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Brigas familiares podem dar o tom às disputas eleitorais nos municípios do Ceará; veja quem rompeu

Crises familiares devem repercutir no cenário eleitoral, colocando parentes em lados opostos da eleição em 2024

Escrito por Luana Barros , luana.barros@svm.com.br
Urna Eletrônica
Legenda: Crises familiares devem ter impacto direto nas eleições municipais de 2024 em várias cidades cearenses
Foto: Thiago Gadelha

O rompimento político entre aliados não é incomum e costuma ser ainda mais frequente em anos eleitorais. Em muitos casos, esta ruptura é responsável por definir quem serão os concorrentes ao voto do eleitor nas urnas. Muitas cidades vivenciam uma crise com elementos ainda mais específicos: o conflito político acontece entre pessoas de uma mesma família, levando parentes para lados opostos da disputa eleitoral.

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Um dos casos mais marcantes envolve a família Ferreira Gomes. O fim da aliança entre o PT e o PDT na eleição para o Governo do Ceará em 2022 teve impacto direto na relação entre os irmãos, o senador Cid Gomes (PSB) e o ex-ministro Ciro Gomes (PDT). 

O racha fez com que os dois estivessem não só em lados opostos da política cearense, mas até — e pela primeira vez — em partidos diferentes. Junto com Cid Gomes, um grupo de prefeitos deixou o PDT, incluindo Ivo Gomes (PSB) — irmão de Cid e Ciro. Além disso, muitos deputados pediram autorização da Justiça Eleitoral para sair da legenda, incluindo a deputada estadual Lia Gomes (ainda PDT), também irmã.

Agora, o rompimento deve ter repercussão direta no berço político da família: a cidade de Sobral, governada por Ivo Gomes. O prefeito encerra, neste ano, o segundo mandato à frente da Prefeitura e deve escolher um sucessor para concorrer ao cargo com o apoio dele e de Cid Gomes. 

Ciro Gomes, por sua vez, disse que não pretende se opor aos irmãos na disputa da cidade. "Não me peça para falar de Sobral, não, porque aí minha cabeça cede para o coração. Eu não vou contra os meus irmãos. Eles podem vir contra mim, mas eu não vou contra eles em nenhuma hipótese", reforçou, em entrevista no início de abril.

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Este não é um caso isolado. As dinâmicas eleitorais devem ser afetadas por rachas familiares em outras cidades cearenses, como Cascavel, Pacatuba, Crato e Massapê.

A professora de Teoria Política da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Monalisa Torres, reflete que é preciso compreender os rompimentos familiares dentro de uma lógica dos grupos políticos, que ditam a conjuntura política em muitas cidades cearenses.

"As relações políticas quando são construídas não são somente pragmáticas. Há muita questão, principalmente quando se pensa em grupo político, relacionada à fidelidade à liderança", explica. Ela lembra que movimentações partidárias de lideranças políticas não estão, necessariamente, ligadas a ideologia partidária. "Elas seguem certas lideranças, elas seguem os líderes, elas vão acompanhando os seus líderes".

"Eu gosto de pensar nas famílias, não especificamente como famílias", explica. "Embora tenham as lideranças principais do grupo (como) membros da família — que normalmente são aqueles que tomam as decisões, são aqueles que organizam as listas de candidaturas, são aqueles que estão ocupando os espaços mais importantes — eles também estão ali disputando os grupos, espaço de grupos".

Pragmático versus pessoal

O fator pessoal em rompimentos políticos está presente não apenas quando há familiares envolvidos. "Porque estas afinidades, que estão para além da ideologia, também atuam como fatores, como variáveis que influenciam essas brigas, que acabam tendo origem numa questão pessoal, mas que descambam para uma questão prática da vida política", explica.

"A política não é só o lado racional, ela envolve muita paixão. Então, não acho estranho, por exemplo, uma briga, um descontentamento entre irmãos gerar um racha em um grupo político dada essa duplicidade de fatores que influenciam a política", completa Torres. 

Em Massapê, briga entre irmãos não é incomum no cenário político local. O mais recente envolve a prefeita da cidade, Aline Albuquerque, e o irmão e deputado federal AJ Albuquerque. A crise familiar começou em dezembro do ano passado. 

Na época, o deputado federal publicou vídeo criticando a gestão da irmã por, supostamente, ter suspendido a cessão de um carro ao vice-prefeito, Luiz Carlos Frota (PP) — ele aparece ao lado de AJ Albuquerque. 

"Não sei por que uma gestão (decidiu) negar um carro, tirar um carro que você usava uma vez na semana ou duas para ir a Fortaleza levar pessoas doentes. (...) Muitos massapenses conhecem seu trabalho, que você sempre dá assistência a essas pessoas", disse o deputado. Na mesma época, AJ indicou que a crise com a irmã Aline poderia ter começado bem antes. "Estou há três anos calado", disse em entrevista à Rádio Coqueiros FM. 

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O rompimento entre irmãos acabou resultando na desfiliação de Aline Albuquerque do PP — que é presidido por AJ no Ceará e tem como presidente de honra o pai de ambos, o secretário de Cidades do Governo do Ceará, Zezinho Albuquerque (PP). Ela se filiou, em abril, ao Republicanos para tentar a reeleição. 

