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Eleições em Pacatuba: pré-candidaturas são marcadas por disputas familiares e impasse sobre alianças

PSB, União Brasil, PSD e PT já têm pré-candidatos à Prefeitura de Pacatuba

Escrito por Ingrid Campos , ingrid.campos@svm.com.br
Prefeitura de Pacatuba, uma fachada na cor de creme, com arquitetura antiga e preservada. Ao fundo, uma parte da Serra de Pacatuba.
Legenda: Fachada da sede do Poder Executivo Municipal, em Pacatuba.
Foto: Reprodução/Google Maps

O engodo jurídico que quase levou à prisão o ex-prefeito Carlomano Marques (MDB), no ano passado, segue repercutindo no quadro político de Pacatuba, cidade na Região Metropolitana de Fortaleza. Um novo momento iniciou com a sua renúncia ao cargo, há pouco mais de um mês, deixando o sobrinho, o vice-prefeito Rafael Marques (PSB), permanentemente no topo do Executivo. Com mais autonomia para tocar a gestão e o seu próprio grupo político, o prefeito se depara com conflitos entre antigos aliados e a presença do tio nas negociações. 

Aliás, em Pacatuba, as disputas ganham contornos familiares não só na pré-campanha à reeleição do atual gestor. As pré-candidaturas do empresário Ésio de Souza (PT), da secretária do Bem-Estar Animal de Maracanaú, Larissa Camurça (União), e de Renato Célio Rodrigues (PSD), filho do ex-prefeito Célio Rodrigues, apresentam nuances do tipo.

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Nos dois primeiros casos, a disputa se dá pelas bênçãos do prefeito de Maracanaú, Roberto Pessoa (União), líder político na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). No último, as rusgas entre Renato e a ex-madrasta Selma Cardoso, que chegou a ser presidente da Câmara de Pacatuba, revelam-se permanentes. 

Campanha de reeleição 

A crise que se instaurou no atual mandato atingiu não só Carlomano, mas metade do seu secretariado, presos em operação do Ministério Público. Com o avanço das investigações, ele renunciou ao cargo. Pouco antes, Rafael Marques encerrou um período de limbo partidário, após sua saída do MDB, e filiou-se ao PSB, hoje liderado por Eudoro Santana, pai do ministro da Educação, Camilo Santana (PT), e reforçado com o grupo do senador Cid Gomes (PSB). 

Com esses dois episódios, o MDB, sigla liderada pelo deputado federal Eunício Oliveira perdeu protagonismo em Pacatuba.

A migração de Rafael teve influência de um grande aliado, o assessor especial do Governo do Estado Leonardo Araújo (PSB). Em 2023, os atritos com Eunício se intensificaram e levaram à saída de Araújo do partido. Com ele, foram-se ao menos seis prefeitos e suas bases – todos, hoje, no PSB.

Essa dinâmica é bem nítida em Pacatuba. Enquanto Carlomano buscaria, ao lado de Eunício, manter certo poder nas composições políticas, Leonardo Araújo explicita o seu veto a qualquer aliança que envolva o deputado. Apesar disso, mantém respeito pelo ex-prefeito. 

“O Carlomano entendeu que o tempo político dele encerrou e, dessa forma, compreendeu que o Rafael tem um voo solo através de sua juventude e compromisso. Carlomano está afastado completamente, dedicando-se à família e aos netos. Cumpriu uma missão ao longo de 36 anos de vida pública”, diz o assessor especial do Governo.

Mas, segundo Eunício, a conversa com Carlomano pelo retorno do MDB à base do prefeito é real e envolve não só 2024, mas também 2026. 

“Para federal, eles (grupo político de Rafael) têm um compromisso (de apoio) com o Júnior Mano. [...] De imediato, (o compromisso com o MDB) seria indicar a vice e ficar com o (apoio a) deputado estadual do MDB, e ele (Rafael) ficar com o prefeito e o deputado federal. Está bem encaminhado, mas não está definido”, diz Eunício.

Encontro do prefeito Rafael Marques com sua base em Pacatuba, na presença do deputado federal Júnior Mano (PL).
Legenda: Encontro do prefeito Rafael Marques com sua base em Pacatuba, na presença do deputado federal Júnior Mano (PL).
Foto: Reprodução/Instagram

O diálogo com emedebistas, de fato, não é descartado por Rafael Marques. “Há possibilidade de o MDB compor a coligação. Quanto ao Carlomano, há um enorme respeito e gratidão a ele pelo papel político que exerceu ao longo de toda sua trajetória pública”, comenta o prefeito.

