Maia Júnior: Ceará precisa se apropriar da riqueza do hidrogênio verde para reduzir desigualdade

Convidado desta semana do Diálogo Econômico, o secretário do Desenvolvimento Econômico e Trabalho do Estado comenta o que se espera e planeja para a economia local nos próximos 30 anos

Escrito por Carolina Mesquita / Victor Ximenes , negocios@svm.com.br
Legenda: Maia Júnior, secretário do Desenvolvimento Econômico e Trabalho do Ceará, é o convidado desta semana do Diálogo Econômico.

Após anos de reestruturação e um processo de transição econômica, o Ceará começa a entrar em um ciclo virtuoso de desenvolvimento. Com potencial de crescimento em diversos segmentos que vão desde o agronegócio às energias renováveis, o Estado pode dobrar a renda da população até 2050.

O salto viria de investimentos privados, amparados e complementados pelo setor público, responsável por fornecer as condições ideais para a atração e desenvolvimento dos negócios de todos os portes, desde micro e pequenos a grandes empreendimentos.

Convidado desta semana do Diálogo Econômico, o secretário do Desenvolvimento Econômico e Trabalho do Estado, Maia Júnior, alerta, no entanto, para o direcionamento das riquezas produzidos nas próximas décadas.

Veja também

Ele pontua que os recursos advindos desse desenvolvimento precisam ser utilizados para a redução da desigualdade social, da pobreza e para a geração de oportunidades mais igualitárias à população cearense.

O gestor, que deve encerrar sua contribuição ao serviço público em 2022, também recorda os avanços já alcançados na história recente do Estado, desde a primeira grande transição de uma economia primária para uma industrial e a melhoria dos indicadores socioeconômicos que a acompanhou.

Confira a entrevista completa:

Por onde se anda, investidores e empresários elogiam a economia do Ceará, a abertura que o Ceará tem para os investidores, a estabilidade financeira, etc. O que levou o Ceará a esse nível de maturidade?

Primeiro, acho importante colocar a continuidade dos governos. Isso foi muito importante. O Ceará fez uma disrupção em sua política e na sua governança em 1986 com a eleição do Tasso Jereissatti que foi muito importante para essas transformações que a gente começa a alcançar. 

O Tasso não foi só um grande governante, ele tinha visão estratégica, visão de futuro, era uma pessoa muito bem informada, muito bem relacionada, e organizou um novo modelo para romper com aquele ciclo que o Ceará vinha. 

Essa mudança, a construção de um modelo, de um planejamento estratégico, não só de curto prazo, porque tinham ações imediatas que precisavam ser organizadas no Estado. Por exemplo, o Estado tinha atraso com fornecedores, era a realidade daquela época, atraso de três meses da folha de pagamento dos servidores, tinha perdido completamente sua credibilidade, sem falar em péssimos indicadores econômicos. 

Esse modelo que o Tasso desenhou no primeiro ano, que buscou exatamente racionalizar e equalizar essa situação, sobretudo devolver ao Estado a credibilidade, devolver a capacidade do Estado honrar seus compromissos, do Estado retomar uma capacidade de investimento na busca de uma solidez fiscal, se tornou uma cultura do Estado. 

Quer dizer, o Estado, a partir daí, passou a ter eficiência na gestão pública, foi protagonista na gestão pública, na gestão fiscal, e começou a se organizar os grandes desafios, na educação, na saúde pública.

O Ceará, naquela época, tinha taxas muito elevadas de mortalidade infantil, que superavam mais de 100 óbitos de crianças pra cada 1 mil nascidos. Hoje essa taxa não chega a 10, 12 por 1 mil. 

O Ceará tinha naquela época, além desses graves problemas, uma vida média inferior a 50 anos de longevidade. Esses números hoje são da ordem de 74 anos. São números que melhoraram bastante. 

