Reajuste na conta de energia é o dobro da capacidade de ganho do trabalhador
Aneel aprovou reajuste médio de quase 25% nas contas de luz. Enel diz que mudança é quase 'nula'
O reajuste médio de quase 25% nas contas de energia deve impactar ainda mais o orçamento dos cearenses.
De acordo com o presidente do Conselho de Consumidores da Enel Ceará, Erildo Pontes, o aumento representa o dobro da capacidade de ganho de trabalho e não acompanha, proporcionalmente, a atual inflação.
"Ano passado teve um aumento de 8,95% e o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) estava por volta de 6%. Este ano, estamos com o IPCA em cerca de 11% e o reajuste está sendo mais de 20%, é praticamente o dobro da minha capacidade de ganho", explica.
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Para Pontes, o reajuste foi “absolutamente assustador” e aponta que, inicialmente, o aumento médio solicitado pela concessionária era de 30,4%, contudo, foi possível baixar esse percentual com negociações realizadas desde semana passada.
Fica a preocupação grande de como vai ficar essa companhia também, porque penso que deve crescer de maneira forte a inadimplência, o furto de energia. A empresa está tendo lucro com um serviço que não é bom, não é difícil encontrar alguém que tenha uma reclamação da empresa, tem uma avaliação muito ruim”.
Impacto para consumidores rurais
Apesar de os valores percentuais de aumento específicos ainda não terem sido divulgados, Pontes destaca que um dos mais afetados foram os consumidores rurais. Conforme antecipou à reportagem, o reajuste para essas unidades foi de 32,73%.
“Para a classe rural, nós estamos aqui absolutamente preocupados sobre como vamos conseguir absorver esse aumento tão significativo, que é um insumo básico, porque não se faz nada sem energia”, diz.
Além disso, a expectativa para essa classe consumidora é de que a tarifa fique ainda maior, já que, em 2023, será o fim do subsídio na tarifa de energia, conforme foi decretado pelo ex-presidente Michel Temer em 2018.
Enel diz que mudança é ‘quase nula’
O diretor de Regulação da Enel no Brasil, Luiz Gazulha, por sua vez, pondera que a mudança para o consumidor será “quase nula” com relação ao reajuste aprovado nessa terça (19), porque o Governo determinou o fim da taxa extra.
“Esse aumento vai ser praticamente anulado com a saída da bandeira de escassez hídrica, que foi criada pela pior crise hídrica. Em abril, a bandeira saiu e não será mais cobrada, agora entra o reajuste tarifário, a percepção que o nosso cliente vai ter no Ceará é de uma mudança quase nula”, afirma.
Com a função de arcar com os custos do acionamento das usinas termelétricas, a bandeira de escassez hídrica foi criada ano passado. O intuito seria, portanto, de minimizar os reajustes para os consumidores, o que, na prática, não aconteceu.
Conforme Gazulha, a bandeira foi criada com esse objetivo, mas a proposta técnica inicial era de custar R$ 42 e não R$ 24 como o que foi aprovado. “Naturalmente, essa diferença geraria um aumento de custo que deveria ser repassado nas tarifas, é isso que acontece, além dos encargos setoriais”.
Em relação ao nível de inadimplência e o furto de energia, essa é a situação socioeconômica que o País vem sofrendo, mas acreditamos na população do Ceará. Sabemos das dificuldades do povo brasileiro, mas é basicamente uma recuperação de outros custos já incorridos pela companhia”.
Aumento real de 5%
Em contrapartida, o economista e conselheiro do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE), Ricardo Coimbra, pontua que o aumento real será de, em média, 5%, uma vez que o valor esperado de redução com o fim da taxa extra era da ordem de 20%.
O consumidor, que já está pagando uma conta elevada na conta de energia, não vai conseguir enxergar uma queda na tarifa. Vai haver na verdade um aumento de 5%. Afeta ainda mais a capacidade do consumo. O cidadão já tem um comprometimento bastante elevado com essa conta e vai aumentar ainda mais, gerando uma perspectiva de endividamento e de retração de gastos”.
Além disso, o economista pontua que esse reajuste será um fator negativo para a inflação do estado, que já é acima da nacional e afirma que não é garantia que as bandeiras não sejam acionadas ainda este ano, o que deve impactar ainda mais.