Energia renovável é ponto forte do Brasil em ranking mundial; Ceará tem oportunidade de protagonismo

País ocupa a 62ª posição no levantamento com 67 países

Escrito por Mariana Lemos , mariana.lemos@svm.com.br
parque de energia eólica
Legenda: Brasil é bem avaliado em energia renovável em ranking mundial de competitividade
Foto: Thiago Gadelha

O Brasil é um dos piores países no Ranking Mundial de Competitividade do International Institute for Management Development (IMD). O ranking mostra as condições oferecidas pelos países para que as empresas que atuam neles tenham sucesso nacional e internacionalmente. O Brasil ocupa a 62ª posição no levantamento com 67 países. 

Os dez piores classificados são compostos majoritariamente por países da América Latina e África.

Abaixo do Brasil, estão Peru, Nigéria, Gana, Argentina e Venezuela. Em comparação com a edição anterior do ranking, o Brasil perdeu duas posições, com piora em eficiência governamental e infraestrutura. 

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Apesar da piora em infraestrutura, o Brasil se destacou no indicador de energias renováveis, ocupando a 5ª posição.

“Esse setor está em expansão devido à redução de custos de equipamentos eólicos e solares e a incentivos, como condições de financiamento menos exigentes e subsídios. Em 2023, 93,1% de toda energia elétrica produzida no Brasil vieram de fontes renováveis”, destaca o estudo.

Pioneirismo nos investimentos

O consultor em energia Adão Linhares aponta que a forte competitividade do Brasil no setor energético se deve ao pioneirismo nos investimentos, que ocorrem desde antes da corrida pela transição energética.

“O etanol já faz parte da matriz energética há bastante tempo, da mesma forma o biodiesel. A gente tem uma matriz que é exemplar. São poucos os países que têm uma característica de participação de renováveis como o Brasil”, aponta.

O protagonismo brasileiro na matriz energética é resultado principalmente do potencial dos estados do Nordeste, sobretudo o Ceará, afirma Linhares.

“Se eu preciso fazer hidrogênio de energia renovável, onde é que a gente tem o melhor lugar do mundo? No Nordeste. Quando a gente olha para o Nordeste, é o Ceará, devido a outra vantagem competitiva, que é a logística” afirma. 

Já Joaquim Rolim, especialista em energia para o Nordeste do Instituto Clima e Sociedade (iCS), afirma que o país pode aproveitar melhor os recursos naturais que dispõe investindo em produtos verdes. 

"Importante mostrar que temos dois cases distintos no país: em energia eólica se conseguiu desenvolver bem a cadeia produtiva, com a implantação de indústrias. Já na energia solar o mercado se desenvolveu à base de importações massiva. O Brasil possui diversidade energética enorme. Com um plano estratégico bem delineado pode aproveitar as oportunidades existentes, pois o mundo demanda pela transição energética", comenta.

O resultado do país no indicador de energia renovável pode ser ainda melhor, já que o potencial renovável é 17 vezes superior às necessidades previstas até 2050, segundo Joaquim Rolim.

O especialista destaca que regulamentações em curso no Congresso Nacional tratam de recursos a serem aprimorados, como o hidrogênio verde e as usinas eólicas offshore.

Destaques negativos para educação e gestão

O pior resultado registrado pelo Brasil foi em eficiência empresarial - 61º lugar. Um dos pontos mostra que o Brasil deve ter atenção em educação, dívida corporativa e habilidades financeiras.

Em relação à educação básica e secundária, o Brasil ficou em penúltimo lugar entre os 67 países. O ranking considera que o país precisa investir nas infraestruturas escolares e na formação e remuneração adequada dos professores.

“Segundo a PNAD Contínua realizada pelo IBGE, 8,8 milhões de brasileiros de 18 a 29 anos não terminaram o ensino médio e não frequentam nenhuma instituição de educação básica”, ressalta. 

O mau-desempenho do Brasil nos indicadores de educação é reflexo da histórica má distribuição dos gastos públicos, aponta Julio Racchumi Romero, professor do departamento de Estudos Interdisciplinares da Universidade Federal do Ceará (UFC).

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“Embora a gente tenha investimento em porcentagem, em relação ao PIB, na média do mundo, em relação à distribuição fica aquém. Além disso, tem um problema da execução dos gastos públicos”, aponta.

O especialista afirma que baixa qualidade dos investimentos em educação é refletida em outros indicadores de educação. O Brasil está entre os 20 piores países no ranking Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) e tem taxa de analfabetismo acima da média, exemplifica o professor.

Associado a tudo isso, temos os cortes na educação realizados nos últimos anos. Temos a PEC do teto de gastos, que mudou, mas temos cortes também feitos às universidades, falta de investimentos em tecnologia. Tudo isso vai contribuindo para esse mau desempenho. E isso não é algo novo". 
Julio Racchumi Romero
Professor do departamento de Estudos Interdisciplinares da Universidade Federal do Ceará (UFC)

Julio Racchumi Romero destaca a urgência de aplicação de políticas públicas sustentáveis, com retornos a médio e logo prazo.

“Se a gente analisa a quantidade de políticas e programas educacionais em cada governo, você vê que sempre tem uma quebra, não existe uma continuidade. Precisa-se pensar melhor em políticas contínuas, que instantaneamente não vão dar resultado, porque é um processo”, comenta. 

Relatório de competitividade

O relatório posiciona a competitividade das nações a partir de desempenho econômico, eficiência governamental, eficiência empresarial e infraestrutura. São 336 indicadores mensurados a partir da coleta de dados estatísticos em fontes nacionais e internacionais e de uma pesquisa de opinião com executivos e especialistas. 

Singapura lidera o ranking, seguida por Suíça, Dinamarca, Irlanda e Hong Kong. O IMD destaca que todos esses países têm economias pequenas, mas conseguiram os resultados por possuírem boa infraestrutura institucional e boa utilização de mercados e parceiros comerciais. 

 

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