Na questão da educação, (tinha-se) o elevado número da taxa de analfabetismo, a quantidade de anos de estudo. Hoje, um cearense já alcança em média o mesmo que os países desenvolvidos, 13, 14 anos de estudo. Naquela época, não se chegava a 5, 6 anos de estudo. 

A universalização do ensino para crianças de 0 a 14 anos. Isso também foi muito importante, porque sinalizava anular essa taxa de analfabetismo para os mais jovens, uma geração nova alfabetizada era o grande sinal. 

Então, profundas mudanças não só na educação básica, mas na educação superior, investimentos em infraestrutura na área de educação, de saúde, a reconstrução de uma rede de educação e de saúde, foi muito importante. 

A estruturação da área de segurança, a infraestrutura, foi um trabalho iniciado pelo Tasso. A implantação dos primeiros projetos não só de recuperação, mas de ampliação da malha rodoviária, os projetos estruturantes importantes como o Porto (do Pecém), o novo aeroporto, as duplicações rodoviárias, foram projetos estruturantes para uma transformação do Ceará, uma melhoria de equipamentos na logística. 

E os primeiros avanços importantes na área de recursos hídricos. A seca que assolava o Estado tinha muito fortes repercussões na falta de um abastecimento de água de boa qualidade, que terminava na falta de tratamento de água e ampliava o problema de saúde. Então, recursos hídricos, a área de saneamento básico foram pontos importantes, inclusive pra saúde da população. 

Ainda temos desafios na área de saneamento básico, ainda temos uma taxa de pessoas que não tem acesso à rede de esgoto, mas melhorou muito nos últimos 30 anos.

Na telefonia, hoje a facilidade com que a gente está se comunicando. Com a estruturação, isso também ajudou o processo de privatização do setor de telecomunicações do Brasil. Hoje, nós estamos conversando online com qualquer pessoa do Estado do Ceará, a informação chega rápida pra todos, com a internet e essa transferência de dados, 

O Ceará é hoje o terceiro estado de melhor conectividade do País. Além de ser base de um hub tecnológico de toda uma infraestrutura pra hardware e software e suporte e desenvolvimento de negócios em telecomunicações e TI. 

A gente colocou uma marca de estruturação do hub tecnológico do Ceará, que não é nada mais que a disponibilidade de dados que são transferidos com muita rapidez pelas redes de fibra ótica, que hoje conectam praticamente todo o Ceará, além de conectar o Ceará e o Brasil com o mundo. 

O Ceará é o segundo maior entroncamento de cabos óticos submarinos, só perde pro Japão. 

Então, essa infraestrutura, a conquista de um aperfeiçoamento do aparato público no sentido de simplificar, de dar ao ambiente de negócios a percepção de que era bom investir no Ceará, pela credibilidade, pela continuidade desses governos, um dos principais pontos do momento que a gente começa viver, atribuo à continuidade.

Legenda: Secretário de desenvolvimento econômico do Ceará, Maia Júnior falou sobre os planos para atrair um novo terminal de gás natural para o Porto do Pecém
Foto: Thiago Gadelha

O projeto que o Tasso modelou continuado por governadores que o sucederam é sem dúvida nenhuma o maior predicado, na minha opinião, e complementaria isso o acerto dessas políticas públicas que listei: recursos hídricos, infraestrutura de uma forma geral, educação, uma rede que a gente não tinha de inovação, ciências e tecnologia, a melhora da gestão e eficiência da gestão pública, um maior nível de profissionalização das estruturas públicas, ampliação da oferta de serviços em todas as áreas.

Hoje um cearense tem uma rede de estradas pavimentadas da melhor qualidade. Eu lembro que liderei, trabalhando com o Tasso no segundo governo dele, em 1995, a construção do acesso pavimentado às últimas 27 cidades que não tinham estrada pavimentada para você chegar até lá. Isso tudo foram melhoras significativas. 

