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Quais estratégias dos pré-candidatos do PT para se sobressaírem na disputa interna pela Prefeitura

Com a chegada de Evandro Leitão, o partido soma cinco pré-candidaturas para concorrer pelo comando do Paço Municipal nas eleições de 2024

Escrito por Luana Barros , luana.barros@svm.com.br
Pré-candidatos do PT: Evandro Leitão, Luizianne Lins, Guilherme Sampaio, Larissa Gaspar e Arthur Bruno
Legenda: Pré-candidatos do PT: Evandro Leitão, Luizianne Lins, Guilherme Sampaio, Larissa Gaspar e Arthur Bruno
Foto: Divulgação/Alece/Câmara dos Deputados

A chegada do presidente da Assembleia Legislativa do Ceará, Evandro Leitão, ao Partido dos Trabalhadores esquentou a disputa interna sobre quem será o candidato da legenda para a Prefeitura de Fortaleza em 2024. Ele irá se filiar ao PT em grande evento na manhã deste domingo (17), junto a oito prefeitos cearenses que também chegam à sigla. 

Cotado como pré-candidato, ele irá se unir aos quatro petistas que já colocaram o nome à disposição para a corrida pelo Paço Municipal no próximo ano: a deputada federal Luizianne Lins, os deputados estaduais Guilherme Sampaio e Larissa Gaspar e o assessor de Assuntos Municipais do Governo do Ceará, Artur Bruno

A semana decorrida desde a oficialização do pedido de filiação de Evandro Leitão ao PT, na última segunda-feira (11), teve a reafirmação de pré-candidaturas, além da demonstração de força por parte dos concorrentes, inclusive pelo próprio presidente da Alece. 

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Uma movimentação que deve se intensificar nas próximas semanas, já que o prazo para a definição de quem será o candidato petista em Fortaleza é o final de março de 2024. Até lá, as articulações passam por diálogos com as principais lideranças da sigla — como o governador Elmano de Freitas (PT) e o ministro da Educação, Camilo Santana (PT) —, mas também pelos partidos aliados. 

Contudo, a dinâmica interna do PT também impõe uma articulação com forças nem sempre comuns a outros partidos. Diferentes correntes formam a direção municipal e tem capilaridade dentro da militância petista — que pode ser convocada inclusive a votar em qual nome quer que presente o partido nas eleições, caso a disputa chegue às prévias. 

Esses elementos se unem a uma "reconfiguração das forças políticas no Ceará", diz a professora de Teoria Política da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Monalisa Torres,  o que explica a antecipação da discussão eleitoral, em um movimento diferente do que ocorreu em pleitos anteriores no lado governista. "Mudou o quadro, mudou o equilíbrio de forças, mudou a liderança. Quem tem interesse de se fortalecer nesse processo, está se movimentando", diz. 

"Há uma fragmentação das forças políticas. Em anos anteriores, tinha uma certa unidade. (...) Hoje não, as forças estão fragmentadas. E não existe um nome natural, digamos assim, alguma figura que possa ser a figura localizada imediatamente como o nome do governo. Então precisa de uma construção. Por isso que os nomes são colocados para buscar essa construção", concorda o cientista político Cleyton Monte.

'Recall' eleitoral

A ex-prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins divulgou, no dia seguinte ao pedido de filiação de Evandro Leitão, vídeo em que pré-candidatas do PT a quatro capitais brasileiras declaram apoio à pré-candidatura dela em Fortaleza, como Maria do Rosário (PT-RS) e Natália Bonavides (PT-RN). 

Ainda nesta semana, ela publicou declarações de apoio do ex-governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro (PT), e de deputados e deputadas federais do PT, como Erika Kokay (PT-DF) e Vicentinho (PT-SP). 

A estratégia nas redes sociais envolve ainda o destaque dado a lembrar equipamentos e iniciativas realizadas durante os oito anos de mandato dela à frente da Prefeitura de Fortaleza e o lembrete sobre a trajetória dela dentro do PT, inclusive resgatando as candidaturas em 2016 e 2020, em momentos em que o partido estava enfraquecido após o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e da prisão de Lula (PT). 

"Faz com que a gente entenda o que é cumprir missão e a gente foi cumprir a missão que o partido precisou", reforçou Luizianne durante live realizada nesta sexta-feira (15). A fala, transmitida ao vivo pelo Instagram da deputada federal, também foi momento dela rebater a "insistência" de alguns "em bater na mesma tecla", conforme explicou Luizianne. 

