Disputa política em Massapê tem irmãos rompidos e novo racha histórico na Família Albuquerque

A prefeita Aline Albuquerque e o irmão, o deputado federal, AJ Albuquerque, são filhos do secretário de Cidades, Zezinho Albuquerque, que é também rompido politicamente com um irmão

Legenda: Zezinho Albuquerque, Aline Albuquerque e AJ Albuquerque na diplomação dos eleitos em 2022
Foto: Reprodução / Instagram Aline Albuquerque

Desde 2018, quando o ex-prefeito de Massapê AJ Albuquerque foi eleito deputado federal, a família de um dos mais tradicionais deputados estaduais do Ceará parecia se reorganizar politicamente. Naquele mesmo ano, Zezinho Albuquerque, o pai, era reeleito para o oitavo mandato na Assembleia Legislativa e se fortalecia para tentar, dois anos depois, dar o troco na derrota sofrida pelo seu grupo em 2016, na disputa pela Prefeitura de Massapê. 

Nessa ascensão, a consolidação se avizinhava para 2024, na provável candidatura à reeleição de Aline Albuquerque, após a vitória eleitoral de 2020 sobre o tio, Jacques Albuquerque. As expectativas, no entanto, ruíram nas últimas semanas, ao vir a público um rompimento entre Aline e AJ. O novo cenário pode pulverizar a disputa e favorecer a oposição que se organiza entorno de Jacques e de um herdeiro político da região, o empresário Ozires Pontes, filho mais velho do ex-senador, Luiz Pontes. 

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Família de força política na cidade, os Albuquerque são líderes na região há décadas. Quem abriu o caminho foi Jacques Albuquerque, irmão de Zezinho, eleito prefeito em 1989. No ano seguinte, Zezinho era eleito deputado pela primeira vez. Em 1993, outro Albuquerque assume a prefeitura, Robério Júnior, primo de Jacques e Zezinho. 

Nas disputas municipais seguintes, o grupo perdeu o fôlego diante de outra figura tradicional, o ex-prefeito Nilson Frota, que voltou ao cargo nas eleições de 1996 e 2000. Em ambas as eleições, Jacques Albuquerque foi derrotado por uma diferença de menos de 300 votos. 

Nos anos 2000, o cenário se repetiu em 2004 e em 2008. Dessa vez, na disputa contra os Albuquerque, estava João Pontes, herdeiro de outra linhagem política da cidade. Seu bisavô, Coronel João Pontes, foi prefeito de Massapê e deputado estadual. O avô, Ozires Pontes, foi deputado estadual, federal e senador. O pai, Luiz Pontes, foi ainda presidente da Assembleia Legislativa e presidente do PSDB Ceará. 

Foram disputas acirradíssimas, que chegaram a um veredicto com diferença pequena de votos, como na vitória de Pontes pela reeleição em 2008, eleito com 153 votos a mais que Jacques. 

Retomada do protagonismo em 2012 

Foi preciso surgir um nome novo na disputa. Em 2012, a Família Albuquerque parte para a eleição com o jovem Antônio José Aguiar Albuquerque, o AJ Albuquerque. Com pouco mais de mil votos, o filho de Zezinho, à época no PSB, derrotou o candidato do PSDB, Fernando Antônio. 

Parecia ser a retomada do protagonismo se não fosse pelo rompimento no berço político entre Jacques e Zezinho, à época, presidente da Assembleia Legislativa do Ceará, que chegou a ser cotado, em 2014, para a sucessão de Cid Gomes, era o auge da carreira do massapeense.   

Jacques Albuquerque
Legenda: Jacques Albuquerque na disputa de 2020
Foto: Reprodução/Instagram Jacques Albuquerque

Nas eleições seguintes, em 2016, a disputa foi "dentro de casa". Jacques Albuquerque voltou a se lançar candidato a prefeito, derrotando o sobrinho em sua tentativa à reeleição. 

Apesar da força política de Zezinho, Jacques reuniu em torno de si seus adversários históricos. Formou com o ex-prefeito Nilson Frota, a dupla dos "bons velhinhos", com apoio de MDB, PSDB e de seu recém-filiado, PSD, na época em que o presidente do partido, Domingos Filho, arregimentava oposição ao grupo político do ex-governador Cid Gomes, por ter sido preterido na sucessão de 2014. 

E assim chegamos a 2018, quando o jogo parecia virar em favor de Zezinho Albuquerque. 

Rompidos 

A nova crise na família ainda não tem contornos claros. O rompimento entre os irmãos veio à tona quando o deputado federal apareceu ao lado do vice-prefeito, Luiz Carlos, criticando a gestão da irmã por ter supostamente suspendido a cessão de um carro usado pelo vice-prefeito para levar populares para atendimento médico em outras cidades. AJ foi, então, à cidade, dar um carro de presente ao vice-prefeito. 