Então, o acerto das políticas públicas e a sua continuidade liderada por governantes que deixaram aquela posição mesquinha que a gente ainda presencia na política do Brasil. Aqui, deixou de se discutir que o que um fez quatro anos antes eu tenho que destruir quatro anos depois para poder implementar uma marca personalista. 

Isso, lógico, veio com o amadurecimento por conta da melhoria da educação da própria população, do compromisso com a ética, com a moral na política. O Ceará, por mais que a oposição queira, não tem escândalos que a gente possa se envergonhar de um governante. 

Logicamente, com a liberdade necessária, com a autonomia que é dada a todo governante eleito, cada um teve a capacidade de organizar boas equipes, de desenvolver planos de melhorias às principais políticas públicas e eu diria que ao longo desses anos todas as políticas têm que continuar aperfeiçoando pro futuro, melhorando sempre. Todo ano a gente tem que construir um passo novo. 

Tem ainda muitos desafios a serem superados na área das desigualdades, somos um Estado muito desigual. E na área da pobreza, a gente ainda precisa de uma forte ação de alguns anos pela frente destinada a reduzir a pobreza a níveis, pelo menos, razoáveis como têm nas nações desenvolvidas. 

O senhor acha que o Ceará pode se tornar a maior economia do Nordeste? Em quanto tempo?

Eu acho que o Ceará encontrou um caminho onde ele pode dar saltos maiores na sua economia. O Ceará há muito precisava fazer uma transição para uma economia, como está acontecendo em todo mundo, com maior base de valor agregado, com melhor renda, com oportunidades de melhor valor, para exatamente atingir aquela ideia de aumentar a renda média. 

Você se forma, você quer ganhar um salário mais razoável. Se não tiver uma economia que lhe pague isso, você vai embora, vai migrar. Eu até presenciei um debate em um grupo de economistas que o assunto era a quantidade de alunos que o Ceará mais uma vez conseguiu aprovar para o ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica). E eles queriam saber o que acontecia no ensino daqui, que passou a ser o primeiro em aprovação do ITA. 

Isso foi uma etapa importante que a gente venceu com a qualidade das escolas. É uma guerra de investimento entre as escolas buscando os melhores alunos que existem nas escolas do Ceará e até de estados vizinhos, ofertando oportunidades de bolsa. Houve investimento da escola privada do Ceará para atrair esses talentos para participar desses concursos do ITA, do IME (Instituto Militar de Engenharia). 

Eu entrei na discussão dizendo que isso é muito importante, mas muito mais importante é termos uma economia que possa reter esses talentos, que vão fazer o curso do ITA e voltem, e também que possa, além de reter, abrir oportunidades para essas pessoas voltarem para o Estado. 

Tem muita gente muito qualificada, não só no Brasil, no Sul e Sudeste, mas fora do Brasil, que na hora que a gente estruturar uma economia capaz de gerar uma boa renda, vão voltar.

A volta dessas pessoas dá um empurrão muito grande em uma das necessidades do desenvolvimento que é o capital humano, a melhoria de pessoas qualificadas mais produtivas.

Porque um dos grandes desafios que a economia do Ceará tem é a inserção internacional, que só vai acontecer se nós tivermos uma mão de obra de alta produtividade, o que tornará as empresas do Ceará competitivas. 

A gente tem que pensar a economia do Ceará fora da poligonal do Estado. Temos que olhar para essa competição regional, que é uma expectativa de superação: quando vamos ultrapassar a economia de Pernambuco e, quem sabe, a economia da Bahia, e a gente possa com isso criar oportunidades melhores no mercado de trabalho para esses talentos cearenses. 

Mas respondendo diretamente a sua pergunta, eu acho que o Ceará caminha hoje muito mais célere em termos de crescimento que Pernambuco e a Bahia.

Eu fiz uma análise do PIB de todos esses estados nos últimos 20 anos e acho a Bahia bastante descolada. Depois do período da revolução, sobretudo com a chegada do polo petroquímico, a Bahia descolou muito. Também fizeram uma política pública de turismo muito profissional e competente. Depois conseguiu fábrica de automóveis, de papel e celulose, a Bahia cresceu muito e descolou do Ceará e de Pernambuco. 

