda a profusão de ritmos, gêneros e folias que a celebração pede. São cortejos, grupos, bandas, artistas-solo e outras agremiações dispostos a ocupar palcos e avenidas e fazer o público desfrutar do contentamento até terça-feira (4).
Veja também
Passeio Público, Benfica, Avenida Domingos Olímpio, Mercado dos Pinhões, Mocinha, Parque Rachel de Queiroz e Aterrinho da Praia de Iracema são os polos ativados durante os quatro dias de festa. Os nomes confirmados no roteiro de apresentações vão de Maracatu Solar, Don L e Magníficos a Gaby Amarantos e Margareth Menezes.
Grande homenageado do Ciclo Carnavalesco – com rosto estampado em todos os palcos da Capital e show marcado para este sábado (1º) no Aterrinho da Praia de Iracema – Ednardo celebra o tributo recebido pela Prefeitura. “Foi com muita satisfação, alegria e felicidade que recebi a notícia de que seria o homenageado”, introduz.
“Eu me dedico a algumas músicas de Carnaval desde o meu primeiro disco – com maracatu, frevo, baião galope, todos esses ritmos que dá pra se animar nessa época. Por isso recebi com felicidade esse convite e tô chamando todos a estarem no sábado para cantarmos juntos. Cuida!”, conclama o mestre aos 79 anos e em total clima de festejo.
Confira a programação completa de Carnaval considerando eventos públicos e privados:
| id | Dia | Horário | Atração | Local | Valor |
|---|
Tradição e resistência
Outro ponto alto da tradição momina fortalezense é, sem dúvida, o desfile dos maracatus. Nesses momentos, a Avenida Domingos Olímpio se enche de cor, brilho e ancestralidade, num movimento todo próprio de exaltação de nossas raízes mais especiais. No total, 42 agremiações – entre maracatus, blocos, cordões, escolas, afoxés – estarão no asfalto.
Presidente do Maracatu Nação Palmares – fundado em 2013 no epicentro do bairro Jardim América – Paul Menezes conta que desde o primeiro dia do ano acontecem ensaios no barracão do grupo e em um colégio próximo à sede. Desta vez, a homenagem da agremiação será a Iemanjá, com ênfase no culto à divindade das águas e ao que ela suscita no coração. A apresentação será no sábado (2), a partir das 18h, junto a outros seis grupos.
“Desfilaremos com muita garra e alegria na avenida e levaremos em média 300 brincantes”, contabiliza. Para ele, a relevância do maracatu está em, sobretudo, defender a cultura afro-brasileira para continuar sempre viva. “Desfilar é sempre uma satisfação muito grande, com muitos aplausos, reverenciando uma cultura que é tão linda”.
A expectativa, assim, é para que o fruto de tanto trabalho ressoe por entre o público e, quem sabe, garanta uma boa colocação no pódio. Energia semelhante é partilhada por Teonildo Lima, presidente do Maracatu Rei Zumbi, cujo trabalho de pensar o tema abraçado pelo grupo na rua é iniciado tão logo o Carnaval anterior finaliza.
“Estar na Avenida Domingos Olímpio é nosso ápice. Depois do Carnaval, teremos apresentações para a Prefeitura e em seguida estaremos abertos para outros contatos”. O que a agremiação leva em consideração na hora de colocar os talentos à vista é sobretudo amor – haja vista, conforme o presidente, as dificuldades financeiras enfrentadas pelo grupo. “Como podemos fazer um Carnaval bonito com o dinheiro fornecido em cima da hora?”, reivindica.
“No momento em que dou essa entrevista, estou pagando as empresas que estávamos devendo. Isso porque apenas na antevéspera de nossa apresentação o dinheiro referente ao edital da Prefeitura saiu. O valor referente ao Governo do Estado só vai sair depois do Carnaval. Por isso muita coisa a gente faz pedindo dinheiro emprestado a juros, ficando numa dependência financeira infeliz e enfrentando um total descaso por parte do poder público”.
Não à toa, a menção a Zumbi dos Palmares no nome da agremiação: é sinônimo de resistência e teimosia. Os 280 brincantes tratarão de mostrar isso na avenida em 1º de março sob o tema “Maracatu Leão Coroado, a sua coroa será eterna”, em reverência a um antigo bloco de Fortaleza que desfilou pouco, mas fez história ao conquistar vários títulos.
