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O que falta ser resolvido no cenário político do Ceará a um mês das convenções

Grupo governista vive guerra interna para escolher quem irá concorrer ao Governo, já a oposição bate cabeça em busca de alguém que possa se mostrar viável na disputa pelo Senado

Escrito por Igor Cavalcante , igor.cavalcante@svm.com.br
urna eletrônica
Legenda: Partidos podem começar a fazer as convenções em um mês
Foto: Antonio Augusto/Ascom/TSE

A partir do próximo dia 20 de julho, os partidos políticos do Brasil terão 16 dias para definir as chapas que irão disputar as eleições deste ano. No Ceará, a exatamente um mês do início das convenções, integrantes da base e da oposição têm quebrado a cabeça para solucionar os impasses internos e apresentar nomes competitivos de um lado e de outro.

O que chama atenção no Estado é que, enquanto o grupo governista vive uma guerra interna para escolher quem irá concorrer ao Governo do Ceará, a oposição tem pré-candidatura definida.

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Já na disputa pela vaga no Senado o problema é inverso. Governistas se uniram em torno de um nome, já a oposição bate cabeça em busca de alguém que possa se mostrar viável no pleito.

Nesta corrida contra o calendário eleitoral, a única incerteza que governistas e oposicionistas têm em comum é o cargo de vice-governador.

O grupo que atualmente comanda o Executivo e o Legislativo do Ceará tenta achar em seu amplo arco de aliança um quadro que não desagrade as outras siglas. Já a oposição busca um nome que impulsione a chapa.

Governistas têm aliança trincada

Os nomes de Roberto Cláudio e Izolda Cela polarizam a disputa na chapa governista
Legenda: Os nomes de Roberto Cláudio e Izolda Cela polarizam a disputa na chapa governista
Foto: Fabiane de Paula

O centro do impasse entre os governistas na chapa para o Governo do Ceará envolve dois nomes: a atual governadora Izolda Cela (PDT) e o ex-prefeito de Fortaleza Roberto Cláudio (PDT).

Além deles, o PDT lançou mais dois pré-candidatos: o presidente da Assembleia Legislativa do Ceará, Evandro Leitão (PDT), e o deputado federal Mauro Filho (PDT).

Internamente, no entanto, a disputa está polarizada em torno de Roberto e Izolda. Integrantes da sigla na Capital – liderados pelo atual prefeito José Sarto (PDT) – saíram em apoio a Roberto Cláudio ainda em março deste ano.

A reação a esse movimento estendeu a polarização a partidos aliados, que saíram em defesa do nome da governadora. 

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Atualmente um dos maiores defensores públicos da candidatura de Izolda, o deputado federal José Guimarães foi quem iniciou o movimento de apoio à reeleição da mandatária. As falas, que inicialmente seguiam uma linha de “preferência” pela pedetista dentre os quatro pré-candidatos, rapidamente escalaram para ameaças de rompimento da aliança entre PT e PDT, parceria que já dura mais de 15 anos no Ceará.

Além do petista, a onda de apoio à governadora seguiu com o ex-senador Eunício Oliveira (MDB). Ele também ameaçou lançar candidatura própria do MDB ou mesmo reforçar a oposição caso Izolda não seja a escolhida. O mesmo posicionamento foi adotado pelo deputado estadual Zezinho Albuquerque, uma das lideranças do PP Ceará.

Em meio à polarização interna e as ameaças de rompimento externas, o PDT promoveu um encontro regional na última semana em Fortaleza. A sigla decidiu que irá definir a chapa até o início de julho. No entanto, dirigentes da sigla se mostram inflexíveis quando a influência de partidos aliados na escolha do candidato. 

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O presidente nacional da sigla, Carlo Lupi, inclusive declarou apoio a Roberto Cláudio. Questionado sobre a possibilidade de rompimento com o PT, o pré-candidato à presidência, Ciro Gomes (PDT), desejou que Guimarães “seja muito feliz”

Caso o PDT de fato lance o nome de Roberto Cláudio e tais ameaças de rompimento se concretizem, o grupo governista deve se fragmentar em até três candidaturas. Entre os petistas, os deputados federais José Airton e Luizianne Lins já se apresentaram para liderar uma chapa ao Governo do Ceará. Mais recentemente, o próprio Guimarães passou a ter o nome cotado.

No caso do MDB, Eunício Oliveira admite a possibilidade de se lançar em uma disputa ao Executivo. Já o PP tem como pré-candidato Zezinho Albuquerque, que disse retirar a candidatura somente se a atual governadora tentar a reeleição.

Oposição aguarda as bênçãos de Bolsonaro

Do outro lado das trincheiras, o nome mais forte da oposição já está oficialmente lançado como pré-candidato desde março. Capitão Wagner conseguiu a liderança do União Brasil no Ceará, sigla que nasceu da fusão do PSL com o DEM, e terá acesso a parte do maior fundo eleitoral do País.