Mas vejo o Ceará com capacidade, dentro da visão do Ceará 2050, que prevê um crescimento econômico onde a gente possa igualar a participação do Estado no PIB nacional, que deve alcançar em 2021 algo em torno de 2,29%,  à participação da população, que é de 4,35% do ponto de vista demográfico. 

O grande desafio do Ceará 2050 é igualar essa participação do PIB brasileiro à participação da demografia: a gente crescer de 2,29% para 4,35%. Se isso acontecer, dobra a renda.

Esse é um primeiro grande efeito. E dobrar a renda significa que os salários vão melhorar, a oferta de oportunidades vai melhorar, o Estado crescer bem mais.

Quais são as metas para a economia do Ceará em relação à nacional?

A meta do Ceará 2050 é alcançar isso em 30 anos se conseguirmos crescer mais que o Brasil a uma taxa de 2,5%. Por exemplo, se o Brasil crescer 4% e o Ceará crescer 6,5%, nós vamos levar 30 anos pra alcançar isso. 

Mas se nós conseguirmos crescer 4% acima do Brasil, a gente vai abreviar esse tempo e podemos alcançar essas taxas iguais com aproximadamente 20 anos. E se a gente crescer como cresceu a China, acima do Brasil em torno de 6%, a gente pode alcançar isso em 10 anos. 

A gente sabe que crescer 6% mais que o Brasil, pra que isso acontecesse, a gente teria que primeiro ter um projeto de Brasil, porque a economia regional não crescerá se não tivermos um projeto nacional. Era preciso um projeto com grandes volumes de investimento no Nordeste para alcançar essa velocidade. 

Eu prefiro trabalhar com um horizonte de 20 a 30 anos pra gente alcançar essa meta, que já seria significativo, seria um período super virtuoso.

Legenda: Usinas termelétricas são mais acionadas para evitar sobrecarga no Sistema Integrado Nacional
Foto: Antônio Azevedo/Diário do Nordeste

Hoje, é possível sonhar grande com esses projetos que estão sendo estruturados de transição econômica. O grande desafio desse trabalho que estruturamos é fazer uma transição econômica do Estado: sair de uma economia pouco competitiva, de uma economia de baixíssimo valor agregado, de baixíssimo nível de conhecimento para uma economia de bases tecnológicas, de altíssimo nível de conhecimento, de maior produtividade para competir internacionalmente. 

A gente precisa multiplicar o número de empresas, por exemplo, como a siderúrgica, que exporta hoje 70% do que produz. É preciso a gente ter uma economia mais ampla na inserção internacional. Pra isso, precisamos melhorar ainda mais nossa base em ciência e tecnologia, aplicar mais recursos nessa área, que vai ser o grande desafio do próximo governador, além de manter os investimentos em infraestrutura e continuar aprimorando.

O Ceará possui hoje quatro hubs (aéreo, portuário, de telecomunicações, H2V). Quais outras áreas que o Ceará tem potencial para se tornar referência também?

É preciso que a gente aproveite esse amadurecimento dessas políticas públicas e agressivamente possa buscar fazer essa transição econômica, que vai vir primeiro com as economias novas que estamos introduzindo: o hub tecnológico, as principais empresas do Vale do Silício estão aqui desenvolvendo software, estão oferencendo hardware, armazenamento em nuvem. 

Esse hub tecnológico foi um desenho novo que a gente fez, fruto da infraestrutura que tínhamos construído, Cinturão Digital, esses cabos ópticos, e já atraímos 12 data centers para o Ceará, mais de três cabos ópticos novos, a expansão do Cinturão Digital, essa é uma economia nova no Ceará, mas altamente qualificada e de tecnologia de altíssimo nível. 

