O que mudou no PT que recebeu Lula no Ceará pós-eleições de 2022

Partido prepara terreno em diferentes instâncias para avançar em nova estratégia no Estado

Legenda: Primeira-dama do Ceará, Lia Freitas, governador Elmano, primeira-dama do País, Janja da Silva, presidente Lula, ministro Camilo Santana e secretária de Proteção Social e ex-primeira-dama, Onélia Leite Santana
Foto: Ricardo Stuckert/PR

O presidente Lula (PT) foi direto sobre o momento do PT no Ceará durante discurso no Centro de Eventos na sexta-feira (12): "O Elmano vai ser a primeira experiência do PT no Ceará a governador com um presidente do PT". Esse não é, no entanto, o único ponto de destaque da atual conjuntura petista no Estado.

Desde que o PT se fortaleceu nacionalmente, com o primeiro governo de Lula em 2003, essa é a primeira vez em que nomes do Ceará alcançam liderança em diferentes instâncias do poder e prometem acirrar a queda de braço pela hegemonia política no Estado.

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Nesse ambiente, convivem lideranças tradicionais, como o líder do Governo na Câmara, José Guimarães, e a deputada federal e ex-prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins, e forças que surgiram na última década no cenário estadual, como o ex-governador e atual ministro da Educação, Camilo Santana, e o governador Elmano de Freitas. 

Há ainda um entorno simbólico de alianças, movimentado pelo racha entre PT e PDT em 2022 e que se prepara para nova conformação de forças nas eleições de 2024.

Nesse embalo, há pelo menos cinco pontos relevantes que podem ser observados nesses primeiros meses de 2023, pós-reorganização de forças no ano passado:

1) Liderança de Camilo Santana

O ex-governador e agora ministro da Educação consolidou seu papel de liderança política no Ceará em 2022. 

Fiador da candidatura vitoriosa de Elmano de Freitas, Camilo mobilizou apoio de prefeitos e deputados pró-Izolda Cela durante a disputa interna contra Roberto Cláudio no PDT, teve eleição recorde para o Senado e, além da indicação para cargo de destaque no Governo Lula, emplacou a petista Augusta Brito (PT) como suplente no Senado e levou a ex-governadora Izolda Cela para ser seu braço direito no MEC.

Em Fortaleza nesta sexta-feira, Lula começou o discurso ressaltando protagonismo de Camilo para assumir o Ministério da Educação.

Lula, Elmano, Camilo e a vice-governadora, Jade Romero, em visita à escola em Fortaleza
Legenda: Lula, Elmano, Camilo e a vice-governadora, Jade Romero, em visita à escola em Fortaleza
Foto: Fabiane de Paula

"O Ceará sempre foi qualificado como o estado de melhor qualidade de educação. Então, na hora de escolher o ministro da Educação, eu não tive dúvidas de escolher o Camilo", disse Lula.

Izolda Cela não ficou de fora. "Mas aí era preciso que o Camilo tivesse a pessoa que ajudou a fazer essa educação, que era a Izolda. Eu falei: 'então, eu vou trazer o Camilo e a Izolda para fazer uma revolução educacional nesse país. Para que, em alguns anos, esse país não deva nada a ninguém na qualidade da educação do nosso povo".

Não à toa, além da agenda em Fortaleza, Lula levou a comitiva ao Crato, terra natal de Camilo Santana, para assinar projeto que deve retomar obras paralisadas no País.

Elmano, Lula e Camilo no Crato
Legenda: Elmano, Lula e Camilo no Crato
Foto: Kid Jr

Com relação direta com prefeitos, a retomada de obras fortalece a liderança de Camilo e prepara terreno de articulação política para as próximas eleições.

"Estou até emocionado por retornar ao meu Estado, à minha terra natal, receber esse calor humano de vocês e poder servir a esse grande presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao povo brasileiro", disse Camilo que, no evento, foi chamado de "o maior governador do Ceará", por Elmano.

2) Aproximação de pedetistas

Na visita de Lula, chamou atenção a presença do presidente da Assembleia Legislativa, Evandro Leitão (PDT), na recepção a Lula no aeroporto. O momento contou com a presença de lideranças mais próximas do petista, como Camilo, Elmano, Guimarães e a vice-governadora, Jade Romero. 