Ainda na busca de partidos aliados, o gestor acrescenta que já fechou coligação com PP e Republicanos. Segundo Leonardo Araújo, o PRTB, que recentemente passou a ser comandado pelo seu pai, Francimar de Souza, vai se unir à campanha. 

Rafael também receberá o apoio “incondicional” de Junior Mano (PL), conforme informou o próprio deputado federal ao Diário do Nordeste. Este, conduto, preferiu não adiantar tratativas sobre composição de chapa. O prefeito adota a mesma cautela. 

“Por sabermos a importância do vice, especialmente na articulação política, confiança que precisa ser estabelecida e por ser uma figura que faz diferença na gestão, o nome ainda vem sendo estudado de acordo com o cenário político atual”, informa Rafael Marques.

Disputa pelo apoio governista

Outro aliado na pré-candidatura à reeleição é o próprio Palácio da Abolição, diz o prefeito. Essa é outra questão conflituosa em Pacatuba, tendo em vista que o PT do governador Elmano de Freitas tem um nome próprio na disputa municipal: Ésio de Souza (PT).

Leonardo Araújo acredita que o assunto já está fechado por "compromisso firmado ainda em 2022, quando o Carlomano foi o primeiro prefeito da Região Metropolitana a entrar de 'cabeça' na campanha de Elmano", além do fato de Ésio ter feito campanha para a oposição naquele ano. Nas últimas eleições gerais, o atual pré-candidato petista apoiou, junto ao grupo de Roberto Pessoa, a empreitada de Capitão Wagner (União) ao Governo do Estado que, posteriormente, passou a compor a gestão de Maracanaú.

O Diário do Nordeste também procurou o ex-prefeito Carlomano Marques por intermédio de terceiros para entender como estão as discussões, mas não obteve retorno.

Em outra frente…

A disputa em Pacatuba coloca em dois lados diferentes membros de outra família tradicional da política da região. É que Roberto Pessoa, prefeito de Maracanaú, já afirmou em algumas ocasiões que vai apoiar qualquer nome indicado pelo ex-parceiro de gestão e hoje deputado estadual, Firmo Camurça (União). Questionado novamente pelo Diário do Nordeste a respeito disso, por meio da assessoria de imprensa, ele reiterou a posição.

Em janeiro, o parlamentar lançou a esposa e secretária da gestão de Pessoa, Larissa Camurça, como pré-candidata no município. A questão é conflituosa porque a deputada federal Fernanda Pessoa (União), filha de Roberto, apoia a empreitada do marido, Ésio de Souza, à peleja eleitoral.

Esio e Selma
Legenda: Ésio de Souza e Selma Cardoso.
Foto: Reprodução/Instagram

Em contrapartida, o empresário apela para a cúpula do União Brasil, que tem Fernanda como membro da Executiva Nacional, após mudança recente. Ele também conta com o apoio das outras legendas da federação partidária, o PV e o PCdoB, e do Solidariedade. Segundo Eunício Oliveira, também há diálogo entre o PT e o MDB, mas nada fechado ainda.

Ésio também dá garantia do apoio do Governo Federal, encabeçado por Lula (PT), para a sua campanha, mas pondera que a aliança com o Governo Estadual “está em construção”. O postulante a vice-prefeito na sua chapa será o vereador Bim Araújo (PT), segundo ele. 

Além disso, lideranças locais devem reforçar a sua campanha, como afirmou ao Diário do Nordeste por meio de nota. É o caso de Dona Selma, ex-primeira-dama e ex-presidente da Câmara Municipal de Pacatuba. Ela foi casada com o ex-prefeito Célio Rodrigues, pai de Renato Célio. 

“Seu apoio não apenas reflete a confiança em nosso projeto, mas também reafirma nosso compromisso com a continuidade do legado de dedicação e trabalho sério para a população de Pacatuba. Lideranças como Dona Selma são essenciais para a construção de uma administração inclusiva e participativa”, diz Ésio.

Quanto a Roberto Pessoa, o pré-candidato petista se mostra ainda aberto ao diálogo e “à construção de pontes” na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). “Isso inclui a busca por apoio ou simpatia dos gestores municipais, incluindo o prefeito de Maracanaú. Estamos focados em desenvolver e implementar políticas que atendam às necessidades dos cidadãos de Pacatuba, contando com o apoio de lideranças que compartilhem dessa visão”, completa.

