Algodão: Brasil é líder exportador, mas fibra sintética ameaça

Na safra 2024/2025, foram embarcadas 2,8 milhões de toneladas, gerando US$ 4,8 bilhões em receita.

Escrito por
Egídio Serpa egidio.serpa@svm.com.br
(Atualizado às 07:43)
Legenda: Foto aérea da colheita mecanizada de algodão produzido na Chapada do Apodi, no Leste do Ceará, pela fazenda Nova Agro
Foto: SDE / Divulgação
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No comércio exterior, 2025 consolidou o Brasil como líder global do algodão ao unir escala, competitividade e sustentabilidade, informa a Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa). O país é o terceiro maior produtor mundial e o primeiro exportador desde 2024, respondendo por 33% das exportações globais. Na safra 2024/2025, foram embarcadas 2,8 milhões de toneladas, gerando US$ 4,8 bilhões em receita. O Brasil ampliou sua participação em todos os principais mercados importadores, com destaque para Índia, Egito e Paquistão. Não é pouca coisa. 

Esse desempenho é impulsionado pelo projeto setorial Cotton Brazil, responsável por orientar a estratégia internacional do setor, como informa o diretor de relações internacionais da Abrapa, Marcelo Duarte, na opinião de quem o próximo ano será essencial para a manutenção do mercado conquistado. Ele explica: 

“Em 2026 e 2027, o Cotton Brazil terá como foco a defesa de mercado, o fortalecimento da imagem e a expansão do consumo frente às fibras sintéticas. Para isso, continuamos priorizando os dez maiores compradores do algodão brasileiro, responsáveis por 96% das importações mundiais, mas expandimos nossas ações voltadas ao varejista e ao consumidor final, que se concentram na Europa e Estados Unidos". 

Mas, por trás desse sucesso, há um programa de rastreabilidade que assegura a alta qualidade do algodão brasileiro. Lançado em 2021, esse programa, conhecido pela sigla SouABR, garante transparência em toda a cadeia de custódia do algodão brasileiro. Por meio de um QR Code aplicado às peças, o consumidor final tem acesso a informações completas sobre a origem e a trajetória do produto, da semente ao guarda-roupa. Em 2025, o programa avançou com o lançamento de sua política de adesão, possibilitando que qualquer marca que atenda aos requisitos estabelecidos ofereça rastreabilidade em suas peças, assegurando o acesso aos dados da cadeia produtiva e ampliando a transparência do setor. 

Antes de tudo, porém, há o compromisso da Abrapa com a qualidade do algodão produzido no Brasil. Neste ano, a Abrapa realizou seis workshops de qualidade em municípios de Goiás, Bahia e Mato Grosso, capacitando 1.440 profissionais envolvidos em toda a cadeia a produtiva. A entidade também realizou treinamentos nos estados produtores para inspetores de Unidade de Beneficiamento de Algodão (UBA) e de algodão em pluma, que atuam nos laboratórios de análise de todo o Brasil, uma prerrogativa do terceiro pilar do Standard Brasileiro HVI (SBHRVI), focado em capacitação e difusão de conhecimento. 

Em 2026, o Centro Brasileiro de Referência em Análise de Algodão (CBRA) completará dez anos de atuação voltada à padronização de laboratórios. Apenas em 2025, mais de 14 milhões de fardos foram analisados pelos laboratórios, gerando dados que passam a integrar as informações no Sistema Abrapa de Identificação, o programa mais antigo de rastreabilidade do algodão brasileiro. 

Há um problema a ser enfrentado e vencido, não apenas pelos produtores brasileiros, mas por toda a cadeia da cotonicultura mundial: a crescente participação das fibras sintéticas, que invadiram a indústria global de têxteis e de confecções. Hoje, de cada 10 peças de roupas fabricadas no mundo seis são feitas de poliéster. Isto tem consequências contra o meio ambiente, mas o lobby dos sintéticos tem sido, até aqui, muito mais poderoso do que o dos produtores mundiais de algodão. Não se vê, não se lê e nem se ouve protesto do Greenpeace ou de outras organizações contra o avanço das fibras sintéticas, que têm o petróleo como origem. 

Um tecido feito de fibras de algodão é, para a saúde humana, muito mais saudável, e por isto mesmo pode custar mais caro do que o seu concorrente sintético. Há uma ideia prosperando, no sentido de que as associações de produtores de algodão espalhadas pelo mundo s uniram para o desenvolvimento de uma campanha de divulgação das virtudes das fibras de algodão, mas, por enquanto, a ideia ainda não saiu do papel, o que é uma pena.  

O cearense Sérgio Benevides Filho, gerente de Compras da Têxtil União (CE) e da Companhia Valença Industrial (BA), e coordenador do comitê de algodão da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecções (Abit), informa que o Brasil quebrará um novo recorde de exportação no ano-safra que terminará em julho de 2026, aproximando-se de 3,2 milhões de toneladas enviadas ao exterior. Mas ele chama atenção para o que considera uma crise de consumo, pois desde 2016 a indústria brasileira só beneficia 700 mil toneladas/ano de pluma, acompanhando o declínio da fibra natural no cenário internacional e ascensão das fibras sintéticas. 

O que fazer? Ele revela que as associações mundiais de produtores de algodão estão dispostas a promover uma campanha global para o incremento do consumo de algodão. Na opinião de Sérgio Benevides, “este é o caminho".

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