Essa transição energética, as energias renováveis. Estamos introduzindo na economia do Ceará agora a geração offshore, que carrega empresas de fabricação de equipamentos na cadeia. Só fábrica de aerogeradores de offshore nós já temos uma assinada protocolo, uma empresa chinesa, e estamos em negociação com mais duas. 

Essa indústria de offshore é gigantesca. Então, implantar um processo de produção foi um grande desafio do Ceará nesses últimos 25 anos, porque o Ceará importava 100% da energia, hoje o Ceará exporta energia. Nós hoje já temos implantados 5,1 GW de energia, que é quase três vezes o consumo do Estado, o resto é exportado. 

Mais com essa termelétrica que ganhamos em dezembro no leilão da Aneel e com essa forte geração que vai acontecer por conta do hidrogênio verde, o Ceará pode chegar a ter 40 GW de geração de energia implantados para suprir o mercado, o gride nacional, pra suprir o mercado livre e pra suprir o mercado de hidrogênio que está se criando. 

Então, essa transição de aumentar a geração e a estrutura de capital dessa indústria de energias renováveis, o hidrogênio verde, que o Ceará pode ser um grande exportador e um dos principais players do mundo pelas condições que tem. Já temos 14 protocolos assinados na área, temos outros três finalizados para assinar em fevereiro e mais três em finais de negociação. O Ceará pode chegar a 20 protocolos com grandes empresas globais na área. 

Esse projeto da térmica, que será a quarta do Estado e deve consumir 2,7 milhões de metros cúbicos de gás por dia, vai viabilizar um hub de gás natural, para garantir o suprimento no Ceará, com investimentos em terminais de regaseificação. 

Essa estruturação de uma economia de comunicações e TI, que é o hub tecnológico; essa estruturação da economia de energias com o hubs de gás natural  e de hidrogênio; a logística que é uma economia nova e também está sendo implantada no Ceará, várias empresas que fazem transporte de mercadorias rodoviário ou marítimo estão se instalando no Ceará. Essa estrutura nova com a economia da saúde, que está um pouco mais atrás, mas que a gente está trabalhando, vai criar um patamar novo na economia do Ceará se toda implantada e vai fazer o processo de velocidade de crescimento do Ceará ser mais rápido e robusto. 

Mas nós estamos também trabalhando a velha economia. Estamos tentando retrofitar a indústria calçadista que está em forte expansão devido às dificuldades comerciais entre Estados Unidos e a China. Isso foi bom pro Ceará. A briga dos Estados Unidos nessas questões comerciais, sobretudo afetando a produção de calçado dos chineses, sobrou para o nosso crescimento. 

Já anunciamos fábrica nova da Grendene no Crato, ampliação da Dilly, ampliação da Paquetá, pra citar apenas algumas. Quase toda indústria do Ceará está se expandindo. A indústria têxtil e confecção tem resistido, estamos também trabalhando a retrofitagem. 

O agro é uma economia que evoluiu. O Ceará está como o maior exportador de pescados, o segundo maior do Nordeste de fruticultura, é o maior número também dos últimos 10 anos de exportação de frutas e do agro cearense, chegamos a US$ 2,7 bilhões de exportação em 2021 com uma grande diversidade de frutas. 

Hoje o Ceará produz, fruto de pesquisa, quase 25 culturas diferentes. Quem imaginava o Ceará produzindo uva, maçã, mirtilo, pitaya, avocado, houve uma grande diversidade de fruticultura. Na área de hortaliças, nós temos projetos importantes, como a produção de tomate na Ibiapaba, de folhas hidropônicas, brócolis, pimentões de alto valor agregado. 

Tivemos um forte crescimento na profissionalização e industrialização da economia do mar. O Ceará em processamento de atum chegou a crescer 147% em 2021 as exportações. Chegamos a exportar quase US$ 12 milhões em conserva de peixe. 