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Ela citou que a insistência seria sobre ela não ser aberta ao diálogo. A ex-prefeita citou, para contrapor a essa tese, o fato de ter tido uma coligação formada por 12 partidos quando concorreu a reeleição, em 2008, além de ter contado com ampla base aliada na Câmara Municipal de Fortaleza. 

"Desde que estou na política, tenho facilidade no diálogo. Nunca neguei a dialogar com quem quer que fosse. Estou aberta sempre a construir consensos", ressaltou. Luizianne ainda reforçou a necessidade de entendimento "da dinâmica partidária" e defendeu a realização de prévias para a escolha do candidato petista em 2024. 

"A organização interna do Partido dos Trabalhadores acaba sendo um ponto, claro, de maior proximidade para a Luizianne, porque ela sabe se movimentar mais nesse sentido", cita o cientista político Cleyton Monte. "E tem um apoio de figuras importantes do PT de Fortaleza". Outro ponto em que a deputada tem vantagem, afirma Monalisa Torres, é o reconhecimento da população, principalmente em Fortaleza. "Ela sai na frente, porque tem recall político", destaca. 

Candidato 'agregador' de aliados

Citado pelo governador Elmano de Freitas como um dos possíveis pré-candidatos à Prefeitura de Fortaleza, Evandro Leitão ainda não confirmou oficialmente que pretende concorrer, mas a própria filiação ao PT é vista como um movimento para se viabilizar para a disputa de 2024. No mesmo dia em que Luizianne Lins publicou vídeo com declarações de apoio à própria pré-candidatura, Evandro Leitão esteve em Brasília onde se reuniu com o presidente Lula (PT), em encontro articulado pelo ministro da Educação, Camilo Santana. 

Monte cita que é exatamente este apoio de lideranças petistas de destaque que diminui a desvantagem de Evandro Leitão em relação à ex-prefeita quando se trata de entender os mecanismos internos do PT. 

"Por exemplo, quando você tem um apoio, de um destaque (como) José Guimarães (líder do Governo Lula na Câmara dos Deputados), do Camilo Santana, das principais lideranças do partido, isso acaba mobilizando a militância e acaba diminuindo essa desvantagem. Porque as críticas ao Evandro Leitão é que seria um novo nome e que estaria usando o partido para uma candidatura, mas ele chega já forte", ressalta o cientista político.

E, apesar da resistência ao nome dele por parte de alguns petistas — principalmente os mais próximos a Luizianne —, ele deve utilizar como estratégia o potencial "agregador" de partidos aliados, completa Monalisa Torres. "O Evandro Leitão já vem com esse nome ventilado há bastante tempo. Então, de alguma forma, já chega com certo capital no sentido de agregar outros partidos e outros grupos", explica.  

O ministro Camilo Santana havia dito, ainda em agosto, que um dos critérios para a definição seria exatamente o nome que "agrega melhor" o arco de partidos que dão sustentação ao Governo Elmano no estado. "Vamos colocar nomes e discutir qual o nome que agrega melhor, qual o nome que representa nesse momento o projeto", disse em entrevista à Live PontoPoder. 

Sem ter disputado, até o momento, um cargo majoritário, o presidente da Alece tomou algumas iniciativas em relação à população fortalezense que também podem ser indicativos de por onde as estratégias do futuro petista irão caminhar. É de autoria dele, por exemplo, a emenda que incluiu os moradores de Fortaleza no "Programa Vai e Vem", criado no final de novembro. 

A iniciativa, do Governo do Ceará, pretende zerar a tarifa do transporte coletivo em viagens intermunicipais na Região Metropolitana de Fortaleza e deve começar a ser implementada entre o final de 2023 e o início de 2024. 

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Renovação política

Luizianne Lins e Evandro Leitão devem ser os atores de uma "disputa mais forte" dentro do PT para ser o candidato do partido à Prefeitura de Fortaleza por serem "os que aglutinam mais dentro do PT", considera Cleyton Monte. A projeção é corroborada por Monalisa Torres, que aponta que eles devem "polarizar" a disputa interna em 2024. 

Apesar disso, existem outros três nomes colocados dentro da legenda petista. Torres aponta semelhanças entre os perfis de Guilherme Sampaio, Larissa Gaspar e Artur Bruno. "São quadros históricos do PT e dariam a ideia de renovação, de um nome novo. Tem essa ideia de oxigenação", argumenta. Com experiência no Legislativo, nenhum deles concorreu, até agora, a um cargo majoritário. 

