Por que arroz e feijão ficaram até 67% mais caros? Entenda os motivos

Aumento da demanda e comprometimento das produções, entre outros fatores, reduziram a disponibilidade dos produtos, elevando os preços

Escrito por Carolina Mesquita ,
Legenda: Em um ano, arroz ficou 55% mais caro, enquanto preços do feijão subiram 67%.

Os dois componentes mais famosos da típica comida brasileira, o arroz e o feijão, estão pesando no bolso dos consumidores. Com a demanda crescente durante a pandemia, a produção desses itens não acompanhou e puxou os preços para cima, causando altas de 55,18% para o arroz e de 67,54% para o feijão de corda no último ano.

As variações são apontadas pela inflação oficial da Região Metropolitana de Fortaleza, medida pela Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e monitorada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Os valores do arroz e feijão já vinham aumentando desde o início do ano passado quando ambos deram um salto de 20,58% em setembro. Desde então, o ritmo de crescimento dos preços tem se mantido agressivo, com pequenas baixas para o arroz entre fevereiro e abril, mas não o suficiente para reduzir os danos no orçamento familiar.

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Dependência externa

O analista de mercado da Ceasa, Odálio Girão, explica que o Brasil não é autossuficiente na produção do arroz, o que obriga o País a importar o grão, que chega a corresponder a 40% do consumo nacional. Com a pandemia e a dificuldade de comprar o item no mercado internacional, concomitantemente ao aumento da demanda interna, gerou uma certa escassez que pressionou os preços.

Ele pontua que os estoques ficaram comprometidos em setembro, mês que coincide com o salto nos valores. Entre os países que fornecem arroz para o Brasil estão Paraguai, Uruguai, Peru, México, Tailândia e China.

Legenda: Preço do arroz e feijão sofre fortes altas durante a pandemia
Foto: Arquivo

Já a produção nacional se concentra no Rio Grande do Sul e uma parte menor em Goiás. No entanto, houve uma redução na produtividade das colheitas além da própria área plantada.

"O produtor está investindo em outros produtos que estão sendo mais demandados no mercado internacional, como a soja, o milho, a carne. E tivemos uma redução também nos plantios e as nossas colheitas foram reduzidas, o que não conseguiu manter o equilíbrio pra reabastecer os mercados do Brasil"
Odálio Girão
Analista de mercado da Ceasa

Safra do feijão

No caso do feijão, o que tem causado as expressivas altas é o comprometimento da safra do grão combinada com a alta demanda durante a pandemia. Produzido majoritariamente no Sul e Sudeste do País, o produto tem chegado aos mercados locais em quantidade reduzida.

Girão pontua que, com a chegada da safra de produtores secundários da Bahia, o feijão de corda teve o ritmo de aumento desacelerado, mas não o suficiente para retornar a patamares anteriores a setembro do ano passado.

Segundo ele, as chuvas irregulares foram um dos fatores que prejudicou a primeira colheita do feijão esse ano.

Já o supervisor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Reginaldo Aguiar, aponta que as áreas produtoras de feijão são predominantemente irrigadas, de forma que a falta de chuvas não iria interferir na produção.

Tendo isso em vista, a tese é que a alta do feijão tenha ocorrido a reboque do aumento do arroz no fenômeno chamado preços relativos.

"Quando o arroz, que é uma commodity, tem maior demanda internacional e fica mais caro, a manicure, por exemplo, precisa subir o preço do serviço dela pra conseguir manter o nível de consumo. Por conta da elevação de um preço, outros são contaminados", explica Aguiar.

Legenda: Com aumento de preços, cearenses trocaram arroz e feijão por cuscuz e macarrão.
Foto: Arquivo

Mudança de comportamento

O presidente da Associação Cearense de Supermercados (Acesu), Nidovando Pinheiro, confirma que as altas chegaram aos supermercados e que, principalmente no ano passado, foi possível observado uma mudança de preferência dos consumidores.

Com o arroz e feijão mais caros e o orçamento comprometido devido à pandemia, os clientes estavam preferindo a massa de milho para cuscuz e o macarrão.

"O consumo de arroz e feijão sofreu uma queda considerável e o que elevou as vendas foi a massa de milho e o macarrão. A gente percebia nitidamente que a dona de casa estava dando preferência a esses dois em detrimento do arroz e feijão"
Nidovando Pinheiro
Presidente da Acesu

Esse movimento se reverteu, no entanto, com a ascensão das commodities e a disparada do milho, que puxou o preço do cuscuz. "O macarrão também teve um reajuste, mas não tão significativo", acrescenta Pinheiro.

Perspectiva de baixas

As baixas recentes do dólar devem contribuir para a importação de um volume maior de arroz nos próximos meses, além de frear a alta das exportações. Segundo Girão, a cotação da moeda estadunidense em um patamar mais baixo, aliada a uma melhor safra, deve permitir uma redução dos preços a partir de meados de agosto.

Para o feijão, caso a segunda safra do grão tenha melhores resultados, os valores para o consumidor final também devem cair no segundo semestre.

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