Supermercados premium são tendência na área nobre de Fortaleza; entenda o modelo

Com mix mais voltado para produtos perecíveis e serviços dentro da loja, bandeiras investem em público consumidor de maior poder aquisitivo

(Atualizado às 16:15)
Supermercados premium em Fortaleza
Legenda: Supermercados premium em Fortaleza são tendência sobretudo na área nobre
Foto: Fabiane de Paula

Nos últimos anos, Fortaleza, assim como demais grandes metrópoles brasileiras, não esteve imune às transformações no varejo alimentício. A tendência atual, além do crescimento exponencial dos atacarejos, é dos supermercados premium para públicos cada vez mais nichados.

As novidades são mais acentuadas em locais cujo público tem alto poder aquisitivo, sobretudo das classes A e B. Em Fortaleza e Região Metropolitana (RMF), a expansão ocorre nas áreas nobres, incluindo bairros da Capital como Aldeota e Meireles, e cidades do entorno como Eusébio e Aquiraz, principalmente no Porto das Dunas.

Essas mudanças refletem a jornada mensal de compra do consumidor, já estabelecida por especialistas em varejo. A prioridade, no início do mês, são para as grandes compras. Logo depois, abastecimento de reposição de itens perecíveis, como carnes e frutas. Por fim, a conveniência de demais itens acessórios, que surgem em dias eventuais ao longo das semanas.

Isso traz, em primeiro plano, os atacarejos, para a chamada "compra grossa". Itens como mercearia seca e limpeza são prioridades. Na sequência, carnes e demais perecíveis, como frutas, verduras, legumes e frios. Por fim, itens de especialidade, como vinhos e queijos finos. Nesses dois últimos segmentos entram os supermercados de proximidade e os premium.

Especialista ouvido pelo Diário do Nordeste acentua os chamados supermercados premium e a mudança inclusive de empresas locais para se adaptarem ao formato. A tendência é de que eles continuem em expansão, mas em ritmo diferente dos atacarejos no varejo alimentício.

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Mudança na jornada de compra destaca crescimento

Christian Avesque, consultor de empresas e professor da Faculdade CDL Fortaleza, recorda que Fortaleza está inserida em um movimento nacional de revolução no varejo. A maior prova é evidenciada pelo declínio vertiginoso dos hipermercados, dando lugar principalmente aos atacarejos, que entraram com força nas grandes metrópoles.

O segmento de alto padrão, por sua vez, cresce em virtude de maior personalização do atendimento e das necessidades do consumidor. O especialista elenca que, para um supermercado ser considerado premium, é preciso que alguns passos sejam seguidos:

  1. Mix ou exclusivo, ou importado, ou de produtores locais que vendem produtos de alto valor agregado;
  2. Ponto de venda minuciosamente organizado, ambientado, decorado e limpo;
  3. Atendimento exclusivo e personalizado;
  4. Intensificação de food service, com refeições completas de café da manhã, almoço e jantar.

"O supermercado é premium quando tem, basicamente, marcas e produtos de especialidade e não de reposição. São produtos normalmente importados, de marcas consagradas internacionalmente, ou que a rede supermercadista fez um contrato de exclusividade, um produtor local que tem um produto de alto valor agregado. Ele é premium também quando traz novidades dentro das categorias que ele vende, pelo menos a cada três meses", frisa.

Self-service
Legenda: Serviços como self-service passam a ser ofertados em supermercados de proximidade como forma de atrair o público
Foto: Shutterstock

Um raio de atuação delimitado, não superior aos cinco quilômetros, é crucial para as atividades dos supermercados premium. 

Para ser premium, não pode ter um sortimento padrão para todas as áreas. Ele é montado especificamente para aquele entorno, pela cesta de compra de especialidade que essas famílias têm, fugindo muito da mercearia seca, limpeza, que essas categorias são compradas mais nos atacarejos. Especialidade ou premium vai estar muito mais ligada ao gosto, à experimentação e à novidade.
Christian Avesque
Consultor de empresas e professor da Faculdade CDL Fortaleza

"É em uma área onde tem pessoas de alto poder aquisitivo e nas que estão com o desenvolvimento de condomínios de alto padrão. (…) O raio de atuação das redes premium nunca é superior aos cinco quilômetros, pelo padrão de renda, pelo deslocamento das famílias que frequentam esse ponto de venda e, principalmente, porque eles têm um sortimento focado naquela área", classifica Avesque.

Novas bandeiras chegam com força em Fortaleza

Em um mercado dominado por anos por redes como Pão de Açúcar e Mercadinhos São Luiz, tradicionais concorrentes no segmento premium em Fortaleza, as mudanças no varejo alimentício da Capital proporcionaram que novas marcas despontassem no setor.

