Prefeito bem avaliado é prefeito reeleito?

Pesquisa do Instituto Opnus mostra importância da avaliação da gestão para o sucesso eleitoral seja em caso de reeleição seja em indicação de sucessor

Legenda: Boa avaliação da gestão é quesito fundamental para manutenção de projeto político, aponta pesquisa
Foto: Agência Brasil

Se você experimentar perguntar a um prefeito ou prefeita se será candidato/candidata à reeleição ou se já tem em vista um nome para sucessão - no caso daqueles que estão encerrando o segundo mandato – a resposta mais provável é que “está cedo para falar disso”. O foco sempre recai na necessidade de cumprir com as promessas de governo, sem deixar que a disputa partidária “contamine” o dia a dia da gestão pública. Acredite, errados não estão, mas há detalhes interessantes nesse entorno que não necessariamente obriguem deixar de lado o projeto eleitoral. 

Vamos para a pergunta de abertura, então: prefeito bem avaliado é prefeito reeleito? 

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Para continuação de conversa, não estou aqui para trazer nenhuma verdade absoluta, por óbvio. No sucesso eleitoral, há mais influências do que a avaliação da gestão. A resposta para essa pergunta é: lideranças políticas que somam mais de 60% de aprovação têm altas chances de prolongar seu projeto político, seja se reelegendo seja indicando um sucessor. Para aqueles que somam mais de 80% da aprovação do eleitorado, o sucesso é (praticamente) garantido. 

Os dados são do Instituto Opnus de Pesquisa, que construiu a base a partir de suas próprias pesquisas de opinião pública nas eleições municipais de 2016 e 2020, quando o Instituto realizou pesquisas em 101 municípios cearenses. O resultado foi apresentado aos prefeitos e prefeitas do Ceará nesta semana, durante o Seminário de Gestores Públicos - Ceará 2023, pelo cientista político e diretor técnico do Opnus, Pedro Barbosa. 

O levantamento da Opnus tem um ponto de partida relevante: nas últimas três eleições, houve uma oscilação considerável nos índices de reeleição no Ceará. Em 2012, 61% dos candidatos à reeleição obtiveram sucesso, índice que caiu para 39% em 2016 e voltou a subir em 2020, quando chegou a 58%. 

Foi nesse cenário, que os profissionais do instituto se perguntaram: "e se diferenciássemos o desempenho de prefeitos bem avaliados e mal avaliados?". 

Agora a brincadeira fica boa. As pesquisas realizadas pelas Opnus junto a 101 municípios, nas eleições de 2016 e de 2020, mostraram que, entre prefeitos que somavam até 40% de boa avaliação (na dicotomia "aprova" ou "desaprova"), até três meses antes do pleito, apenas 6% conseguiram se reeleger ou eleger um sucessor, cerca de 1 a cada 20. 

Quando a aprovação oscila entre 40% e 59%, o sucesso eleitoral vira uma loteria: o índice de reeleição fica em 49%. É um esquema que pode dar certo ou dar errado na mesma proporção. Já quando o gestor ou gestora varia entre 60% e 79% de aprovação, o índice de sucesso sobe para 78%. E chega a 100% no caso de políticos com mais de 80% de aprovação. 

Onde estão os prefeitos cearenses? 

Acompanhar, ao longo de um mandato, a avaliação da gestão, ainda não é uma cultura estabelecida na maioria das cidades. “O que ainda é o normal são os prefeitos se preocuparem com pesquisa apenas em época de eleição, é a intenção de voto, mas aos poucos vai se construindo essa mudança”, pontua Pedro Barbosa.  

O cruzamento de dados internos da Opnus aponta que a maioria dos prefeitos e prefeitas no Ceará não chega a 60% de aprovação. Menos de 30% dos gestores têm níveis de aprovação acima de 60%. Quando falamos em mais de 80% de aprovação, o patamar é ocupado por apenas 8% dos gestores. 

Pesquisa Opnus
Legenda: Levantamento foi realizado pelo Instituto Opnus

Ainda que o Instituto não aponte casos específicos, dada a confidencialidade das pesquisas, há aqueles que são de conhecimento público e podem ser relembrados para ilustrar os números. 

Camilo Santana e Argemiro Sampaio 

Pesquisa Ibope em julho de 2020 mostrou o então governador Camilo Santana (PT), a menos de um ano de se desincompatibilizar do cargo, atingindo índice de 85% de aprovação da gestão no Estado. Dois anos antes, ele havia batido o recorde de votação proporcional para um governador, em 2018, sendo reeleito com 79,9% dos votos. 

O cenário seguiu tão favorável a Camilo que, em 2018, a oposição não conseguiu viabilizar candidatura forte contra o petista, o que se repetiu no pleito de 2022, quanto ele disputou vaga ao Senado, sendo eleito com 69,76% dos votos, outro recorde no Estado.  

Ele foi ainda o principal cabo eleitoral da eleição de Elmano de Freitas (PT) para o Governo do Estado, sem falar na disputa de candidatos ao Legislativo pelo apoio de Camilo, para além de correligionários.  

Outro exemplo público que coincide com os resultados da Opnus é o da tentativa de reeleição de Argemiro Sampaio (PSDB) contra Dr. Guilherme (PDT), em Barbalha. 

Pesquisa Ibope de novembro de 2020, mostrava Argemiro com 54% de aprovação. Índice que, pelos estudos da Opnus deixam o gestor em um cenário de risco eleitoral. Nas vésperas do pleito, a mesma pesquisa indicava 46% de chance de vitória para ambos os candidatos. No fim, Dr. Guilherme venceu com 53,87% contra 46,13% de Argemiro. 

Há fatores que fogem à boa avaliação da gestão. No caso de Barbalha, vale pontuar, ainda que Argemiro fosse um gestor com razoável aprovação, outros fatores se somaram à disputa, entre eles a forte influência de Camilo Santana, por exemplo, como cabo eleitoral do adversário. 

Outras considerações relevantes 

É importante ressaltar que a avaliação de uma gestão está baseada tanto em pontos objetivos, como metas, projetos e obras executadas e boa gestão financeira; como em pontos subjetivos, relacionados a opiniões, satisfação de expectativas, prioridades e experiências próprias.  

A percepção de uma pessoa sobre uma gestão pública é enviesada por fatores sociais, cognitivos, emocionais, culturais, dentre outros. E não é fácil mudar uma crença/opinião alimentada há muito tempo. É um trabalho que exige esforço e tempo. 

Pedro ressalta que há um avanço de prefeitos com técnicas de gestão mais modernas, mais atentos a uma gestão baseada em dados, pontos que são importantes. 

“Tem que haver uma comunicação um diálogo com as pessoas sobre como elas percebem sua realidade. A lógica do técnico que entrega um relatório com dados e vai embora está caindo por terra. É necessário um diálogo sobre como as demandas como são percebidas, por mais bem alinhada que seja uma política. Os gestores estão percebendo que precisam avaliar o que pensam da realidade, os seus problemas”, afirma Pedro. 

Então, quando um prefeito ou uma prefeita disserem que estão focados nos resultados da gestão e não vão tratar de interesses eleitorais no momento, é de se esperar que eles estão atuando nessa estratégia por outro viés: o de garantir a aprovação do eleitorado. Pode não ser tudo para o sucesso eleitoral, mas já é um bom parâmetro antes de apostar as fichas em nova disputa. 

*Esse texto foi veiculado primeiramente para os assinantes do Diário do Nordeste, na newsletter Antessala, enviada aos sábados. Seja assinante.

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