Preço da passagem aérea pode subir com dólar alto e baixa oferta de voos no Ceará? Entenda

Oferta de voos partindo do Ceará ainda é 40% menor que em 2019

(Atualizado às 18:22)
foto do aeroporto de Fortaleza
Legenda: Passagens de avião ficaram mais baratas em 2024, com queda acumulada de 25% até novembro
Foto: Thiago Gadelha

Por muitas vezes considerado o vilão da inflação após o fim de pandemia, o preço das passagens de avião pode voltar a preocupar ao longo de 2025. A alta no preço do dólar e a continuidade de uma baixa da oferta de voos criam um cenário de aumento nas tarifas, segundo especialistas.

As passagens de avião acumularam, de janeiro a novembro de 2024, queda de 25%, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerada inflação oficial do Brasil. 

O cenário, porém, está longe de retornar ao de antes da pandemia de Covid-19: a tarifa média de voos partindo do Ceará ainda é mais cara.

Uma passagem aérea partindo do Ceará custa em média cerca de R$ 857,20, considerando os dados mais atualizados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), de novembro de 2024. Em novembro de 2019, os passageiros pagavam cerca de R$ 474,59 de tarifa média por trecho com origem no Estado - cerca de 80% a menos

Considerando o ano de 2024, a média de preço dos trechos foi de R$ 798,61. Em 2019, a média tarifária registrada foi de R$ 536,36.

O indicador de preço pago por quilômetro voado (yield aéreo) é 48% maior que no pré-pandemia: passou de R$ 0,28 para R$ 0,42 por km.

ALTA DO DÓLAR

Entre as razões para alta, está a redução dos voos ofertados pelas companhias aéreas e o endividamento das companhias, que precisaram reduzir as operações por mais de dois anos. 

A retomada para o cenário anterior ao da paralisação não segue o ritmo adequado, avalia Alessandro Oliveira, pesquisador do Núcleo de Economia do Transporte Aéreo do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (Nectar-ITA).

E a disparada do dólar representa um novo balde de água fria para os passageiros. O especialista aponta que a alta da moeda norte-americana é refletida diretamente nos preços dos tickets aéreos, principalmente os internacionais.

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“O dólar é o direcionamento dos custos das companhias aéreas. Embora as empresas tenham equacionado os problemas de dívidas, que vem desde a pandemia, esse outro cenário de incerteza vai seguir com instabilidades”, comenta. 

Como a alta do dólar coincide com a alta temporada de turismo, não é possível esperar baixa nos preços das passagens aéreas, explica Marcus Quintella, diretor do FGV Transportes. 

“Com o aumento de demanda, não há tendência diminuir os preços, porque são muitos fatores combinados. O dólar impacta em 50% nos custos das passagens aéreas. Porque o combustível de aviação corresponde sozinho por 35% dos custos. E o QAV sofre influência dos preços do barril de petróleo”, afirma. 

Marcus Quintella avalia ainda que a situação pode se postergar. “Qualquer notícia que venha do centro econômico impacta o dólar, é muito sensível. Não existe medida imediata, a solução é o Brasil voltar a ter uma estabilidade econômica”, afirma. 

OFERTA REDUZIDA DE PASSAGENS

Os preços das passagens só deve diminuir com a ampliação dos voos ofertados pelas companhias aéreas, apontam os especialistas. No Ceará, a quantidade de assentos se reduziu praticamente à metade.

Em novembro de 2024, foram comercializados 103 mil assentos — 46% a menos que em novembro de 2019, quando foram vendidos 195 mil assentos. 

Apesar de ainda estar longe da antiga capacidade, a oferta de voos com origem no Ceará vem se recuperando: em novembro de 2023, foram apenas 96,4 mil assentos. 

A ampliação da frota depende de investimentos massivos das companhias, que ainda enfrentam dívidas herdadas do período de paralisação, explica Alessandro Oliveira. 

O especialista destaca que o cenário de incerteza econômica, com a disparada do dólar, pode desestimular que as empresas apliquem capital para ampliar as operações. 

“A boa notícia é o equacionamento cada vez maior das dívidas das companhias aéreas. Teve o acordo de codeshore da Gol com a Azul [compartilhamento de voos domésticos]. Com a questão de negociação de dívidas, as empresas vão se solidificando”, aponta. 

Marcus Quintella explica que as companhias enfrentam escassez de aeronaves, já que as grandes fabricantes estão com forte demanda. Como consequência, passageiros pagam mais caro por voos em capacidade máxima.  

“A Boeing e a Airbus não regularizaram o fornecimento de aeronaves e a preferência vai para mercados maiores, como o asiático, europeu e o norte-americano. E o Brasil tem sofrido com isso, uma redução de oferta porque tem poucas aeronaves”, aponta. 

O diretor do FGV Transportes reitera que o processo de restruturação demanda bastante tempo e que as mudanças demoram a refletir nos preços finais dos consumidores. 

“O impacto nos preços não é imediato. Se o dólar cair hoje, o preço das passagens demora três ou quatro meses para sofrer esse impacto. Porque tem que ter uma estabilidade, as projeções têm que identificar que essa baixa vai perdurar. As vendas são antecipadas, então tudo é feito olhando para frente, em projeções”, afirma. 

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