O político atraiu para seu partido e recebeu apoio de aliados dos mais diversos espectros da oposição no Ceará, incluindo adversário dos irmãos Ciro e Cid Gomes (PDT), opositores do ex-presidente Lula (PT) e aliados do atual presidente Jair Bolsonaro (PL) – de quem já recebeu apoio.

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Essa unidade da oposição de olho no Governo do Ceará, no entanto, não aparece quando o assunto é a vaga cearense no Senado Federal. Há ao menos quatro nomes postos para a disputa, incluindo três de um mesmo partido.

O postulante a ser escolhido terá como missão reverter o favoritismo do ex-governador Camilo Santana (PT), que deixou o Executivo com altas taxas de popularidade para tentar a vaga no Legislativo.

Oficialmente, o União Brasil lançou, no fim de maio, em evento interno, a pré-candidatura do empresário Ésio de Sousa Júnior, esposo da deputada estadual Fernanda Pessoa (UB), pré-candidata à Câmara dos Deputados. O evento contou inclusive com a participação do presidente da sigla e líder da oposição, Capitão Wagner. 

União Brasil lançou candidato ao Senado, mas Wagner anunciou apoio a nome do PL
Legenda: União Brasil lançou candidato ao Senado, mas Wagner anunciou apoio a nome do PL
Foto: Reprodução

Menos de uma semana depois, Wagner anunciou apoio à pré-candidatura do empresário Alberto Bardawil (PL) para o mesmo cargo. A declaração causou estranheza a aliados do oposicionista não só pelo apoio ao nome de um integrante de outro partido – quando sua própria sigla tem pré-candidato –, mas também porque Bardawil não é unanimidade nem mesmo entre integrantes do PL. 

A sigla que nacionalmente abriga Jair Bolsonaro tem três pré-candidatos cearenses ao Senado. Além de Bardawil, disputam a vaga o vereador Inspetor Alberto e o pastor Francisco Fernandes.

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A candidatura de Bardawil tem como principal fiadora a pré-candidata a deputada federal Mayra Pinheiro, ex-secretária do Ministério da Saúde durante a pandemia da Covid-19. Já Inspetor Alberto conta com apoio de integrantes da bancada legislativa do PL, como André Fernandes, Carmelo Neto e Dudú Diógenes. Francisco Fernandes foi lançado pelo casal Dr. Jaziel, deputado federal, e Dra. Silvana, deputada estadual.

No PL Ceará, o presidente da sigla, Acilon Gonçalves, tem promovido reuniões com os pré-candidatos. Ele, no entanto, mantém cautela sobre a escolha de um dos três. Nos bastidores do partido, políticos acreditam que o “candidato oficial” do PL aparecerá em um vídeo gravado ao lado do Presidente da República.

As incertezas sobre os vices

Enquanto do lado governista a disputa pela cabeça de chapa tem rachado o arco de aliança, o cargo de vice pode servir para acalmar alguns aliados. O problema é que muitas siglas também almejam esse espaço. Como cabe ao PDT lançar o candidato ao Governo, siglas como PT, PSD, PSB, PSDB, MDB e PP já sinalizaram intenção de compartilhar a chapa com o candidato pedetista – a depender de quem for escolhido.

Entre integrantes do PDT, entre eles o principal articulador do partido, o senador Cid Gomes, nomes do PT sofrem resistência porque a sigla já estará representada na aliança com Camilo Santana disputando o Senado. Porém, os petistas têm se movimentado para tentar emplacar um nome na disputa. Nos bastidores, o nome de José Guimarães novamente reaparece como uma possibilidade.

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Já o PSD sinaliza abertamente o interesse no cargo. Em evento da sigla em Fortaleza, o presidente nacional do partido, Gilberto Kassab, defendeu essa tese, assim como o comandante local da sigla, o ex-vice-governador Domingos Filho. Quem também já colocou o nome à disposição foi o deputado federal Denis Bezerra, dirigente do PSB Ceará. 

Em um cenário de rompimento entre PT e PDT, há ainda a possibilidade de que integrantes do PT e do MDB se aliem e lancem uma chapa que poderá ser dividida entre nomes das duas siglas.

O cenário de incerteza se repete na oposição. Até agora, a única sinalização dada oficialmente por Wagner é de que a decisão será tomada ainda neste mês e envolve quatro nomes: o ex-governador Lúcio Alcântara e os empresários Oscar Rodrigues, Gilmar Bender e Luizinho Girão.

Aliados do pré-candidato ao Governo falam que Bender e Luizinho são os nomes mais fortes nas articulações internas do grupo – e incluem ainda o ex-vice-prefeito de Fortaleza, Gaudêncio Lucena.

Girão já foi deputado federal e é uma liderança local no ramo de laticínios. Já Bender era aliado dos Ferreira Gomes até as eleições de 2020, quando acabou preterido pelos pedetistas na disputa pela Prefeitura de Juazeiro do Norte.

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