Do outro lado, Larissa Camurça já definiu quem ocupará a vaga de vice em sua chapa: o Podemos. Um nome forte é o do ex-prefeito Alexandre Alencar, mas nada fechado ainda. Segundo ela, que é secretária de Bem-Estar Animal de Maracanaú, a coligação majoritária também conta com o Mobiliza e há diálogo com a Rede, o PSD e o PDT.

Firmo Pacatuba
Legenda: Em ordem: Firmo Camurça, Larissa Camurça e Alexandre Alencar.
Foto: Reprodução/Redes sociais

Quanto ao imbróglio relacionado a Roberto Pessoa, ela reitera a preferência do gestor pela sua pré-candidatura, mas afirma acreditar "em alianças com aqueles que desejam o mesmo" que o seu grupo político, "ou seja, a mudança para desenvolver todo o potencial de Pacatuba".

"O prefeito Roberto Pessoa já declarou apoio à nossa pré-candidatura, o que foi uma honra. [...] O União Brasil está na base de apoio a nível nacional do PT, e meu marido, Firmo Camurça, tem amplos canais de conversa com o Governo Elmano e o PT estadual. Aliás, o PT municipal em Maracanaú fez parte da gestão do Firmo quando ele foi prefeito. Estamos abertos para dialogar com partidos que tenham o mesmo propósito que nós em Pacatuba", acrescenta.

Herança política pacatubana

As eleições de 2024 podem reproduzir um cenário semelhante ao de 2016 na cidade. Já viúva de Célio Rodrigues, Dona Selma não concorreu à reeleição na Câmara e abraçou a campanha de Carlomano, considerado um “forasteiro” em Pacatuba, à época. Isso, porque ele era natural de Iguatu e, antes, foi vereador de Fortaleza e deputado estadual por sete mandatos.

O ex-enteado de Selma, Renato Célio, caminhou do outro lado, candidatando-se também à Prefeitura. Contudo, por problemas na Justiça Eleitoral, ele foi substituído na chapa pelo filho Thiago Rodrigues, na reta final de campanha. Os esforços não levaram à vitória: foi Carlomano quem venceu nas urnas, tornando a ex-primeira-dama secretária de gestão.

A relação não durou muito e os dois romperam antes das eleições de 2020. Foi, então, que o emedebista, Renato Célio e Selma disputaram diretamente a preferência do eleitorado, aprofundando as antigas rusgas familiares e, novamente, tornando Carlomano prefeito.

Renato
Legenda: Renato (à frente) é filho do ex-prefeito Célio Rodrigues, retratado no segundo quadro (esquerda à direita).
Foto: Reprodução/Facebook

No último pleito, ela concorreu pelo PSD e o ex-enteado concorreu pelo PDT. Mas as acomodações não foram mantidas: ela até chegou a ensaiar uma chapa com Junior Novais no ano passado, mas não levou a empreitada adiante. Ao invés disso, decidiu apoiar a pré-candidatura de Ésio de Souza.

Já Renato migrou para o partido da rival a fim de “viabilizar uma candidatura da terra” com alianças locais. Ao Diário do Nordeste, ele se colocou como opção e também citou o filho Thiago para capitanear a chapa. Apesar de entender que o lançamento de um nome do PSD para a disputa seja prioridade, não descartou uma aliança com o PT.

“Ésio e Fernanda Pessoa são amigos muito queridos, não descarto a possibilidade de aliança, no entanto, neste momento, a nossa prioridade é lançar candidatura própria. Afinal de contas, nossa família se mantém ativa politicamente há cerca de 30 anos em Pacatuba. Não poderíamos ficar de fora deste embate eleitoral, face a atual conjuntura política de Pacatuba que se mostra numa total indefinição, sem rumo mesmo”, afirma.

Sobre a ex-primeira-dama, com quem caminharia junto, caso a relação com o PT se consolidasse, ele disse o seguinte: “Na realidade, Dona Selma já transitou no grupo do deputado Firmo Camurça e, há pouco, mudou para o grupo do Ésio de Souza quando eu resolvi encampar candidatura própria, coincidência ou não”.

As tratativas eleitorais devem seguir até o início de agosto, prazo final para as convenções partidárias homologarem candidaturas. Dona Selma foi procurada pela reportagem, mas não houve resposta. O espaço está aberto para manifestações. 

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