Mel de abelha o Ceará chegou a exportar mais de US$ 20 milhões. Crescemos muito a parte de pescado, não só peixe por conta do atum, mas lagosta também, camarão.  Uma nova agricultura está surgindo com um alto nível de pesquisa, de tecnologia, de manejo. 

Legenda: Para atrair mais investimentos e garantir as condições necessárias ao desenvolvimento dos negócios, Maia Júnior liderou uma reestruturação da organização pública estadual.
Foto: Thiago Gadelha

O turismo continua sendo um carro-chefe, aos poucos está se recuperando. Um trabalho que o secretário Arialdo (Pinho) faz não só de infraestrutura, mas na oferta dos hubs no novo aeroporto comandados pelas companhias aéreas. Chegamos a ter 48 voos internacionais por semana e 140 voos da Gol e Latam diários saindo de Fortaleza. 

O Ceará está se fortalecendo muito. O governador vai lançar uma série de equipamentos na área cultural para fortalecer o calendário turístico do Estado, são museus importantes, como o Museu de Imagem e do Som, a Estação das Artes, que se junta com o Dragão do Mar, que se junta com o Centro Cultural lá no Crato que está em construção. 

Avançamos muito em criar uma plataforma que permita o turista ficar mais dias e não vir aqui só para tomar sol. Ter uma estrutura cultural, a nossa diversidade, a nossa gastronomia que tem melhorado regionalmente, essa infraestrutura turística imobiliária está surgindo um número importante de hotéis.

No âmbito do fomento, a nova Adece está com um perfil mais voltado a essa posição de financiador, mudança que faz parte de uma reestruturação maior. O que motivou esse redesenho?

Para fortalecer tudo isso, nós estruturamos uma secretaria altamente qualificada, montamos um time de pessoas focadas e preparadas para fazer esse trabalho ativo de atração, procuramos dar a essa secretaria padrões internacionais, como agora quando a gente trouxe para o Centro de Eventos 95% da economia. 

Os empresários não precisam mais sair perambulando de órgão a órgão. Tudo da economia se resolve hoje no Centro de Eventos. Ali não foi só uma base física, mas se mudou e aperfeiçoou o arranjo institucional. As leis e decretos necessários para atrair empreendimentos. 

Trabalhar, além da estratégia, treinamento e capacitação de pessoas adequadas; digitalizar essas secretarias, para que o empresário não precise nem ir lá para fazer seu desenvolvimento. 

Essa reestruturação do background necessário para atender esse crescimento através, sobretudo, de fortes ferramentas como planejamento e gestão, isso é muito importante. 

Foi muito importante também trabalhar o ambiente de negócios, reestruturar a burocracia procurando simplificar, desburocratizar, reestruturando a área ambiental para dar mais agilidade aos licenciamentos ambientais.

Nessa visão de transversalidade ao Estado, trazendo todo esse aparato de uma rede de tecnologia e inovação, que são as nossas universidades, para o centro do processo, preparar o ambiente do Ceará para que o empresário perceba que o Estado está organizado para oferecer facilidade ao empreendedor. 

Nós temos que acolher o empreendedor, ele tem que encontrar facilidades adequadas para ele decidir pelo Ceará. Da recepção dessas pessoas à conclusão de um protocolo, nós temos que ser muito profissionais, temos que saber atender e saber oferecer conhecimento para ajudar a montar os projetos e escolher o Ceará. 

Essa consolidação e medidas políticas importantes, por exemplo, a economia do Ceará só olhava para os grandes e médios negócios. A política de incentivo, o FDI (Fundo de Desenvolvimento Industrial), o incentivo patrimonial e o regime tributário, que é um grande volume de incentivos para estimular negócios aqui no Ceará, só atendiam os grandes e os médios. 