Aline Albuquerque deve estar em lado oposto ao do irmão, já que o PP integra a chapa do pré-candidato a prefeito de Massapê, Ozires Pontes (PSDB). 
 
Essa não é a primeira vez em que um rompimento político coloca em lados opostos lideranças políticas da família Albuquerque. Em 2016, o próprio AJ enfrentou o tio, Jacques Albuquerque, nas urnas e acabou sendo derrotado na tentativa de reeleição ao cargo de prefeito de Massapê. Em 2020, foi a vez de Aline derrotar o tio na disputa pelo comando do Executivo municipal.

Disputas familiares em Pacatuba

Outra cidade que possui tradição de crises familiares no cenário político-eleitoral é Pacatuba, na Região Metropolitana de Fortaleza. Para 2024, devem estar de lados opostos o ex-prefeito Carlomano Marques (MDB) e o sobrinho dele, Rafael Marques (PSB), que atualmente comanda a Prefeitura.

Os dois eram aliados em 2020, quando Rafael foi eleito vice-prefeito da cidade na chapa encabeçada por Carlomano. Até o ano passado, a perspectiva era de que Rafael Marques disputasse a Prefeitura de Pacatuba com apoio do tio — que encerraria o segundo mandato consecutivo no cargo de prefeito em dezembro de 2024. 

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Mas investigações do Ministério Público do Ceará (MPCE) acabaram afastando Carlomano do cargo em 2023 — ele chegou inclusive a ter a prisão decretada em abril do ano passado. No último mês de fevereiro, Carlomano renunciou ao mandato e Rafael Marques assumiu de forma definitiva.   

Ao anunciar o rompimento com o sobrinho, no final de abril, Carlomano disse que "quiseram fazer comigo o que a ‘Erika fez com o Tio Paulo’”. A comparação é com o idoso Paulo Roberto Braga — a polícia investiga se ele teria sido levado morto por Erika Souza Vieira Nunes, sua sobrinha, a um banco para tentar sacar um empréstimo de R$ 17 mil.

"Na qualidade de presidente do MDB de Pacatuba, quero informar que não existe mais nenhum laço político-partidário entre a minha pessoa e o prefeito Rafael Marques. Estamos livres para lançar ou apoiar outra candidatura", escreveu nas redes sociais. 

Disputa familiar no Cariri

No Crato, também devem estar em lados opostos tio e sobrinho. Nesse caso, são o prefeito Zé Ailton Brasil (PT) e o vereador Lucas Brasil (PSDB). O afastamento entre os dois ocorreu no pós-eleição de 2022. 

"Foi tanto um caso pessoal, dentro da família, como a gente procurou espaço (na base aliada) e não encontrou. A gente optou por não permanecer no grupo", explica Lucas Brasil, sem dar maiores detalhes sobre os problemas pessoais envolvidos. 

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No âmbito político, Lucas Brasil é o pré-candidato tucano à Prefeitura do Crato. Ele deve enfrentar a pré-candidatura indicada pelo tio. 

No fim do segundo mandato, o prefeito Zé Ailton deve liderar o processo de escolha de quem será o pré-candidato do PT para a disputa pela sua sucessão. Entre os nomes cotados estão o vereador Pedro Lobo (PT) e o chefe de gabinete da Prefeitura, Rondinele Brasil. A secretária de Educação do Governo do Ceará, Eliane Estrela, é outro nome à disposição do partido para a disputa eleitoral de outubro.

Troca de sobrenome em Cascavel

A mais recente crise familiar a vir à tona foi em Cascavel. O caso veio a público após investigação da Polícia Civil realizada na Prefeitura de Cascavel, no último dia 2 de maio. O ex-prefeito Tino Ribeiro lamentou a operação que cumpriu mandados de busca e apreensão relacionados à gestão municipal. 

"A população de Cascavel amanheceu o dia hoje assustada, sem acreditar no que via: uma operação policial autorizada pela Justiça apurando irregularidades na Prefeitura Municipal de Cascavel", disse. As críticas foram direcionadas ao filho e atual prefeito de Cascavel, Tiago Lutiani (PT). 

"Eu, como pai, só tenho a lamentar. Lamentar pelo fato de meu filho não ter me ouvido, pelo contrário, ouviu a quem não devia", disse. O prefeito de Cascavel, por sua vez, não respondeu às críticas.

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Assim, o gestor municipal deixou de usar o sobrenome do pai. Em 2020, quando foi eleito para o primeiro mandato, assim como durante a gestão à frente da Prefeitura de Cascavel, ele usava o sobrenome paterno Ribeiro. Agora, no entanto, ele trocou para Lutiani. A mudança também foi feita pela esposa do prefeito, a deputada estadual Luana Régia (Cidadania). Ela foi eleita com o sobrenome Ribeiro, mas solicitou a mudança do sobrenome na Assembleia Legislativa do Ceará. 

Antes disso, em janeiro de 2024, Tiago Lutiani já havia exonerado Tino Ribeiro do comando da Secretaria de Obras Públicas de Cascavel. No mês seguinte, Luana Régia conseguiu uma medida protetiva contra o sogro por ameaça.

O Diário do Nordeste entrou em contato com os políticos envolvidos em crises familiares e políticas. O espaço continua aberto para manifestações.

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