Por que os custos com energia elétrica subiram mais de 24% em Fortaleza?

Com reajustes das bandeiras tarifárias e crise hídrica na região Sudeste, expectativa é de aumento de ainda 17% no Estado

Escrito por Lívia Carvalho , livia.carvalho@svm.combr
Legenda: Com baixo nível nos reservatórios das hidrelétricas do Sudeste, termelétricas são ativadas

Para além dos altos custos com alimentação, os consumidores precisam cada vez mais desprender valores maiores com gastos de despesas essenciais, como energia elétrica e taxa de água e esgoto. Com a pandemia, a situação piorou com o aumento do consumo, já que as pessoas passam mais tempo em casa.  

Em abril, por exemplo, com o reajuste tarifário anual, as contas de energia residenciais no Ceará tiveram aumento de 7,5%. Em média, a revisão do valor ficou em 8,95% para todo o Estado.

Os custos ficaram ainda maiores a partir deste mês com o aumento de 52% no valor da bandeira tarifária vermelha patamar 2. A taxa, que antes custava R$ 6,24, passou a R$ 9,49 por cada 100 quilowatts-hora consumidos.

Em mais uma publicação da série 'Por que subiu?', o Diário do Nordeste analisa os preços de produtos essenciais e se propõe a explicar os motivos das altas para o consumidor no atual cenário de inflação que tem corroído a renda dos trabalhadores.

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Já as faturas de água e esgoto sofreram reajuste de 12,25% neste ano. Com a alteração, a tarifa média dos serviços da Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece) passa de R$ 4,11 a R$ 4,61 por metro cúbico (m³). 

De acordo com dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o acumulado dos últimos 12 meses demonstra um crescimento de 24,04% dos custos com energia e de 12,24% com taxas de água e esgoto, na Região Metropolitana de Fortaleza. 

O presidente do Sindicato das Indústrias de Energia e de Serviços do Setor Elétrico do Estado no Ceará (Sindienergia/CE), Luís Carlos Queiroz, explica que a pandemia certamente causou um aumento dos gastos com essas despesas essenciais, especialmente a energia.  

“As pessoas ficaram mais em casa e tiveram esse comportamento, além disso tivemos um período de chuvas em que as pessoas são obrigadas a manter as portas fechadas e usar mais luzes. Também passamos a nos alimentar mais em casa, usar mais equipamentos como micro-ondas, o que também fez consumo subir”. 
Luís Carlos Queiroz
presidente do Sindienergia-CE

Crise hídrica no Sudeste 

No entanto, outros fatores influenciam a alta nos preços, conforme Queiroz. Um deles são os contratos das distribuidoras de energia elétrica que são associadas ao Índice Geral de Preços-Mercado (IGP-M) que chegou a 20%, mas com acordos entre a Enel Distribuição Elétrica e Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) o aumento de maio ficou em 8% para o Ceará.  

“Paralelo a isso, tivemos o incremento das bandeiras tarifárias por conta da seca no Sudeste. O que também é um reajuste, pois acrescenta tarifa sob o consumo. Significa que estão sendo ligadas as termelétricas que produz uma energia mais cara e poluente”.  

Desde março deste ano, os consumidores têm de arcar com custos adicionais da tarifa. Em março e abril, a Aneel acionou a bandeira amarela, já em maio a bandeira vermelha em patamar 1. Em junho, foi acionada a tarifa mais cara, bandeira vermelha em patamar 2 e, em julho, foi mantida.  

“É um momento muito difícil que toda a sociedade está sofrendo bastante com a pandemia, afetando também a empregabilidade, redução de salários e as pessoas ainda têm de conviver com aumentos de despesas que afetam muito o orçamento dessas famílias”, destaca Queiroz.  

Legenda: Juntas, as altas na energia e nos combustíveis são responsáveis por 50% da inflação brasileira em 2021
Foto: Natinho Rodrigues

Altas afetam indústrias 

As altas também afetam as indústrias, que acabam tendo que repassar o valor ao consumidor final. Segundo Luiz Trotta, vice-presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças Ceará (IBEF CE), outros custos também vão influenciar os preços que chegam ao comércio.  

"A gente tem sido pressionado pelos fornecedores, a matéria-prima tem subido, o frete internacional também, houve um aumento absurdo de vários insumos. Temos ainda dificuldade não apenas de negociar preços, mas também de conseguir produtos, como aço. Esse aumento de custo é repassado pro comércio, que repassa pro consumidor. Com isso, há uma pressão inflacionária muito grande”. 
Luiz Trotta
vice-presidente do IBEF

Trotta destaca, contudo, que esse cenário de escassez é global, o que acaba afetando também os produtos que o Brasil importa e eleva os custos.  

"Itens como água e outros itens são regulados, corrigidos basicamente pela inflação que também está alta. Isso acaba sendo repassado pro preço e aqueles comércios que já estavam numa situação difícil tão tendo que passar esse custo pro consumidor que tá ávido pelo consumo”, detalha.  

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Projeções de alta até o fim do ano 

Por isso, as projeções dos especialistas são de novas altas até o fim deste ano. A estimativa do presidente do Sindienergia-CE é de que o aumento deve chegar a 17% no Ceará com o reajuste das bandeiras tarifárias e das tarifas regulares.

No final de junho, a Aneel fez reajuste de 52% no valor da bandeira vermelha patamar 2 passando de R$ 6,24 para R$ 9,49 por cada 100 quilowatts-hora consumidos. O novo valor já vigora em julho e deve valer até novembro.  

Além da tarifa mais cara, as outras bandeiras também tiveram incremento no valor. A amarela passou a custar R$ 1,874 a cada 100 KWh e a vermelha patamar 1 R$ 3,971.  

Queiroz ainda ressalta a importância de uma legislação que promova segurança jurídica para incentivar investimentos em energias alternativas. “Tem vento e sol à vontade no nosso estado para a produção de energia solar e eólica. O mercado do mundo todo está caminhando pra essa energia limpa, precisamos seguir nesse caminho também”.  

Para Vicente Ferrer, conselheiro do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon), a aprovação das Reformas Tributária e Administrativa é necessária para contornar a situação. “A tramitação já chega no Congresso e isso está refletindo muito numa perspectiva de redução do valor do dólar”, afirma.  

"Não se esperava em uma pandemia como essa, em que a crise econômica assola. Estamos falando em aumentos numa situação atípica, se a economia tivesse crescido, o dólar já teria caído e não teríamos tido esse aumento todo”, diz o conselheiro.

 

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