“Queremos levar o maior número de pessoas para a avenida, tanto brincantes quanto público, para verem que, por cima de pau e pedra, não deixamos morrer a cultura popular nem o carnaval de rua. Diante disso, uma pauta importante é o asfalto da Domingos Olímpio, que está cheio de pedrinhas e ocasiona o sangramento dos pés de brincantes indígenas que desfilam descalços. É preciso um recapeamento da manta asfáltica. O descaso é gigantesco”.
Em nota, a Secretaria da Cultura do Ceará (Secult-CE) se pronunciou sobre o caso. Segundo a pasta, neste ano foram ampliados em quase 20% os investimentos na categoria dos Maracatus, beneficiando 25 grupos com um repasse individual de R$33.680.
"Esta ampliação é fruto de uma emenda do Deputado Renato Roseno. No total, a categoria receberá um montante de R$842.000,00. Além dos Maracatus, a Secult apoia outras oito categorias, alcançando 90 coletivos e totalizando um investimento de R$2.200.000,00, reforçando o compromisso com a valorização das tradições culturais e o fortalecimento da cena artística", diz o texto.
Também ressalta que "todos os proponentes classificados já assinaram o convênio e receberão pagamento" e que, neste momento, está pagando os classificados no Edital do Ciclo Ceará Carnavalesco, seguindo com todos os procedimentos "para que os grupos recebam seu fomento".
Já a Secretaria Municipal da Cultura de Fortaleza (Secultfor) confirmou, também por meio de nota, que todas as 32 agremiações foram pagas até quarta-feira (26). A pasta alega que o edital atual, lançado em 27 de dezembro de 2024 pela antiga gestão, inviabilizou os prazos de execução, e promete planejamento mais realista para 2026.
"Para a execução de todas as fases em tempo hábil, a Secultor reafirma que seria necessário um prazo ideal mínimo de três meses, por isso, reafirma o seu compromisso em reavaliar esse e outros editais, sempre em diálogo franco e responsável com os profissionais da cultura, e, neste sentido, se compromete a lançar o certame de 2026 até o início de novembro deste ano", completa.
Carnaval delas e de todos
Da cultura tradicional à efervescência de mulheres carnavalescas. Presente no último dia de Carnaval, o bloco As Gata Pira desta vez chega com novidade: consolida-se não apenas como bloco, mas como polo da folia. A festa inicia às 9h, com cortejo do Banco do Nordeste até a Praça dos Leões, e finaliza às 18h com muitas atrações convidadas, além do bloco.
“Ou seja, o dia inteiro de carnaval para Fortaleza”, comemora a artista e gestora cultural Natasha Faria, uma das integrantes. Com ela, também compõem a empreitada Oscar Arruda, Paula Tesser, Ilya, Vitoriano e os músicos Igor Ribeiro (bateria), Romualdo (baixo) Thaís Costa (percussão) e Bob Pessoa (teclado).
“Nosso repertório é aquela maluquice de sempre: vai do carnaval ao rock, passando pelo brega e pelo axé, voltando pelo frevo”, situa, adiantando ainda que nomes como Montage, Nayra Costa, Daniel Groove, Juruviara, Priscila Delgado, Baba de Camelo, Farra na Casa Alheia, entre outros, se unirão à trupe para fazer aquele auê.
“É muito bom participar da programação oficial da Prefeitura. Temos muita admiração por todos os artistas que foram contemplados e também muitas expectativas em relação a essa nova gestão da cultura”. Natasha descreve As Gata Pira como um bloco de amigos, artistas e intelectuais de esquerda. Não à toa, política é assunto importante para o grupo.
No ano passado, por exemplo, o lema deles foi “Palestina Livre”; neste, será “Sem Anistia”, em conformidade com a identidade que os membros assumem – “somos comunistas e acreditamos num projeto de emancipação humana”.
Por sua vez, sobre as vantagens e desafios de colocar um bloco na rua durante o Carnaval, Natasha é direta: “Ao mesmo tempo que é bom, se torna também uma grande responsabilidade. Pela primeira vez, além da ajuda espontânea dos amigos do bloco, temos também uma empresa patrocinando”, mensura.
“Nosso bloco já existe há 13 anos e foi um dos pioneiros nesse fomento ao carnaval independente e de rua em Fortaleza. É muito desafiador colocar o bloco na rua porque, nessa perspectiva mesmo da profissionalização, das coisas ficarem melhores pra gente e pro nosso público, vamos trabalhando cada vez mais e gerando mais expectativa”.