Sem aprovação para instalação, primeiro data center da Casa dos Ventos no Pecém tem futuro incerto

Promessa é de entrega de centro de dados para daqui a dois anos

Escrito por
Luciano Rodrigues luciano.rodrigues@svm.com.br
Legenda: Movido por energias renováveis, como a eólica, o Data Center da Casa dos Ventos no Pecém consumirá quase 900 MW
Foto: Kid Júnior/Diário do Nordeste e Carlos Gibaja/Governo do Ceará

O primeiro data center da cearense Casa dos Ventos, a ser instalado no Complexo Industrial e Portuário do Pecém (Cipp), está cercado de "incertezas", como explicou Francisco Habib, diretor de engenharia e membro do conselho da empresa.

Durante entrevista após a participação na 5ª edição do InterSolar Summit Brasil, evento que discute a aplicação das energias renováveis no País, Habib trouxe detalhes do projeto. O data center da Casa dos Ventos está para ser instalado na área II da Zona de Processamento de Exportação (ZPE) do Cipp.

"É um projeto de duas fases. A primeira fase de 300 megawatts (MW) seguido por mais 600 (MW). É um investimento no qual o nosso cliente busca o todo. A gente já tem o parecer de acesso emitido e assinado para a primeira fase, mas o processo dos outros 600 MW está hoje parado. Junto com as plantas de amônia, os processos de conexão estavam no ONS e foram todos cancelados, voltaram para a fila e hoje estão praticamente em stand-by aguardando a resolução", expôs.

Isso obviamente coloca toda uma incerteza com relação ao negócio porque o que a gente busca é escala. Dia a dia estamos buscando as soluções, com o Governo do Ceará, com o Cipp também. Estamos trabalhando com o ONS, estamos buscando a solução para poder viabilizar, porque é um problema de janela de oportunidade. Se essa janela passa, não adianta a gente falar que resolve em 2032, porque ninguém está interessado hoje em resolver um problema em 2032.
Francisco Habib
Diretor de engenharia e membro do conselho da Casa dos Ventos

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A urgência pelo projeto está relacionada com a necessidade do investimento. Caso haja a demora para a resolução da instalação do centro de dados, Habib alerta: "Não interessa o cliente e é provavelmente o momento no qual o Brasil deixa a oportunidade passar para que esse data center aconteça em outro país".

Por demandar a utilização de muito mais energia do que o consumo tradicional da rede elétrica, além de outras questões legais, o data center da Casa dos Ventos precisa de uma autorização especial para ter acesso à rede elétrica. 

O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) aprovou a primeira fase do projeto, de 300 MW, mas barrou a segunda, de 600 MW. A reportagem procurou a entidade para entender os motivos que levaram à proibição da expansão do data center da Casa dos Ventos, mas não obteve retorno até o fechamento deste material.

ByteDance, dona do TikTok, pode ser uma das clientes de data center da Casa dos Ventos

Em negociação com empresas para se instalarem no centro de processamento de dados do Cipp, a Casa dos Ventos pode ter chegado a um acordo com a ByteDance. A companhia tem sede na China e é controladora, dentre outros empreendimentos, da rede social TikTok.

Conforme informações repassadas por fontes à agência de notícias Reuters, a ByteDance está buscando realizar um alto investimento em um data center em território brasileiro. Os detalhes da negociação dão conta de que o projeto é de centro de dados de 300 MW e que pode chegar a 900 MW.

A descrição da capacidade do equipamento repassada à agência de notícias está de acordo com as especificações do data center a ser construído no Pecém. A ideia é transformar o Brasil no hub de operações da ByteDance no Ocidente, e o Ceará seria o local escolhido.

O objetivo ainda é de que o Ministério de Minas e Energia (MME) possa ampliar a capacidade da rede da região para possibilitar que data centers sejam instalados sem maiores problemas de conexão elétrica.

Foto que contém dois prédios em cor acinzentada. À direita, o nome ByteDance em azul
Legenda: Data Center da Casa dos Ventos no Ceará pode contar com dona do TikTok, a ByteDance, como cliente
Foto: Tatiana Fortes/Governo do Ceará e Shutterstock

A reportagem não conseguiu entrar em contato com a ByteDance para confirmar o interesse em concentrar suas operações no futuro data center do Pecém. Até o fechamento deste material, o MME não respondeu aos questionamentos solicitados.

Já a Casa dos Ventos informou não comentar especificamente sobre a negociação envolvendo a ByteDance, mas disse estar "empenhada em transformar o Porto do Pecém em um complexo de inovação em tecnologia e transição energética".

"Neste sentido, a empresa está desenvolvendo o maior projeto de data center e hidrogênio verde do País que utilizará energia renovável proveniente do seu portfólio de ativos. No desenvolvimento de ambos os projetos, a empresa tem analisado oportunidades de parceria com companhias que possam ser complementares na viabilização dos empreendimentos", declarou.

ZPE ainda precisa ser liberada para receber data center

Para efeitos econômicos, as ZPEs instaladas pelo Brasil até hoje são do setor de serviços. As informações do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) dão conta que 12 zonas foram criadas no País, mas somente quatro estão ativas: além do Pecém, Cáceres (MT), Parnaíba (PI) e Uberaba (MG).

Francisco Habib enfatiza que ainda é preciso haver certas liberações burocráticas "para que o modelo de data center aconteça em ZPE", o que atualmente não é permitido, uma vez que a legislação atual frisa que a zona é focada na exportação de produtos industriais.

Está sendo trabalhado a nível de conselho de ZPE, (e a autorização deve acontecer) a qualquer momento. Isso é urgente também porque essa aprovação é o que viabiliza, isso está andando. A questão da conexão é a mais crítica porque a continuação da negativa esfria provavelmente o investimento e a gente perde essa janela.
Francisco Habib
Diretor de engenharia e membro do conselho da Casa dos Ventos

Segundo o MDIC, os serviços que podem ser qualificáveis para estarem dentro da ZPE têm de ser definidos pelo Conselho Nacional das Zonas de Processamento de Exportação (CZPE) a partir da Nomenclatura Brasileira de Serviços (NBS).

ZPE
Legenda: Plantas de hidrogênio verde e data centers ficarão no setor 2 da ZPE
Foto: Divulgação

A pasta lembrou que uma consulta pública feita no fim de 2024 solicitou a inclusão dos serviços de data centers na área das ZPEs, e que a lista do NBS está "em processo de definição". Isso deve entrar na pauta da próxima reunião do CZPE para análise antes da aprovação, o que ainda não tem prazo para acontecer.

Apesar disso, o ministério relatou que os centros de processamentos de dados, a exemplo do equipamento da Casa dos Ventos, não estão proibidos de instalarem nas áreas delimitadas como ZPEs, e que uma eventual liberação será aplicada para todas as zonas de processamento de exportação existentes no País.

"Cabe esclarecer que não há vedação para instalação de data centers em ZPEs, mas tão somente a necessidade de que, previamente à utilização do regime, qualquer serviço destinado à exportação esteja previsto na lista de serviços qualificáveis fixada pelo CZPE", reforçou a pasta.

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