Por que a cenoura, cebola e tomate são os vilões da inflação em Fortaleza?

O período de chuvas impactou diretamente na safra de leguminosas

Escrito por Heloisa Vasconcelos , heloisa.vasconcelos@svm.com.br
Legenda: As leguminosas foram afetadas diretamente pelo período de chuvas
Foto: Unidade de Arte SVM

A feira tem pesado mais no orçamento dos fortalezenses, sobretudo quando se trata de leguminosas. De acordo com dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o segmento de tubérculos, raízes e legumes teve alta de 14,53% em março e já acumula variação positiva de 66,06% em 12 meses. 

O maior destaque é a cenoura, que subiu 27,86% em março e já tem alta de 169,19% em 12 meses. A cebola subiu 16,48% no mês e o tomate, 12,28%, deixando a salada mais cara. 

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Os alimentos in natura, como frutas e legumes, têm uma inflação impactada pela sazonalidade das safras. Somado a isso, a alta nos combustíveis aumenta os custos de transportes, o que acaba sendo refletido no preço pago pelo consumidor nas gôndolas. 

De acordo com o analista de mercado da Centrais de Abastecimentos do Ceará (Ceasa), Odálio Girão, o período de chuvas influencia diretamente na produtividade por prejudicar colheitas de alimentos mais sensíveis. Apesar disso, ele garante que o estado tem um estoque suficiente, seja de produção local ou trazida de outros estados. 

O economista da FGV André Braz reitera que essa alta é temporária e que os preços devem ser regularizados a partir do próximo trimestre, quando tiver passado o período de chuvas. 

Cenoura 

Não foi apenas Fortaleza quem sentiu a alta da cenoura. O item teve variação acumulada de 166,17% no Brasil nos últimos 12 meses. 

Odálio explica que a situação decorre da quebra de safras em Minas Gerais em razão das chuvas. 

Houve uma quebra de safra por conta das chuvas e a cenoura entrou nesse ciclo de menores colheitas e o produtor não teve como mandar para os mercados uma quantidade maior para ter um preço melhor para o consumidor. Ela não caiu mais de preço porque não teve volume para abastecer os mercados do Nordeste
Odálio Girão
analista de mercado da Ceasa

Outra questão que se reflete nos preços é o custo dos fertilizantes, necessários para produtos de boa qualidade. Com a guerra na Ucrânia, a importação desses insumos se tornou mais limitada. 

“Subiu muito por ser derivado do petróleo. Esse embargo comercial que os países estão promovendo contra a Rússia vem encarecendo esse tipo de insumo agrícola no mundo inteiro, aqui não é exceção. Uma parte pode chegar ao campo, contaminando o preço dos produtos”, destaca André Braz. 

Cebola 

O principal local de produção da cebola no Ceará é o Vale do São Francisco, que está em um período de baixas colheitas. Sem uma safra expressiva, o mercado local depende da cebola vinda de outros estados e países, mas a produção de fora não foi o suficiente para atender a demanda. 

Além da baixa quantidade de produto no mercado, o aumento no preço dos combustíveis encareceu o frete, tornando a raiz mais cara. 

“A importação da cebola não se deu nesses últimos meses, tem a questão do frete para trazer cebola da Holanda e da Argentina. Nós estamos cuidando do nosso mercado interno com produtos nacionais mesmo, o ingresso de produtos internacionais não tem acontecido nos últimos meses”, coloca Odálio. 

Apesar de já acumular alta de 30,79% em 2022, a cebola tem variação de apenas 4,76% nos últimos 12 meses em Fortaleza, abaixo da inflação oficial. 

Tomate 

O tomate é o segundo item com a maior inflação acumulada em 12 meses em Fortaleza, com variação de 109,26% no valor durante o período.  

No Ceará, o tomate é produzido principalmente na Serra da Ibiapaba. Devido à produção local não ser suficiente, parte do produto consumido vem por meio das estradas de estados como Bahia e Goiás. 

A gente sabe que o diesel subiu muito, muitos itens são deslocados do campo para a cidade via rodovias, são os caminhões que transportam. Isso faz com que uma parte desses aumentos dos combustíveis também se materialize em aumentos de preços
André Braz
economista da FGV

Segundo ele, produtos alimentícios tendem a absorver mais o custo do frete por terem um menor valor agregado. Dessa forma, o transporte representa boa parte do custo logístico, repassado para o consumidor. 

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