Aí a gente faz uma grande inversão, que é criando uma secretaria executiva de empreendedorismo e trabalho e uma de comércio, serviços e inovação, a gente mostra para o mercado que nós vamos priorizar os micro e pequenos negócios

A gente olha pra pirâmide econômica, a gente está trabalhando hoje com políticas de incentivo em todos os níveis. Pra reestruturar isso, tivemos que fazer uma reestruturação completa na Adece

A Adece vira uma grande operadora dessas políticas, fazendo o fomento dessas atividades econômicas nesses níveis: vulneráveis, micro e pequenos, médios e grandes. Nós temos R$ 110 milhões para aplicar ao longo desse ano e hoje nós temos uma demanda de 67 mil empreendodores novos no Ceará Credi. 

Esses esforços que foram feitos na modernização da economia do Ceará, de decisões políticas importantes, como a implantação de uma ambiência nova de negócios, como a atenção diferente para a economia dos pequenos, trouxeram resultados precocemente, como na geração de emprego, no crescimento do PIB, na abertura de empresas no Ceará, na balança comercial.
 

Eu fico agradecido do govenador entender a necessidade dessa transição econômica. O Ceará teve uma grande transição com Virgílio Távora (governador do Estado entre os anos de 1963 e 1966), quando tirou o Estado de uma economia primária para uma industrial. Os governadores seguintes, dando continuidade, fizeram que o Ceará continuasse crescendo. 

Mas o Camilo queria um crescimento maior. Pra isso, tinha que apoiar e ajudar a equipe que ele montou para fazer essa reestruturação, que eu diria que é a segundo maior transição econômica que se está em busca no Ceará, sair de uma economia criada na época do Virgílio, mas de baixo valor agregado, para uma economia que tenha valor agregado maior, baseada em outra estrutura de conhecimento. 

Qual é a opinião do senhor em relação aos benefícios fiscais?

Tem-se uma economia que se criou desde o período colonial e que se precisa mudar o mindset, que é uma economia sustentada em incentivo fiscal. Incentivo tem que virar um fomento pelo mercado. 

As empresas estão se financiando no mercado, não é com dinheiro público. O incentivo fiscal é uma ferramenta para compensar as diferenças de uma região para outra, por exemplo, capital humano. Tem estados que possuem uma estrutura de capital humano muito melhor que os estados nordestinos. 

Outro ponto importante é a rede de inovação e tecnologia. O Ceará tem hoje oito universidades da melhor qualidade, mais de uma centena de faculdades, 34 IFCEs, é uma baita estrutura, além do Sistema S e das escolas profissionalizantes. 

Isso é importante para as empresas, porque vão ter acesso à tecnologia, à pesquisa, a conhecimento, porque as universidades são as grandes produtoras de conhecimento. 

Essa aproximação, que a gente chama no mercado de tripla hélice, olha uma economia para se desenvolver em cima de uma lógica de demanda, porque quem faz não são só as condições adequadas, mas esse conjunto, está formando uma nova base econômica no Ceará. 

A chegada de grandes empresas é fruto dessa estrutura que vai ajudar o Ceará a ter uma economia menor dependente de subsídios. Esse é um ponto que eu luto muito, acho que tem que ir amortecendo pra aumentar o fluxo de giro desse capital público que financia o desenvolvimento. 

Isso ficou durante muitos anos na mão de poucos. Precisa-se ampliar o acesso para outras empresas que estão vindo para cá e precisam crescer. E precisam se financiar também os pequenos negócios e oferecer infraestrutura que eles não tinham. 

Legenda: Além das novas atividades, como o hidrogênio verde, o Estado segue incentivando a expansão de cadeias já consolidadas, como a calçadista.
Foto: Rayane Oliveira/Fiec

Após todos esses anos de trabalho, o Ceará parece estar entrando em um ciclo virtuoso de desenvolvimento. A que precisamos ficar atentos para que essa tendência não perca força?

Uma preocupação muito grande que eu tenho é que essa riqueza que pode advir do hidrogênio verde e das energias renováveis, principalmente, é que a gente tem que ter um cuidado muito grande com a apropriação dessa riqueza. Essa riqueza não pode, como desde o período colonial vem sendo, ser apropriada pelo corporativismo público e pelo corporativismo privado. 