"Guilherme Sampaio e Larissa (Gaspar) se colocaram justamente porque há uma parte do partido buscando novos nomes, novas figuras, novas lideranças, a ideia de que o PT deveria apresentar uma nova candidatura, então estão se movimentando", reforça Monte.

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A observação dos especialistas converge para o discurso de Sampaio. "O fato de ser quadro político que não disputou eleição majoritária é importante, representa a apresentação de novos quadros, mas (ao mesmo tempo) muito enraizados na história de luta do partido", diz. 

Ele cita ainda a experiência de cinco mandatos como vereador de Fortaleza que o faz "conhecer profundamente a cidade". "Seus potenciais e seus problemas", afirma. "Eu me considero com grande potencial de crescimento em uma eleição com essa característica". 

Logo após o pedido de filiação de Evandro Leitão, a deputada Larissa Gaspar elogiou o novo colega de partido, mas fez questão de reforçar a pré-candidatura. Em entrevista ao Diário do Nordeste, ela ressaltou a necessidade de uma renovação para a disputa de 2024.

 "O PT precisa de cara nova", destacou. "Tenho dito que para velhos problemas, precisamos de novas ideias". Ela também ressaltou a experiência vinda de dois mandatos como vereadora de Fortaleza e, agora, na Assembleia Legislativa como importantes para a "construção de propostas populares para enfrentar os problemas históricos de Fortaleza". 

"O PT só vai ganhar as eleições e governar bem a cidade se efetivamente ouvir o povo, aprender com erros do passado e ter coragem para fazer as mudanças necessárias para enfrentar os velhos problemas que prejudicam a grande maioria dos fortalezenses", reforça.

O ex-deputado Artur Bruno, por sua vez, foi o último a apresentar-se oficialmente como pré-candidato, apesar de ter sido citado, ainda em julho, pelo governador Elmano de Freitas como um dos nomes que poderiam liderar a chapa petista à Prefeitura de Fortaleza. O argumento de mudança também foi apontado como necessário pelo pré-candidato petista. 

 "Eu tenho expectativa de liderar um processo de mudança", afirma. Ele lembra que é o mais antigo filiado ao PT dentre os cinco pré-candidatos, tendo exercido mandatos como vereador, deputado estadual e deputado federal. 

"Eu tenho perfil, estou preparado, conheço Fortaleza, escrevi um livro sobre Fortaleza com meu amigo Airton de Farias. Conheço os 121 bairros, conheço os problemas e tenho a expectativa de liderar um processo de mudança. Fortaleza precisa de mudança", considera.  

Definição até março de 2024

Responsável por conduzir o processo de escolha em 2024, o PT Fortaleza pediu à direção nacional do partido o adiamento do prazo de definição para março do próximo ano. Um prazo, afirma o presidente do diretório municipal, Guilherme Sampaio, que não deve ser adiado novamente. 

Segundo ele, o momento agora é de diálogo interno, envolvendo os líderes petistas como Elmano e Camilo, as bancadas do partido no Congresso Nacional, na Assembleia Legislativa e na Câmara Municipal, além das correntes políticas e da representação da militância na direção do PT Fortaleza. 

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O processo vai envolver ainda "aprofundar o diagnóstico da conjuntura política, avaliar as circunstâncias das eleições, os quadros que temos à disposição, ouvir os partidos que integram a federação e os aliados", além de fazer a "análise dos adversários". "A partir disso, evoluir para um consenso progressivo", reforça. "A direção do PT tem maturidade para levar em conta esses processos e a unidade para estarmos forte nesta disputa que não é simples, é complexa". 

Apesar de acreditar que será possível construir o consenso na escolha de quem será o pré-candidato petista, Sampaio reforça que, caso não seja possível, o partido "construiu métodos que nos dão segurança e legitimidade para deliberar de forma democrática". 

Guilherme Sampaio aponta que a escolha pode ser feita por três mecanismos, conforme estabelecidos pela direção nacional do PT. A deliberação por maioria de dois terços; caso não haja maioria, a realização de encontro municipal; e, por último, a realização de prévias para a escolha do candidato do PT para a Prefeitura de Fortaleza. 

"(Mas) Eu tenho muita crença que pode evoluir ao longo dos próximos meses, olhando com desprendimento, com senso de projeto, tem todas as condições para evoluirmos para consenso", reforça.

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