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Demora do PDT em decidir nome arrasta partidos aliados para cenário de indefinição

Partidos aliados começam a revelar suas preferências, pressionar os pedetistas e ameaçam lançar candidatura própria ou mesmo apoiar a oposição

Escrito por Igor Cavalcante , igor.cavalcante@svm.com.br
Palácio da Abolição
Legenda: PDT vive indefinição sobre quem irá indicar para disputar o comando do Palácio da Abolição
Foto: TIAGO STILLE/ GOVERNO DO CEARA

Mesmo com apoio de aliados concentrados em torno da pré-candidatura ao Executivo estadual da governadora Izolda Cela (PDT) e do ex-prefeito Roberto Cláudio (PDT), o PDT do Ceará segue indefinido sobre quem irá liderar a chapa governista no pleito deste ano. Esse cenário de incerteza afeta diretamente siglas aliadas, que começam a revelar suas preferências, pressionar os pedetistas e ameaçam lançar candidatura própria ou mesmo apoiar a oposição, a depender do nome a ser escolhido.

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Nas eleições de 2018, a chapa encabeçada por Camilo Santana (PT) contou com um arco de aliança de 16 siglas. Para este ano, seja qual for o nome escolhido pelo PDT, o grupo deve ter perdas de aliados. A menos de quatro meses para a definição das chapas, as articulações governistas tentam reduzir justamente uma eventual debandada de aliados. 

Além de Izolda Cela e Roberto Cláudio, o PDT lançou mais dois pré-candidatos: o deputado federal Mauro Filho (PDT) e o presidente da Assembleia Legislativa do Ceará, Evandro Leitão (PDT). Este, no entanto, já afirmou que sua prioridade é disputar a reeleição para o Legislativo estadual. No último dia 22, o político sinalizou apoio ao nome de Izolda ao dizer que torce para que ela fique mais quatro anos à frente do Governo do Estado.

Preferência petista

Na semana passada, o PT foi quem primeiro manifestou oficialmente a “preferência” pelo nome de Izolda. O deputado federal José Guimarães (PT), uma das principais lideranças nacionais e locais da sigla, disse que o partido defende o nome da pedetista. “Não estamos impondo nada, mas nossa preferência é por Izolda Cela”, escreveu no Twitter.

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A postura do parlamentar foi endossada por dirigentes petistas em entrevista ao Diário do Nordeste, entre eles Antônio Filho e Guilherme Sampaio, presidentes dos diretórios do PT no Ceará e em Fortaleza, respectivamente. Focos de resistência dentro da sigla, os deputados federais Luizianne Lins (PT) e José Airton (PT) participaram de reuniões com a governadora.

A deputada federal, inclusive, colocou o próprio nome à disposição para disputar como cabeça de chapa, rompendo aliança com o PDT. A conversa entre Luizianne e Izolda, no entanto, serviu de sinalização para a base aliada de uma possível simpatia ao nome da governadora. 

Para os petistas, a manutenção da aliança depende principalmente do nome a ser escolhido para liderar a chapa pedetista. Nos bastidores, os integrantes do PT mostram-se resistentes ao nome de Roberto Cláudio, a quem Luizianne faz oposição. Por isso, a sigla pressiona pelo nome de Izolda.

“O PT não pode ir para uma aliança com poder de ofício, mas precisa se sentir representado. Não é simples, é uma aliança de 16 anos que precisa se renovar para enfrentar a candidatura de Bolsonaro no Ceará”
José Guimarães (PT)
Deputado federal

Disputa interna no PDT

No caso do PDT, a identificação está provocando um cenário turbulento até mesmo dentro do partido, que enfrenta uma divisão cada vez mais explícita de seus quadros. Aliados do ex-prefeito Roberto Cláudio têm reforçado o apoio ao nome do ex-mandatário. O atual prefeito de Fortaleza, José Sarto (PDT), foi o primeiro a apoiar o antecessor. 

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A fala do prefeito foi minimizada pelo então governador Camilo Santana e pelo senador Cid Gomes (PDT), que ressaltaram se tratar de uma opinião “pessoal” de Sarto. Os vereadores da Capital também passaram a defender o nome do ex-prefeito. Um dos principais defensores é o vereador de Fortaleza e vice-presidente da Câmara Municipal, Adail Júnior (PDT).