Para Avesque, isso inclui marcas relativamente conhecidas da área nobre de Fortaleza "que eram ou casas de carnes, padarias qualificadas ou então redes que só tinham uma bandeira que era mais de realmente abastecimento".

"Todos esses players perceberam, principalmente as padarias e as casas de carnes, que podem ser um supermercado premium, não com mix muito grande, mas com mix focado em itens diferenciados. Já as redes locais, criam o modelo de negócio mais de abastecimento e reposição para as áreas de nível de renda maior e qualificam a loja, o mix e o atendimento nessas áreas mais nobres. Vejo que a concorrência vai aumentar bastante, principalmente com lojas de até 800 metros quadrados (m²)", define.

Azeites supermercados
Legenda: Azeites de marcas variadas e de alto valor agregado são exemplos de mercadorias buscadas em supermercados premium
Foto: Fabiane de Paula

Representantes mais recentes do gênero, Do Povo Mini Market e Fazendinha seguem nessa lógica. Ambas satisfazem o conceito de 'conveniência ampliada': são lojas mais compactas do que supermercados de proximidade, com sortimento de produtos mais enxuto e forte apelo para produtos perecíveis, como carnes e laticínios, e atendimento self-service.

A primeira marca é uma derivada do Super do Povo, rede de supermercados presente principalmente em áreas de classe média e periféricas de Fortaleza e RMF. A segunda, por sua vez, se concentra em três lojas, sendo duas na Capital — em bairros nobres — e uma no Eusébio.

Perecíveis, peixaria, carnes, frios e embutidos são classificados como itens de especialidade. Na área nobre, nesses supermercados premium, a questão estética de apresentação do item é muito importante para que o consumidor aceite o preço. A parte de padaria, food service, carnes, peixe, é muito importante, contanto que esteja esteticamente trabalhado para não passar uma ideia de que é caro, mas sim que tem uma ideia de qualidade e boas práticas de operação de loja.
Christian Avesque
Consultor de empresas e professor da Faculdade CDL Fortaleza

Premium deve crescer, mas menos do que outras lojas

Para os próximos anos, a expectativa é de que atacarejos continuem dominando a primeira jornada de compra dos consumidores, ainda com espaços de expansão em Fortaleza, como explica Avesque. 

Redes como São Luiz (com o Mercadão), Grupo Mateus (com o Mix Mateus), Assaí e Grupo Carrefour (com o Atacadão) devem continuar em crescimento. Os supermercados premium também devem ganhar volume. O ritmo da expansão, contudo, é bastante inferior ao dos atacarejos.

"A gente tem esse crescimento que vem acontecendo no pós-pandemia, mas é um crescimento mais lento do que das redes de atacarejo, por uma razão muito simples, por uma questão de renda disponível na nossa capital, existe uma concentração de renda muito grande ainda, e nesses locais de alto padrão, o custo de implantação é muito alto. A gente deve ter ainda assim esse crescimento, mas ele não deve ser exponencial como a gente tem nas redes de atacarejo", projeta o especialista. 

O que dizem as redes de supermercados premium de Fortaleza?

A reportagem procurou quatro representantes do setor premium da Capital e da RMF para entender o conceito adotado nas lojas e como isso impacta na rotina do consumidor.

O Grupo Pão de Açúcar (GPA) defende que a bandeira de supermercado Pão de Açúcar é a marca premium da empresa tanto em Fortaleza quanto em demais regiões do Brasil. Em Fortaleza, a rede, que conta com 11 unidades, tem todas (com exceção do Mucuripe e São Gerardo) especialistas em vinhos.

A empresa defende que o foco principal das lojas é "atingir o público-alvo das classes A e B", além da fidelização dos clientes por meio da adesão aos programas da marca. Vale lembrar que a empresa vem passando por uma redução no número de unidades em Fortaleza.

Supermercado Pão de Açúcar Iguatemi
Legenda: Múltiplos produtos de especialidade são marcas do varejo alimentício premium
Foto: Fabiane de Paula

Já a rede Super do Povo aposta em "atendimento, proximidade e perecíveis de qualidade" para fidelizar os clientes nas duas lojas abertas desde 2023 da marca Do Povo Mini Market. 

"Essas categorias geram fidelização e naturalmente o retorno do cliente na recompra. (As classes A e B) são um público de grande oportunidade para aumento de visibilidade na promoção da marca como formadores de opinião", defende a empresa.

O Grupo São Luiz informou que não iria conseguir participar da reportagem, enquanto a Fazendinha não retornou o contato até a publicação deste material.

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