Nós temos que nos apropriar dessas riquezas. O Estado tem todo o cuidado para compensar essas diferenças sociais. Quando digo compensar, não é criar um programa de renda, isso já tem. É ofertar a essas gerações futuras uma melhor escola, dar aos jovens a esperança de quado se formarem terem um bom emprego, de viverem dignamente, de morarem muito bem. 

A gente precisa se apropriar dessa riqueza para resolver essas compensações e diferenças que formam um quadro muito elevado de pobreza e de desigualdade. A gente tem que se apropriar dessas riquezas para construir um Estado de oportunidade para todos, que todos possam viver bem. 

E um ponto dessa transposição socioeconômica é a educação. Minha mãe migrou para o Ceará sem emprego, meus avós já não tinham condições. Minha mãe viveu uma vida pobre, criou os seis filhos em cima de uma máquina de costura. 

Eu brinco com meus amigos falando da minha evolução: o filho de uma costureira que acessou boas escolas, boas universidades, que vive uma realidade completamente diferente da que eu nasci e que chegou a vice-governador do Estado do Ceará. 

O único predicado que me conduziu a isso foi a educação. Agora, estudei, vi que não poderia ser um aluno mais ou menos, porque eu tinha uma diferença enorme pra competir com os mais ricos. Mas criei, estudando em boas escolas, um network, um ciclo de relacionamento que me ajudou muito na vida. 

Eu estudava com bolsa de estudo. Não podia perder o ano, porque se não perdia a bolsa. Nem todos tiveram a oportunidade que eu tive, naquela época, de acessar uma boa escola, que era a luta da minha mãe. 

Minha mãe tinha duas grandes virtudes: ofereceu a todos os filhos uma boa escola, batia na porta de Assembleia para arranjar bolsa de deputado federal, que eram as boas bolsas daquela época; e nunca deixou de dar a nenhum filho as três refeições do dia. Era simples, mas a gente todo dia tomava café, todo dia almoçava e todo dia jantava. 

Isso é uma coisa que eu agradeço muito, porque não passei fome, podia ter passado, não deixei de estudar, e hoje tenho uma vida muito diferente da que foi a minha infância e adolescente. 

A gente precisa criar oportunidades como essa para todos, para todos terem condição de ter bem-estar, de ter esperança de criar a família de forma adequada. 

Então, o Ceará tem que ter esse cuidado, da continuidade, não podemos retroceder. Essa geração de futuros governantes tem que saber se apropriar e fazer boa escolhas com essas riquezas que o Ceará pode construir nos próximos 30 anos. Nós podemos dar uma grande virada nesse período. 

Agora, não podemos deixar que quem se apropriou a vida inteira tomar de conta desses recursos, porque ainda teve no passado um momento em que as pessoas não queriam pagar impostos, uma sonegação absurda, usurpando de direitos, benefícios e privilégios do Estado. 

Essa nova geração não pode permitir que essa riqueza seja apropriada pelos mesmos, que sempre estão ali arrodeando os governos pelo poder que tem perante os governantes. As corporações, politicamente, são muito fortes. 

Você imagina que uma corporação de serviço público exerce uma pressão muito grande pra se apropriar desses recursos. E o Estado teve uma conquista grande que foi limitar o gasto com pessoal, com custeio, para o Estado poder investir mais. 

O Estado tem que ter capacidade de riqueza para investir e pra compensar algumas deficiências, sobretudo a pobreza e a redução de desigualdades, a preservação do meio ambiente. 

O Ceará precisa ter muito cuidado em avançar e em como vai se apropriar dessa riqueza pra distribuir ela corretamente e diminuir essa desigualdade. 

Newsletter

Escolha suas newsletters favoritas e mantenha-se informado
Assuntos Relacionados