Evandro também teve posição de destaque no evento na Capital, sentado na primeira fileira e a poucas cadeiras do presidente. Ele ainda acompanhou a comitiva para o Cariri.

Evandro Leitão na ponta direita, ao lado do ministro da Casa Civil, Rui Costa
Legenda: Evandro Leitão na ponta direita, ao lado do ministro da Casa Civil, Rui Costa
Foto: Thiago Gadelha

O destaque acontece dias após um movimento de petistas em tentar levar Evandro para o PT, com possibilidade de ser candidato pelo partido à Prefeitura de Fortaleza, em 2024. 

O racha entre PT e PDT em 2022 cobrou que as lideranças assumissem partido na queda de braço. O que se viu, no entanto, foram prefeitos deixando o PDT, deputados pedetistas indo às ruas pedir voto sem referência aos candidatos do partido, e lideranças de destaque da sigla comemorando a vitória petista no palanque de Elmano.

Nestes primeiros meses, o PDT segue rachado: parte apoia Elmano, parte tem feito oposição, liderada pelo ex-prefeito de Fortaleza. 

3) Um adversário em comum

É nesse momento que surge outro ponto de atenção para o novo momento do PT. De 2012, na disputa pela sucessão de Luizianne Lins, até 2022, o PT viveu o próprio racha. O PT Fortaleza era oposição ao então prefeito Roberto Cláudio (PDT), sucedido por José Sarto (PDT); enquanto o Governo do Estado, com Camilo Santana, foi aliado de primeira ordem dos pedetistas.

O cenário pós-2022, no entanto, mudou. Agora, Roberto Cláudio é adversário de lideranças tanto do PT Fortaleza como do PT Ceará, e isso vai da tradicional adversária Luizianne Lins ao ex-parceiro de gestão Camilo Santana.

4) Reaproximação com Cid Gomes

É nessa toada de redefinição de relações que um dos protagonistas do racha com o PT, em 2012, está de volta às boas relações com o partido. 

Após ficar recluso na briga de 2022, o senador passou a fazer críticas públicas sobre o racha e dizer que defendia a manutenção da aliança.

Agora, o próprio Cid tem sinalizado uma "aliança comum" para 2024.

"O PT procurou o PDT e a gente tem se reunido, junto mais o PSB e a Rede, como protagonistas de um esforço visando uma aliança comum, para as eleições municipais. Pelo que se diz, o PT muito no sentimento de que agora tem que dar mais oportunidade. Na eleição passada, por exemplo, era estratégia de lançar o máximo de candidatos a prefeito, mas agora, que tem o poder nacional e que precisa de aliança para governar, a estratégia será de mais apoiar do que ser apoiado nas eleições municipais", disse o senador em entrevista à Rádio Assembleia no início desta semana.

5) Eleições de 2024

O grande momento para a consolidação de forças do PT será as eleições municipais do próximo ano. Desde o ano passado, o partido tem feito ofensiva para atrair prefeitos, o que deve ser facilitado pelo controle das máquinas públicas federal e estadual.

Um dos principais articuladores dessa busca por prefeitos é o deputado José Guimarães, líder de Lula na Câmara, e tradicional liderança no Ceará. 

Líder do Governo, José Guimarães, com Lula, no Centro de Eventos
Legenda: Líder do Governo, José Guimarães, com Lula, no Centro de Eventos
Foto: Thiago Gadelha

Na Assembleia Legislativa, o partido aumentou a bancada de parlamentares, com 8 deputados, o que também reforça a capilaridade nas relações municipais.

Nesse cenário, a articulação que definirá a disputa pela Prefeitura de Fortaleza promete ser a "cereja do bolo". É o momento em que o partido poderá mostrar a habilidade de cálculo político que, nos últimos anos, foi bem executada pelo grupo liderado pelo ex-governador Cid Gomes e que, não à toa, foi hegemônico em seguidas disputas.

Vencer a disputa pela Prefeitura de Fortaleza e, quem sabe, derrotar o PDT em número de prefeitos é o que pode consolidar uma hegemonia petista no Ceará como fruto dessa "primeira experiência do PT" em ter um governador e um presidente da República em exercício. Preciso apenas destacar que não há, entre petistas, discurso de "hegemonia". Digamos que a frase do momento é: "cada vez ampliar mais a sua parceria".

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