"Não sei por que uma gestão (decide) negar um carro, tirar um carro que você usava uma vez na semana ou duas para ir a Fortaleza levar pessoas doentes. (...) Muitos massapeenses conhecem seu trabalho, que você sempre dá assistência a essas pessoas", diz AJ, em um vídeo ao lado do vice-prefeito, quando o caso se tornou público. 

Aline e AJ durante a campanha eleitoral de 2022
Legenda: Aline e AJ durante a campanha eleitoral de 2022
Foto: Reprodução/Instagram Aline Albuquerque

Na mesma semana, em entrevista à Rádio Coqueiros FM, AJ reforçou a crise e deu a entender que o germe dela já existia em 2020. "Não é questão de rompimento. (...) Quando foi para escolher o nome do nosso candidato a prefeito na última eleição de Massapê, que muitos pensavam que eu gostaria de colocar o nome da minha mulher para prefeita, a Marcela (Albuquerque), não tinha nada. Nunca me sentei com meu pai, Zezinho Albuquerque, para colocar o nome da Marcela".  

Ele deixou claro que a irmã não era um nome na lista dele, já o vice-prefeito, sim. Disse ainda que não acompanha a atual gestão há anos. "Estou há três anos calado", disse. 

O deputado acusou o cunhado, esposo de Aline, de ser o pivô da crise. "Tem um companheiro da minha irmã (o esposo) que afastou dela todas as pessoas, a maioria das pessoas que fazem política comigo e o deputado Zezinho Albuquerque há décadas", disse, citando no bolo o vice-prefeito, que estaria supostamente sendo afastado de eventos da Prefeitura. 

AJ não quis se comprometer com definições eleitorais, mas chegou a dizer que o partido que preside, o PP, faz pesquisas eleitorais que apontam um bom desempenho do vice-prefeito. A atual prefeita é ainda filiada ao PP. 

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Procurada via Whatsapp, Aline Albuquerque disse que preferia não se manifestar sobre as acusações do irmão. Nas suas redes sociais, tem compartilhado mensagens de apoio de seus seguidores. Pontualmente, em meio à crise, chegou a dizer: "Bora cuidar que aqui não tem tempo para palhaçada, nem conversa besta". Se foi uma indireta sobre a crise, não temos como ter certeza, mas não é de todo longe do contexto.

O pai, Zezinho Albuquerque, também não tem se manifestado. Tanto ele como AJ foram procurados pelo Whatsapp, mas não responderam. 

Na última segunda-feira, Aline postou nas redes uma foto com o pai, no gabinete da Secretaria das Cidades. O registro, no entanto, não foi feito da mesma forma no perfil de Zezinho. 

Prefeita Aline Albuquerque com o pai, na Secretaria das Cidades
Legenda: Prefeita Aline Albuquerque com o pai, na Secretaria das Cidades
Foto: Reprodução/Instagram Aline Albuquerque

Eleições de 2024 

Como o cenário vai se consolidar para 2024 é ainda uma incógnita. Não se vislumbra, a preço de hoje, uma conciliação em prol da reeleição de Aline. De que lado ficará o pai, grande fiador da carreira dos filhos na política? 

Em paralelo, a oposição ganha força. Jacques Albuquerque, derrotado ao tentar se reeleger em 2020, vai apoiar Ozires Pontes (PSDB), secretário na gestão de José Sarto, em Fortaleza.  

A estratégia de união entre ex-adversários foi o que deu a vitória a Jacques Albuquerque em 2016, quando o pai de Ozires chegou a ser cotado como cabeça de chapa. Em entrevista ao "Podcast do Rubão", há algumas semanas, Ozires falou sobre a parceria entre os grupos. O trecho foi compartilhado pelo próprio Jacques, em chancela à declaração. 

"Aconteceu uma coisa que nunca imaginei na minha vida. O Jacques, irmão do Zezinho, que sempre foi nosso adversário lá - Jacques, inclusive, que tinha mais força que o Zezinho em Massapê, o adversário direto sempre foi o Jacques; Jacques e o meu pai se uniram em 2016, fiquei sem entender nada, não estava focado nisso. (...), mas nunca deixei de conversar. Eu disse: "Pai, que união foi essa, que a vida toda era uma briga ferrenha?'. Ele disse: 'Meu filho, o Jacques se desentendeu com Zezinho, obviamente com AJ, com todo mundo, e me procurou, e disse: Luiz, tô lhe procurando, se você quiser ser candidato a prefeito de Massapê, eu lhe apoio, porque a gente sempre duelou em Massapê, mas uma coisa eu sei, que você ama Massapê e, se você for prefeito, tenho certeza de que você vai fazer uma boa gestão", diz Ozires, na entrevista. 

Irá o grupo de Zezinho Albuquerque amargar nova derrota como a de AJ em 2016? A saber. No histórico político do Ceará, não tem saído solução boa das crises familiares com a política como palco. 

*Esse texto foi veiculado primeiramente na Antessala, a newsletter semanal, exclusiva dos assinantes do Diário do Nordeste. Seja assinante você também.

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