O parlamentar vem atacando quase diariamente os petistas, principalmente o deputado federal José Guimarães, por apontar sua “preferência” por Izolda Cela. Em discurso na Casa, na última quinta-feira (28), ele chegou a dizer que iria trabalhar para o fim da aliança entre PT e PDT. O vereador já questionou se a governadora teria “sangue petista”.

Apoio a Izolda ou a Wagner

Terceira maior força estadual em número de deputados e quarta em número de prefeitos, o MDB é outra sigla que aguarda definição do PDT, de acordo com o ex-senador Eunício Oliveira (MDB), presidente estadual do partido. 

“Vamos aguardar para verificar o quadro político estadual. Vai mesmo haver a aliança entre PT e PDT? Qual nome será do PDT? Os demais partidos irão apoiar?”, questiona o emedebista.

Conforme o parlamentar, a ideia é que o MDB defina uma posição até o fim de junho. “O MDB descarta apoio ao Capitão Wagner? Não descartamos. Podemos estar com Izolda ou com Capitão Wagner? Podemos estar. Teremos candidatura própria? Poderemos ter”, disse o ex-senador.

“O MDB é um partido de centro, mas não é do Centrão. Então, como partido de centro, podemos apoiar um candidato local de direita ou de centro direita? Sim, podemos. Podemos apoiar um de centro esquerda? Podemos, talvez com mais prazer. Mas também podemos ter uma candidatura própria, que seria com muita alegria”
Eunício Oliveira (MDB)
Ex-senador e presidente estadual do MDB

O emedebista, no entanto, sinalizou que, dentre os nomes do PDT, o de Izolda Cela é o que soa mais “natural” para liderar a chapa. “É mais que natural para quem está no comando (disputar como cabeça de chapa)”, disse. 

Eunício disse ainda que não tem “vetos” aos outros pré-candidatos do PDT. No entanto, o ex-senador resiste à ideia de apoiar o nome de Roberto Cláudio, por exemplo. “Não é veto, nem amargo, é não acreditar. Como dizia meu pai, é não apanhar duas vezes no mesmo beco”, disse.

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De olho no vice

Já o PSD, liderado no Ceará pelo ex-vice-governador Domingos Filho (PSD), chegou a cogitar lançar o ex-mandatário como cabeça de chapa. No entanto, em evento realizado em março no Ceará, o partido sinalizou o interesse em ficar com a vaga de vice na chapa governista. 

Conforme o presidente da sigla no Estado, esse posicionamento segue firme dentro do partido.

“Sabemos que o processo de decisão não é agora, estamos esperando serenamente com a nossa situação colocada. O PT já escolheu a participação com o ex-governador Camilo para o Senado, isso também foi feito com serenidade”
Domingos Filho (PSD)
Ex-vice-governador e presidente do PSD do Ceará

Domingos Filho disse ainda que a sigla não irá manifestar preferências ou vetos aos pré-candidatos pedetistas. “Não vetamos ninguém e também não achamos legítimo tentar decidir pelo PDT (...) Não temos preferências, temos respeito pelos quatro nomes colocados, cabe ao PDT decidir”, finalizou.

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Izolda Cela e Roberto Cláudio

Posicionamento semelhante é adotado pelo PSB. Presidente da sigla, o deputado federal Denis Bezerra (PSB) afirmou que a aliança com o PDT está consolidada, independentemente do nome escolhido para a chapa governista. Conforme o parlamentar, o PSB irá discutir internamente uma eventual indicação para vice. “Hoje, sou pré-candidato a deputado federal. Se eu receber essa missão, vou desempenhar, mas vamos aguardar”, disse.

Diferentemente de Domingos Filho, Bezerra reconhece que dois nomes pedetistas têm concentrado o apoio de aliados.

“Izolda e Roberto estão reunindo as melhores condições da disputa, mas vamos ter que aguardar mais um pouco, para ver como vai ficar”
Denis Bezerra (PSB)
Deputado federal e presidente do PSB do Ceará

O ex-senador Chiquinho Feitosa, que irá comandar o PSDB no Ceará, foi procurado pela reportagem, mas não respondeu.

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